Comerciantes explicam as dificuldades em encontrar colaboradores qualificados e enumeram quais são as mudanças que podem ser feitas para solucionar este problema
O Centro de Bento é repleto de comércios, de lojas, de restaurantes e também, o local escolhido por grandes marcas para expor seus produtos. Centenas de pessoas passam por lá, as ruas são tomadas de gente independente do dia da semana. Entretanto, aqueles que empreendem no Centro, tem notado uma dificuldade em encontrar colaboradores que atendam os pré-requisitos, que não são muitos, para trabalhar nestes locais. Já os frequentadores gostam muito de lá, principalmente dos eventos culturais que ocorrem, mas quando o assunto é estacionamento deixa a desejar.
A falta de mão de obra qualificada
Lisete Pires é sócia proprietária de uma loja de moda masculina, o local que existe há mais de 80 anos, está indo para a terceira geração da família, e segundo Lisete, está cada dia melhor. “Este ano as vendas subiram, estão boas e positivas, sentimos acréscimo. Para nós está sendo um bom ano, o que tem nos motivado cada vez mais” e complementa o que acredita ser o motivo. “Um mix de produtos bem acertado e de qualidade. A clientela está aumentando, além dos que já tínhamos, estamos captando mais”, relata.
Ela acredita que o que está faltando no momento é um aumento no quadro de funcionários, mas constata que não está sendo tão simples. “Nós temos necessidade de uma mão de obra mais qualificada, vem muita gente à procura de emprego, às vezes nem trazem currículo, o que acho muito estranho. E não são qualificados. A gente está sentindo falta, quer contratar mais gente, mas não encontramos as pessoas que atendam os requisitos”, responde.
Inelve Munari vive o mesmo drama, após trabalhar 27 anos como funcionária de uma loja e se apaixonar pelo comércio e pela venda, comprou o estabelecimento após surgir a proposta e se tornou proprietária. Assim como Lisete, ela vem encontrando muita dificuldade em achar um funcionário que seja esforçado. “A mão de obra está péssima, estamos em busca de funcionários e não conseguimos. O número de currículos que recebemos é muito alto, mas não querem trabalhar sábado, ou imaginam algo do comércio que é ilusório e não gostam de lidar com público. Além disso, tem muita gente de fora, eles vêm às vezes e após 30 dias desaparecem sem explicações. Está bem complicado”, declara.
Baixa nas vendas
Além disso, outra preocupação que Inelve tem enfrentado é a economia, ela tem sentido as vendas ruins e isso está lhe deixando bastante apreensiva. “As vendas diminuíram bastante. Até o ano passado, um pouco antes das eleições, estava indo muito bem o comércio, e caiu gradativamente. Até aumentou a mercadoria, mas sentimos que o povo está sem dinheiro. Nós temos boas condições de pagamento, trabalhamos com produtos de qualidade, então ficamos sem saber o que está acontecendo”, expressa.
Beatriz Palharini, gerente de loja, também está apreensiva com o fraco movimento de vendas, mesmo facilitando tudo o que dá para o consumidor, os números não estão positivos. “As vendas estão estranhas, está bem difícil. Acredito que seja pelo tempo que pegou todo mundo de surpresa, o pessoal está bem inseguro nas compras, está difícil. As vendas diminuíram bastante, fazemos promoções, tentamos motivar o cliente, mas eles não estão comprando como antes, todos os anos atingíamos metas todos os meses e neste ano não conseguimos”, explana.
Quem frequenta
Por conta de o Centro ser o local onde tem tudo, muitas pessoas precisam utilizá-lo para necessidades básicas como ir a consultas médicas, mas muitas também vão para visitar as lojas e fazer compras. Fora que, há diversos restaurantes e cafeterias que chamam a atenção. Beatriz Baldassareli é um desses casos, que vai ao Centro pois é lá onde ela realiza as tarefas que precisa. “Gosto do Centro, venho geralmente uma vez por semana. É remédio, roupa, médico. Vou ser franca, gosto de vir e ir para a praça, curtir o tempo. Não sou muito de ficar olhando vitrine, nem sou de frequentar shoppings, vou em lojas normais e depois passo para tomar um cafezinho na padaria”, destaca.
Para ela que vai de ônibus, acaba não tendo a dificuldade de procurar estacionamento e relata que o transporte público tem estado bastante positivo. “Venho de ônibus e está sendo muito bom, pego no Santa Marta, desço no terminal e depois volto. O horário é bom, e não ficamos horas esperando ônibus”, exalta.
Elisabeth Polezel é aposentada e aproveita seus dias de tranquilidade para ir até o Centro olhar o movimento e conhecer novas lojas e lugares. “Gosto de passear, olhar as vitrines, tem muitas opções. Essa parte perto da prefeitura é a que eu mais gosto, sempre é movimentada e tem eventos culturais. Por mim estou sempre em volta, aposentado é assim, não tem o que fazer, sai para passear e se divertir. Venho mais para fazer compras e passear mesmo”, acrescenta.
Quando Elisabeth vai para lá, prefere ir com seu veículo próprio, e acredita que há horários que existe mais trânsito, mas que não é uma realidade de sempre. E a falta de vagas de estacionamento não é algo que lhe incomode, afinal, os estacionamentos particulares facilitam bastante. “Venho de carro, tem vezes perto do meio dia ou no final da tarde que é muito cheio, mas no resto é normal. Acabo pagando estacionamento privado, pois para mim é complicado ficar dando volta atrás de uma vaga, então deixo lá e não preciso ficar me preocupando”, expressa.
Elaine Ribas é residente de Pinto Bandeira, mas trabalha como governanta em Bento Gonçalves, cidade a qual adora, principalmente o Centro. “Gosto muito dessa parte da prefeitura, da praça, porque é legal de passear com as crianças, meus dois filhos amam. Assim como o shopping que sempre os levo e eles se divertem muito”, finaliza.
Trânsito complicado e sem estacionamento
Valmir Vasques é aposentado, tem 72 anos e frequenta o Centro com bastante frequência. Ele acredita que lá é onde tem a maior concentração de pessoas. “O forte do comércio está aqui e é bom para a gente se distrair, ver pessoas e trocar energia. A melhor parte para mim é a gastronomia, tem muitos restaurantes bons, então não tem erro. As vezes preciso fazer compras, pagar contas, venho direto para cá por isso”, explica.
Ele entende que a falta de vagas e a circulação de carros é complicada, mas compreende também que para uma cidade do tamanho de Bento seria impossível se tivesse menos. “Hoje não dá para dizer que é muito trânsito, a população de Bento cresceu demais, até que a cidade está suportando o nível da população e de carros. Isso é normal, não vai se encontrar nenhuma cidade do mesmo porte que seja diferente. Em 1970 encontrava lugares para estacionar, agora isso não existe. Mas o lado bom é que tem muitas garagens, são privadas, mas não precisa ficar rodando com o carro em busca de uma vaga”, esclarece.
A maquiadora Paloma de Lima também acredita que está parte torna o Centro um pouco caótico. “O trânsito me incomoda muito, as ruas são estreitas e no horário de pico engarrafa bastante. E para estacionar está cruel, porque ou paga em alguma das garagens ou não estaciona, porque achar na rua uma vaga vazia é muito difícil”, admite.
Mas Paloma também consegue enxergar diversas características positivas que fazem com o que Centro seja bastante habitado. “É bem diversificado, tem várias lojas, gosto muito da praça, ela sempre está bem decorada, chama bastante gente de fora o que para a cidade é bom. Mas faltam algumas coisas para ser completo, só que entendo a dificuldade de manter. Como banheiros, por exemplo, que já teve em outras épocas e não foi bem cuidado pela população”, expõe.
Cursos de aperfeiçoamento
Sobre a mão de obra qualificada, é quase que unânime o desejo e a dificuldade de encontrar bons colaboradores, para isso, a solução que os lojistas pensaram é que as entidades parceiras abram mais cursos de qualificação na área do comércio, principalmente com o foco em atendimento ao público. “Precisam fazer cursos gratuitos que ensinem as técnicas de logística e atendimento ao público, e quem poderia auxiliar essas atividades são o Sindilojas e CDL”, explica a gerente, Marciana Leseux.
Ela pede por isso pois sente muitos impasses na hora de contratar alguém. “Estamos com muita dificuldade para contratar, nosso requisito é o ensino médio completo, então aí já começa a dificultar. Outra coisa é que o pessoal não quer trabalhar final de semana, o sábado precisa vir, não temos como abrir mão disso. E final de ano trabalhamos até domingo e mais horas, porque é muito movimento”, indica.
Quem sente a falta de qualificação também é a organizadora de uma loja, Tereza Campos. Ela espera que abram estes cursos pois está cada dia mais complicado precisar de funcionários e não encontrar. “Tem pouca mão de obra qualificada no mercado, é difícil hoje em dia contratar alguém que está pronto. Deveria ter mais cursos, palestras, para o colaborador das lojas para saber melhor atender e coisas do gênero. Acredito que mão de obra em todos os sentidos precisa de mais qualificação”, pontua.
Tereza acredita que quem poderia dar estes cursos gratuitamente são as entidades que apoiam o comércio. “O Sindilojas, o CDL deveria abrir mais cursos. Este ano não fomos chamados para nenhum curso ou palestra, e o comércio todo precisa de qualificação. O cliente hoje em dia está mais exigente, ele quer mais qualidade, que as pessoas entendam bem do produto. Nós estamos bem com as nossas colaboradoras, mas contratar uma nova funcionária está complicado. Quando pegamos um currículo é uma coisa, na entrevista é outra e na experiência é que vamos como a pessoa é. E quem é muito bom já está contratado”, argumenta.
A administração do Piazza Salton, um dos shoppings localizados no Centro, relata que há dificuldade em conseguir mão de obra qualificada, mas traz sugestões que podem melhorar. “As empresas precisam dedicar mais em treinamento para o seu time, valorização e retenção de seus pares, munir-se de material e informações sobre seus produtos. Hoje com as ferramentas que temos como WhatsApp e grupos internos, podem ser grandes aliados para melhorar a relação empresa e colaborador”, finaliza.