O ano de 2023 iniciou com a mudança do governo federal o que acendeu debates sobre temas que afetam diretamente os trabalhadores, como mudanças na base do salário mínimo, leis trabalhistas e outros benefícios.
Sendo o polo moveleiro um dos mais representativos de Bento Gonçalves, com mais de 300 empresas e cerca de 6,7 mil pessoas empregadas no segmento, a presidente do Sindicato da Indústrias da Construção e do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sitracom-BG), Adriana Machado de Assis, avalia o cenário socioeconômico do país.
Questionada sobre a situação econmica brasileira, Adriana acredita que a reforma trabalhista, realizada em 2017, aumentou as desigualdades. “A economia hoje se baseia em termos financeiros com mais de 30 milhões de brasileiros passando fome e esse é um dos reflexos na classe trabalhadora”, aponta.
Com relação ao novo governo, ela se mostra otimista. “Acreditamos na recuperação da ‘esperança’ da população perante o combate das desigualdades. Através de investimentos nas áreas sociais, esperamos que o país volte a sair do mapa da fome e que o atual governo possa promover mais justiça social”, declara.
Empregos e qualificação profissional
Adriana compartilha da visão que a instrução deve ser voltada para um conhecimento que gere transformação profissional, intelectual e consciência coletiva. “Investir em educação e em qualificação profissional é importante para que o trabalhador consiga fazer frente às exigências do mercado, mas também é importante considerar aquela pessoa que tem muita experiência e não teve oportunidade de formação e hoje o mercado não o valoriza. No sentido geral, o capital não tem medo de quem passa fome, mas sim daqueles que tem conhecimento”, salienta.
Direitos trabalhistas
Conforme a presidente, as discussões em torno dos direitos trabalhistas devem ter a participação efetiva dos legítimos representantes da classe. “O que não podemos aceitar que só o capital decida sobre os direitos de nós, trabalhadores. Acreditamos que os benefícios jamais serão um empecilho para a perda de empregos. O capital capta a tecnologia mundial e não os direitos dos empregados. Neste sentido, temos conhecimento de países que já alteraram para 36h ou 40h a carga semanal, provando assim uma maior satisfação dos trabalhadores, e mais produtividade e lucro da empresa”, analisa.
Para ela, o trabalhador ainda carece de pontos importantes. “Emprego e salário digno, educação de qualidade, direito à moradia e ao lazer com segurança”, destaca.
Jovens trabalhadores
Adriana acredita que, a partir de 2023, o jovem irá trilhar um novo caminho rumo à esperança de um país de igualdade e justiça social. “Voltaremos a ter políticas públicas voltadas aos jovens, para que eles tenham a possibilidade de quando forem em busca do primeiro emprego, possam dizer ‘eu tenho experiência e tenho todos os requisitos para assumir essa vaga’”, ressalta.
Mudança no Imposto de Renda
A presidente se mostra desfavorável às alterações que têm sido propostas no Imposto de Renda (IR). “Se não for tomada uma medida drástica na correção da tabela que está sem alteração desde de governos anteriores, todos os salários normativos das categorias do nosso sindicato já têm pagamento de IR. Para nós é uma vergonha o trabalhador ser comparado com os donos do capital”, enfatiza.
Economia municipal
Sobre a cenário municipal, Adriana compartilha a visão de que é “economia de primeiro mundo e salários de terceiro mundo, infelizmente”, pondera.
Atuação no sindicato
Adriana finaliza apontando que, neste ano, espera avançar em ações voltadas aos trabalhadores. “Nos últimos anos, temos somente resistido aos ataques dos dois governos anteriores, que nos tiraram a força de combater a classe privilegiada, no qual diretamente e propositadamente favoreceu o capital. A esperança de 2023 é de reverter toda essa situação e podermos voltarmos as ruas para lutar por direitos da classe trabalhadora e avanços do povo para um país melhor”, conclui.
Visão da indústria
Representando mais de 300 empresas do segmento na região, a presidente do Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis-BG), Gisele Dalla Costa, também avaliou o panorama nacional.
Sobre a economia brasileira, ela avalia como instável, assim como em outros países. “Vemos empresas abrindo e crescendo, mas, ao mesmo tempo, outras fecham ou demitem funcionários. O momento é delicado e obviamente impacta a classe trabalhadora, mas o mercado aponta perspectiva de retomada a médio e longo prazo em alguns setores”, analisa.
Com relação as recentes mudanças no executivo federal, Gisele espera que seja uma gestão que fomente os negócios e à geração de empregos. “Independentemente do governo em exercício, entre as pautas importantes estão o estímulo ao crédito e a redução das taxas de juros, pois esses são fatores que ajudam a aumentar o poder de compra da população, beneficiando tanto a indústria e o varejo quanto a geração de novos postos de trabalho”, salienta.
Direitos dos trabalhadores
Para Gisele, a reforma trabalhista trouxe um avanço significativo nas relações entre empresas e trabalhadores. “Ela deu mais segurança jurídica para os empregadores sem retirar direitos dos empregados. Havia muito receio de que ia precarizar as relações, mas isso não aconteceu. Por isso, seria uma pena se neste momento houvesse algum retrocesso nesse sentido”, avalia.
Ainda sobre os direitos dos trabalhadores, ela afirma que todo brasileiro deveria ter um melhor retorno do Estado em relação aos impostos pagos, como mais acesso à educação, serviço público de saúde, segurança, entre outros. “Seja por acordos trabalhistas, por iniciativa das empresas, o setor privado muitas vezes acaba suprindo demandas que, na verdade, deveriam ser cumpridas pelo governo”, considera.
Economia da Capital do Vinho
A visão da presidente sobre a economia bento-gonçalvense é de diversidade e potencial de crescimento. “Bento Gonçalves se destaca na economia do Rio Grande do Sul com o polo moveleiro, a vitivinicultura e o turismo, dentre outros segmentos com potencial de crescer mais. Essa diversidade para um município do interior do estado é importante, evitando a dependência de um único segmento. Mesmo que haja algumas demandas não atendidas, a classe trabalhadora é qualificada de modo geral e possui expertise para atuar nos principais setores econômicos de Bento Gonçalves”.
Jovens trabalhadores
Relacionado aos jovens profissionais, a titular da entidade reitera a importância da capacitação. “Sempre vai haver mercado de trabalho para jovens trabalhadores, mas é importante que eles tenham consciência sobre a importância da qualificação, ou seja, precisam continuar estudando. Especialmente numa realidade próxima de indústria 4.0, vamos precisar cada vez mais de profissionais minimamente qualificados. Além de cursos técnicos para atuar em áreas específicas, é interessante também olhar mais para cursos de empreendedorismo, porque alguns vão querer ter seus próprios negócios”, elucida.
Mudanças no IR
Questionada sobre as mudanças no Imposto de Renda, Gisele avalia da seguinte forma: “entendemos que é necessário aumentar o limite de renda mensal a partir do qual o trabalhador paga Imposto de Renda, crescendo assim seu poder aquisitivo. Como esse limite é definido em lei, cabe ao Congresso e ao Governo definirem oportunamente um teto mais elevado e justo ao trabalhador”, finaliza.