O Empresário e Presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Bento Gonçalves (Simmmme), Juarez Piva, tem uma vasta trajetória profissional pautada pelo sucesso.
Formado em administração, Piva começou a trabalhar como entregador de jornal, posteriormente, após atuar por 16 anos em uma empresa, fundou a Piva Comércio e Indústria LTDA, que abriu as portas em 1989. A empresa fabrica acessórios de alta qualidade para móveis.
Na entrevista abaixo, Piva fala sobre visão economia do país, Estado e município, além do cenário no mercado de trabalho na área de metalmecânica.
Jornal Semanário: Como está o setor metalmecânico? Evolução em 2019 e perspectivas para 2020?
Juarez Piva: No início de 2019 tínhamos perspectivas muito melhores do que quando encerrou. Acreditávamos que as reformas no congresso andariam mais rápido, que as coisas fossem mais prudentes, mais sérias, mas as reformas demoraram muito e isso acarretou em uma perda de confiança.
Notamos que de janeiro a maio o setor veio crescendo, mas quando chegou em junho, parou, desceu e ficou até o final do ano. Não teve grandes melhoras, ficou estagnado. Parece que as pessoas pisaram com os dois pés no freio. Por falta de confiança, de perspectivas. Para as pessoas do nosso setor que vivem de investimentos faltava recursos, credibilidade, vontade, enfim, parece que o empresariado concluiu que não valia mais a pena ficar insistindo no que não dava retorno. Sentimos isso drasticamente.
Percebemos principalmente que as indústrias do nosso setor foram para o mercado internacional, estão exportando para toda América Latina, Estados Unidos e Europa.
Para 2020 percebemos uma mudança de cultura que foi a redução dos juros. Esperamos que fique, porque isso gera interesse de investir novamente, seja na construção civil, na indústria ou na infraestrutura.
Notamos que as pessoas estão migrando para uma nova consciência de investimentos. Aquela pessoa que ia só no banco e aplicava em CDB (Certificado de Depósito Bancário) ou na poupança, já está olhando para a bolsa de valores, gerando dinheiro com custo mais propício para as indústrias investirem e isso está dando uma nova visão de Brasil que nós não tínhamos.
Nota-se que 2020 vai ser diferente e que o Brasil vai para um novo caminho. Esperamos que seja de crescimento sustentável para que possamos ter uma geração de renda mais uniforme para que todos possam aproveitar esse potencial.
Estamos otimistas sim. Começamos o ano bem. Percebemos que a demanda da mão de obra mais especializada já vem crescendo. Já se nota as empresas preocupadas com essa formação que as universidades têm que fazer, que as escolas têm que proporcionar.
JS: Principais necessidades da indústria a nível municipal, estadual e federal?
JP: Tem a questão da infraestrutura, que não é só para o empresariado, mas é a vida de cada cidadão. Andar na estrada tem que ser mais seguro para os nossos filhos, e para qualquer pessoa. Precisam ser sinalizadas, demarcadas e sem buracos. Quando a gente sai, não sabemos se olhamos para o movimento ou para os buracos. Isso em nível nacional, todo Brasil está no mesmo sucateamento.
Há quanto tempo estamos falando da reforma tributária? Não estamos nem falando de redução de impostos, nem estamos pedindo isso, apenas a simplificação das leis, acabar com a burocracia, para que seja entendível para qualquer pessoa o que é nosso sistema tributário brasileiro, que nem eu, nem os contadores conseguem entender e quem sabe nem o próprio governo e os órgãos que trabalham conseguem entender de tão burocrático, de tantas leis, tantos parágrafos que foram colocando. Precisamos de um Brasil mais livre, transparente e negociável.
Dizemos que os companheiros da Europa, Estados Unidos e China não conseguem entender o Brasil e tem medo pela insegurança jurídica que temos aqui. Os contratos não valem, a lei não vale, cai na justiça e cada juiz dá uma sentença e aí as pessoas não entendem, não compreendem e não querem vir ao Brasil por causa disso.
Queremos tranquilidade jurídica permanente, sabendo o que é hoje, amanhã e daqui vinte anos, mas isso não acontece, porque só se fala em projeto de governo, mas projeto de Estado não se fala.
Estado, ou município e federação que seja sempre a mesma regra e que não mudem cada vez que entra alguém novo, criando novas normas, novas burocracias porque assim nós vamos nos perder no caminho, sucateando nossas indústrias, isso é perigoso porque acabamos nos torando um belo país de importados e quando um país se torna só de importados, é um país que não cresce e nosso jovem não tem oportunidade de se desenvolver ao ponto de que a maior tristeza nossa é ver nossos jovens indo embora. Cada pouco é um. É o filho de um indo para a Europa, depois é o filho de outro indo para os Estados Unidos, ou Árabes. E nós, com esse território, com tanta coisa por fazer, perdendo a criatividade dos jovens que vão embora para trabalhar de garçom. Com tanta coisa para desenvolver aqui, isso nos deixa triste.
A nível municipal precisamos que a infraestrutura seja melhor, que o município comece a pensar urgentemente em um anel viário, em algo para melhorar os acessos. Temos o acesso da entrada do município que há anos se discute e não sai.
Tem que se pensar nas rodovias mais largas porque as indústrias estão espalhadas no município, agregando valor, gerando impostos e precisam ser atendidas nessa demanda.
A nossa geografia aqui não é muito benevolente. É de sobe e desce. O município tem que se preocupar com isso, tem que melhorar a situação de pensar como vai ser isso.
A preocupação nossa é de favorecer as indústrias, de pensar nelas e quem sabe o próprio município agregar algo dos impostos municipais para dar segurança aos que estão crescendo e para quem está aqui há anos.
Bento tem a vantagem de que 90% das empresas são de médio, pequeno e micro porte. São empresas que geram emprego, tecnologia. Embora não sejam empresas de grande porte, são solidas, pequenas, bem estruturadas, com tecnologia, com equipamentos e isso nos deixa muito alegre.
JS: Mercado de trabalho no setor metalmecânico?
JP: O mercado de trabalho está com faltas de profissionais para atender a demanda que vem vindo. Tem vagas de empregos e faltam profissionais qualificados.
Existia uma moda que veio do mundo de que os profissionais há cada três ou quatro anos tinham que mudar de empresa. Com isso esses trabalhadores não se fixaram em lugar nenhum para crescimento e nota-se que as pessoas não têm capacidade de envolvimento, de equipe, de time, de debate. As pessoas têm que ser mais enraizadas para que realmente possam crescer e se desenvolver por vinte, trinta anos. Não criar raízes em uma empresa é uma particularidade do Brasil que tem que mudar.
Outro ponto é a formação das escolas, principalmente em matemática e português. As universidades têm que se preocupar com o que sai de lá. Não adianta se preocupar com o canudo, mas sim com o profissional que sai. As universidades precisam ser mais conectadas com o público externo e mais cobradoras dos alunos, mais exigentes com suas atividades.
Os jovens precisam entender que um profissional não se faz do dia para a noite, tem tempo de amadurecimento em todos os locais. A vida nos ensina conforme passam os anos.
JS: Sua visão do desenvolvimento econômico, social e cultural de Bento Gonçalves?
JP: Para o desenvolvimento econômico de Bento Gonçalves, temos três setores: metalomecânico, do vinho e existe o potencial do turismo que vem crescendo. Entendemos que esse mecanismo é bom porque não depende de um. Alguns municípios estão calcados apenas em um movimento. Temos essa particularidade de sermos uma microrregião realmente italiana, percebemos isso pelos nossos empreendedores que fizeram e fazem belas empresas e na economia percebemos isso.
Bento Gonçalves reclama muito da falta de cultura, mas quando tem alguma oportunidade, ninguém comparece. Temos um conflito. Quando tem algo, os bento-gonçalveses não se interessam em ir, de participar e aproveitar o ambiente. Temos uma bola Casa das Artes, podíamos ter mais teatro e oportunidades. Se houvesse público na Casa das Artes participando, com certeza as peças de teatro viriam para cá.
As vinícolas fazem turismo particular ou se reúnem, mas é especifico para isso.
Percebe-se que Bento nos últimos anos tem melhorado a gastronomia, mas ainda faltam pratos, comidas diferentes porque isso agrega produtos e serviços e visitantes diferentes. Bento precisa pensar em uma gastronomia um pouco mais elaborada, diferenciada para que a população que vem não fique tão limitada. Crescimento do turismo não é a quantidade que vem para cá, mas quanto retorno fica aqui, quanto de economia circulou por aqui, porque tudo que eu percebo se resume a visita em duas cantinas, passeio de maria fumaça, algum almoço por aqui ou Garibaldi e depois vão para Gramado, vem de manhã e voltam de noite, entram, fazem uma visita e vão embora. Bento tem que entender que não é turismo que passa, mas aquele que se estabelece aqui. Não entram na cidade, não vão no Caminhos de Pedra. Cada um foi se desenvolvendo, sobrevivendo, achou seu caminho.
Acho que é importante dar uma divulgação maior ao Caminhos de Pedra, porque é uma proposta diferente, outra cultura, com outro turista. O município podia pensar um pouco mais no Caminhos de Pedra e enxergar de forma diferente, divulgar com mais potencialidade, mostrando o que tem lá de diferente. Isso nos ajuda a ser mais diversificados e mais gente vem e fica, participa.
Bento Gonçalves tem algo maravilhoso: o povo que realmente gosta dos turistas, atendem e eles adoram a cidade pelo atendimento. Temos que valorizar aquilo que temos, que é da terra.
JS: O que o senhor defende como prioritário em Bento Gonçalves: ampliação da rodoviária do parque; término da ligação Esteio – Gravataí; duplicação da São Vendelino; ou duplicação da Bento – Farroupilha? Fale a respeito
JP: Defendo todas. São muitos anos na mesma condição. A duplicação da rodovia do parque nem se comenta o quanto isso vai reduzir de transporte, de imposto, de custo para cada um e para a população que está em Canoas e ao redor e para nós também vai ser muito melhor.
A duplicação da São Vendelino não foi feita mais nada. É a mesma rodovia. Aumentou o número de carros e continuamos com a mesma rodovia.
Bento a Garibaldi e Farroupilha é um crime.
Quantos os carros melhoraram em tecnologia e segurança? Evoluíram muito e as estradas não acompanharam em nada, regrediram.
Todas essas demandas são necessárias e que precisam acontecer urgentemente. Nossa contribuição com impostos estamos fazendo e esperando que o retorno venha da mesma maneira. Temos que brigar para que aconteçam todas, que se coloque em um cronograma com qual vai começar. Às vezes é feito um pedaço, param e não sai daquele gargalo.
Se tivesse que escolher uma para começar escolheria a duplicação da São Vendelino. Tem de ser feita urgentemente, a primeira.
JS: O aeroporto de Vila Oliveira e o Porto de Arroio do Sal ou Torres? Sua visão a respeito.
JP: O Porto, único que pode sair pelo menos a parte técnica, seria o do Arroio do Sal e ficou muito claro para o governo que seria de iniciativa privada, que as empresas que faria, bancariam e que seria bom para nossa região que tanto precisa.
O aeroporto de Vila Oliveira os municípios mais próximos se engajaram, estão desapropriando as terras, vão fazer, vai andar, não vai agregar muito para a região de Bento Gonçalves, vai ficar mais curto ir para Porto Alegre, não vai ter uma demanda bem atendida para todos, isso já está decretado.
Torres a medição de profundidade não permite.
JS: Bolsonaro – Leite – Pasin, interprete seus governos.
JP: O governo Bolsonaro ele tem suas ideias, particularidades, convicções e ele é realmente muito firme nisso. Está mostrando que está agindo conforme fez a campanha, não está fugindo, continua igual, não mudou de discurso. Precisávamos de uma guinada e a população achou que tínhamos que ir para outro lado e realmente votou, foi muito expressivo, então ele continua muito empenhado. O primeiro ano foi positivo, mas podia ser melhor, mais articulado, mas é uma particularidade dele, ele bate o pé e vai tocando o Brasil, mas é a proposta dele e quem votou nele sabia desse caminho e que o país está passando por um processo de mudança que está acontecendo no resto do mundo. O Bolsonaro tem muita coisa para fazer no Brasil. O ministério dele tem pessoas muito capacitadas estrategicamente, com conhecimento.
O Eduardo Leite conseguiu aprovar algumas mudanças, acho que foram positivas. O Estado está caminhando para uma cultura melhor, pelo menos quando ele disse que não queria o segundo mandato, se posicionou que veio para fazer as mudanças necessárias ao Estado. Ele é muito bem articulado, tem que fazer um passo de evolução do Rio Grande do Sul do que éramos para o que podemos ser, deixar de olhar o passado e pensar no futuro e no que queremos ser. Tem muito para ser feito no Rio Grande do Sul, o Governo mal começou com as reformas que tanto precisam ser feitas. Espero que nossa Assembleia pense no Estado e em toda população que precisa se desenvolver.
O Pasin nos últimos quatro anos está repetindo o governo dos anteriores, vem se mantendo nessa linha, desenvolvendo. Precisa ser um pouco mais arrojado em termos de desenvolvimento para Bento Gonçalves. Já está no fim do mandato, então vai ser mais difícil, não tem muito tempo. Fez o mandado em cima do que entendia, achava que era capaz e que Bento merecia e fez sua administração com os pés no chão, não fez nenhuma controvérsia grande. É bem articulado com a Câmara de Vereadores, todos os projetos que mandou passaram, não teve nenhuma rejeição, então isso é um mérito dele. Bento precisa de uma visão mais arrojada de desenvolvimento em todos os setores. São muitas demandas: sociais, estruturais, enfim. Ainda estamos discutindo o tratamento de esgoto e tem que deixar claro para a população quem vai pagar porque não deixaram muito claro e agora vai dar esse problema. Temos que ser mais transparentes com a população sobre o que vai acontecer.
JS: Qual sua visão do contexto econômico do país? Reformas levadas a efeito e reformas projetadas?
JP: Faz alguns anos a gente está batendo na mesma tecla de que precisamos continuar com a modernização trabalhista, não pode parar, já andamos e foram passos suscetíveis e bons para o Brasil, mas precisamos melhorar.
É preciso dar mais liberdade ao empreendedor e ao trabalhador que precisam sentar e negociar e cada um saber o que precisa ser feito, para que assumam suas responsabilidades de um lado e do outro, sem ter paternalismo. O mundo não é mais esse. As informações estão na mesma, todo mundo tem as mesmas oportunidades.
Outro ponto que passamos é a reforma da previdência, mas ainda não é suficiente, já estão discutindo que daqui dez, quinze anos vai ter que ser feita de novo, mas pelo menos saiu.
A reforma tributária faz anos que estamos discutindo para melhorar o ambiente de impostos para toda população brasileira. É engraçado como o povo ainda acha que o problema é do empresariado, do governo. As pessoas têm que entender que o governo somos todos nós. O problema do empresariado é só um, ele vai repassar no preço, vai cair na gôndola do mercado, onde todos nós somos consumidores e sentimos no bolso.
Agora estão discutindo o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), mas faz anos que os empresários dizem que não dá mais para a carga tributária no Brasil ser suportada, mas não é por causa da empresa e sim pelo trabalhador, pelo nosso colega, pelo povo brasileiro. Não cabe mais no bolso da população brasileira esse custo.
Não é mais possível ter marajás do serviço público recebendo uma fortuna até quando morre enquanto o resto da população não consegue se aposentar com R$5 mil por mês.
JS: Combustíveis, dólar, política de exportação, tributos e reflexo disso tudo no desenvolvimento industrial ou junto ao mercado consumidor.
JP: O combustível foi positivo quando o Temer deixou que fosse feito o mercado livre, que o combustível andasse como anda no mercado internacional. A liberdade econômica do combustível, mesmo que seja uma bagunça para nós entendermos, deu uma tranquilidade para quem realmente zela pela população. Também achamos que é preciso dar liberdade para ter empresas concorrendo com a própria Petrobras, que seja livre o comércio, que tenha o preço do mercado internacional, mas que tenha empresas livre para ter mais empresas para produzir e entregar o combustível e não só a Petrobras.
O dólar é positivo para exportação, mas o Brasil é muito dependente de importação, as pessoas não imaginam que 90% da base da agricultura é importada e isso impacta no custo de todos. O Brasil precisa ter uma moeda mais equilibrada, seja para exportação ou para não gerarmos tantos custos aos brasileiros. O Brasil ainda não é muito exportador. As indústrias brasileiras precisam ter capacidade de competir com as asiáticas, americanas, europeias. O dólar vai impactar muito na cadeia produtiva brasileira.
O brasil é campeão em tributos, não simplifica, não melhora. Esperamos que a reforma tributária que está no congresso há alguns anos realmente saia. Estamos apoiando a reforma que está apoiada no Congresso e não a do Senado porque tem alguns pontos melhores.
JS: Qual sua visão sobre o lucro bilionário do Banrisul de 1,344 bilhão?
JP: Acho que o Banrisul se profissionalizou nos últimos anos. Isso é mérito dos últimos governos, das diretorias que vieram pensando no banco, dos próprios funcionários que entenderam que é preciso pensar como instituição financeira, de gerar retorno para a população, porque o lucro na verdade fica para o povo, é estatal, então tem que ser dividido com o povo, acho que aproveitar isso e aumentar a capacidade de financiamento das indústrias do Rio Grande do Sul.
Se compararmos com o lucro dos outros bancos, não é tão bilionário, comparado com ele mesmo é bom, é positivo e está mostrando crescimento profissional de toda corporação do Banrisul. As diretorias estão pensando em trabalhar como instituição financeira que gera resultado para o povo do Rio Grande do Sul e isso é bom.
JS: Governo Leite fechou 2019 com déficit de R$3,88 bilhões. Na sua visão, quais as causas que levaram o Estado a essa derrocada e, também na sua opinião, que princípios e diretrizes o senhor estabeleceria para uma melhora?
JP: O que levou a esse déficit é o custo da folha de pagamento do Estado. Não tem como aguentar essa folha. A previdência do funcionário do Estado deu rombo maior do que o investimento em saúde no Estado. Toda saúde do Estado não teve o dinheiro que tivemos que botar na previdência dos funcionários públicos e isso é absurdo. Estamos há anos sem ter grandes investimentos e se vem, foram feitos por empréstimos, não sai do Estado sem financiamento. Com as reformas vai melhorar, mas vai demorar pelo menos cinco anos para começarmos a perceber retorno para a sociedade.
Um ponto positivo que talvez vai ajudar o Estado será se realmente acontecer o crescimento econômico, porque daí melhora a capacidade de todos os Estados e municípios de começarem a gerar, mas é preciso entender que a geração de caixa não significa geração de mais despesas. Temos que pensar em ter mais dinheiro para gerar retorno para a sociedade, nas suas demandas.
JS: Os problemas de logística junto aos custos do produto industrial. A falta de transporte ferroviário, fluvial e a carência das estradas.
JP: Temos que fazer um excesso de proteção do nosso produto para que chegue na casa do cliente protegido e aí começa o custo.
Estamos fora do roteiro de ferrovia. Quantos anos não é feito investimento em ferrovias? São dez anos perdidos, sem ter feito nada. Temos que voltar a ter transporte, seja de matérias primas ou de pessoas. Se tivéssemos um trem de Bento para Porto Alegre, quem iria de carro? A ferrovia tem que ser aproveitada. O brasil precisa ter essa matriz.
Sobre o marítimo nós lembramos que tínhamos o porto em Estrela que se utilizava e que foi abandonado.
Temos tudo pronto: água, ferrovias abandonadas, capacidade e gente, são 210 milhões de habitantes, então temos público para consumir o transporte e nunca foi investido nesse setor, se deu preferência para as rodovias, para os caminhões e carros e se esqueceu de investir em estradas que foram abandonadas.
Só se fala em fazer pedágios e a demanda de impostos continua igual, pagamos, mas não temos mais estradas. Parece que algo não está combinando com o desenvolvimento do Brasil. Se eu vou pagar pedágio, mereço ter desconto no IPVA. Não sou contra pedágios, mas tem que ter redução de impostos na demanda.
JS: O senhor que já militou, administrou, contribuiu de maneira importante com entidades assistenciais em Bento, qual sua visão dos problemas de segurança e de inclusão social que estamos enfrentando em Bento? Como poderemos conseguir uma sociedade melhor, com futuro melhor para a juventude e crianças?
JP: Precisamos fazer uma articulação melhor de entendermos os problemas sociais de Bento Gonçalves. Temos que entender o que realmente precisamos fazer para a sociedade mais vulnerável, entender o que eles precisam e não é simplesmente dando. Podemos dar o anzol, a vara, a isca e ensinar a pescar e não simplesmente deixar acomodado. Teria que ser o poder público, as entidades, todos pensando o que precisamos fazer.
Temos diversas entidades que fazem trabalhos maravilhosos. A preocupação é de fazer, mas precisamos dar um passo adiante, de como diminuir e não apenas manter. Como vamos diminuir isso? Como vamos atacar os problemas de drogas, violência, de ausência na sala de aula, de confrontos? O que realmente vai agregar? Todos devem ser cadastrados, mostrados, com as necessidades vistas.
Tem pessoas que estão na pobreza que tem vontade e as vezes uma ajuda é o céu para elas. Pobreza não significa mal elemento e nem bandido. É uma pessoa com muito respeito, ética. Talvez só precisamos fazer um cadastro, ver quem são essas pessoas, o que cada um necessita e o que faz a diferença para cada um. Bento tem muitas oportunidades, escolas técnicas. Temos que nos articular para inserir eles na sociedade, mas a primeira demanda é entender e para isso é preciso visitar casa a casa, cadastrar.
Bento não tem mais problemas sociais porque tem muita gente voluntariada que realmente se preocupa com o próximo, é um caso atípico, o amor ao próximo de fazer. Precisa se articular entre todas entidades o que fazer e como fazer.
JS: Que conselhos você daria para um trabalhador e para uma pessoa que quer ser empreendedora?
JP: Para o trabalhador dou o mesmo conselho que dou para mim mesmo: vontade de crescer, de fazer. Não existe nenhum ser humano que veio para essa missão na terra que não seja realmente de fazer algo, gerar algo para o próximo ou em qualquer situação. Que ele entre de corpo e alma no que vai fazer. Que estude, que aproveite e assuma os desafios, certo ou errado, estamos aqui para aprender. Que queira crescer.
Para o empreendedor é preciso ter paixão de querer fazer, porque com tanto dificuldade que existe no Brasil, com tantos empecilhos. Eu levo a premissa de que quando alguém está subindo, está sempre levando alguém junto. Quanto mais alguém sobe, mais pessoas vão subir e que todos possam realmente aproveitar essa escada maravilhosa para chegar ao topo.
JS: O senhor tem medo de que a inflação volte? Por que?
JP: O medo da inflação voltar é o custo que isso representa para cada um que viveu no passado, que sabe o que isso representou e o poder aquisitivo das pessoas que realmente não tinham. Por isso, temos essa preocupação.
A segunda preocupação é porque a população que hoje está com trinta anos não conheceu a inflação. Ainda existe a raiz da inflação com os mais velhos, que ainda entendem e acham que essa é a solução. Ainda estamos em fase de purificação da inflação. O Brasil não saiu ainda do conceito de inflação e isso preocupa. Quem sofre é a população com menos recursos. Temos é que diminuir a inflação. Os mais novos não precisam saber o que foi isso.
JS: O senhor tem pretensões políticas?
JP: Todos os empreendedores e todas as pessoas precisam ter pretensões políticas para que realmente façam diferença em todos os ambientes que se encontram, de participar, debater, contribuir, trocar ideias. Sempre convido a todos que vivam a política, a troca de ideias.
A gente sempre tem que pensar no melhor para a população, no crescimento, mesmo que fora de um cargo, mas sendo participativo, debatendo e brigando porque precisamos desenvolver a sociedade de forma igualitária, pacifica e principalmente de crescimento.
Não devemos ser alienados à política, mas temos que participar com conhecimento e demandas, não as minhas, mas da população. A política é um lugar muito propicio aos debates.
Enfim, estamos conversando, discutindo, sempre abertos para conversações. Estamos tentando construir o melhor para Bento Gonçalves e não o melhor para mim.
JS: No que se resume seu lazer, culinária, cultura física, condições de saúde. Se puder, dê algumas dicas.
JP: Nos últimos anos tenho me preocupado um pouco mais com a saúde, mas a preocupação não tem gerado muitos resultados práticos. Como meu médico sempre diz, preciso aumentar os exercícios físicos, mas ainda não consegui manter regularmente pelo excesso de compromissos. Isso é um pecado que cada um comete e a gente enxerga, mas às vezes não conseguimos corrigir pelo excesso de demanda que aparece de todos os lados, então isso preocupa bastante.
Na parte do lazer, gosto muito de ler, jogo meu futebol com os amigos toda semana. Gosto da cozinha, do ambiente, do momento de conversar, descontrair, enfim, desses momentos agradáveis.