Local é considerado completo para os moradores pelo vasto comércio, igreja, mercados e escolas próximos

O Licorsul fica perto do Distrito Industrial, isso, segundo os habitantes, explica seu crescimento populacional e também, o porquê de muitas pessoas estarem escolhendo o local para viver. Além de que, o fácil acesso para as escolas é um ponto bastante positivo na visão deles.

“A Escola Infantil sente as sequelas do pós-pandemia

O Licorsul conta com uma escola de educação infantil e outra de fundamental. Ambas abrigam, em seu total, 465 alunos, dos quatro meses aos 11 anos. Além de crianças da localidade, as instituições também atendem as que vivem em bairros próximos como Vila Nova e Borgo.

A Escola Municipal Infantil Espaço dos Sonhos conta com 195 alunos dos quatro meses aos seis anos incompletos. Há três prédios que elas frequentam, pois há cessão de uso das turmas na Escola Estadual de Ensino Fundamental José Farina e no Instituto Estadual de Educação Cecília Meireles. “Em 2016, quando o Governo Federal tornou obrigatório o ensino infantil, as redes estaduais pararam de atender no Brasil todo, porque a educação infantil é uma obrigação da rede municipal. Então, faltou espaço nas escolas municipais para abarcar os seus alunos mais os da rede estadual. A partir deste ponto, se fez convênios de cessão de uso com outros locais de ensino”, explica a diretora da escola, Fernanda Lodetti.
Ela também comenta que apesar de o prédio do colégio ter mais de 40 anos, ele conta com uma estrutura muito forte. Porém, por conta das deteriorações que ocorrem com o passar do tempo, algumas adequações são necessárias. “Já existe um projeto em andamento para reforma e ampliação da escola. Os arquitetos da prefeitura já vieram aqui mostrando dois para o CPM e para a direção e agora está sendo aprimorado para que sejam feitos os reparos. Nele consta trocas de janelas, ampliação de refeitório, uma nova cozinha, forro e fiação elétrica”, relata.

A demanda de alunos da escola é grande, isso se dá por muitos fatores, como o aumento da procura do bairro. “No nosso dia a dia a gente vê muitas pessoas vindo de fora de Bento Gonçalves. O Licorsul é um bairro muito procurado para moradia, por conta da proximidade do centro e do Distrito Industrial. Portanto, ele se torna um caminho entre esses dois lugares. Então, o acesso ao transporte público se torna mais fácil aqui”, traz.

Fernanda Lodetti é a diretora da Escola Municipal Infantil Espaço dos Sonhos

Ainda ela aponta que a comunidade é bastante presente no colégio, apesar de muitos pais trabalharem. “Notamos isso através dos pais sempre que trazem e busca os alunos, às vezes um ou outro, ou os dois. E também por se fazerem presentes nas nossas vivências, como o Dia dos Pais onde tivemos uma participação de 95% deles”, exemplifica.

E mesmo sendo uma Escola de Educação Infantil, nota-se ainda as sequelas que a pandemia trouxe na vida dos pequenos. “Crianças sem saber falar, com hábitos alimentares ruins, que não conseguem subir escadas pois viveram dois anos dentro de um apartamento. A impressão que dá é que escolas infantis não sentiram essas mudanças, mas sentiu e está sentindo”, alega.

“Faltam recursos humanos”

Outro colégio é a Escola Estadual de Ensino Fundamental José Farina, que abriga 270 alunos do 1º ao 5º ano. Segundo a supervisora 20 horas, Camila Vilanova, algumas melhorias estruturais são feitas. “Todos os anos fazemos reformas, que são identificadas junto com a comunidade. Na última vez, foi pintado todo o colégio, fizemos a troca de forro e janelas. Essas obras ocorrem para benefício de todos”, alega.

Ela aponta que é possível ver as consequências deixadas pela pandemia e pelo ensino remoto. “Acredito que de uma certa forma, houveram sim crianças afetadas e nota-se isso em sala de aula. Os alunos que participaram das atividades remotamente mostraram um desenvolvimento melhor. Mas, os que não participaram, não realizaram as atividades, têm muita dificuldade. Por exemplo, os que foram alfabetizados em casa, têm bastante confusão ao ler e escrever. Muitas lacunas ficaram”, lamenta.

Vice-diretora Luana Bassani, diretora Michele Nunes e supervisora da Escola Estadual de Ensino Fundamental José Farina, Camila Villanova

Além disso, explica que, atualmente, a necessidade não tem sido material, mas, sim, de mão de obra. “Estamos sem secretária, ela faleceu em 2020 e não tivemos mais. Temos só a vice e a diretora de manhã, e de tarde temos a supervisora. Fazemos o que conseguimos. Faltam professores também, e temos que substituir com os professores que estão aqui, portanto, a parte dos recursos humanos é o que tem faltado”, destaca.

Trânsito do bairro preocupa morador

Osmar Jânio Quadros é morador do bairro desde a época onde quase não havia movimento por lá. Ele foi um dos primeiros a chegar ao Licorsul, com a família, em 1980. “Escolhemos aqui para morar porque era barato, só tinha uma casa e o resto era tudo potreiro. Depois que começaram abrir as ruas, porque era só campo, foi que ele começou a ter mais moradores”, relembra.


Com os anos, o bairro foi crescendo, mas mantendo a segurança. “É um lugar calmo de se viver, tem os mercados, a igreja perto, agora tem até banco, posto de saúde, então vale a pena”, explica.
Entretanto, o fato dele ser caminho para locais como o Distrito Industrial, as ruas passaram a ser muito movimentadas. “Seria interessante ter mais quebra-molas, o pessoal corre muito. Inclusive, quando colocaram uma lombada na outra rua, houve um acidente. Na hora que as empresas liberam os funcionários, muitos desviam por esta via, e a velocidade em que passam, acaba se tornando perigosa”, alerta.
Para ele, é notável que a expansão do bairro acontece cotidianamente. “Sinto que o Licorsul tem crescido muito. Para o que era quando chegamos, de não ter casas, para o que é hoje em dia, que não se encontra terreno”, revela.

“Caiu muito a venda, concorrência aumentou”

O comércio do bairro se expande assim como ele, logo, é possível encontrar todo o tipo de loja e prédios comerciais, desde farmácias a mercados. Jocelaine Camargo é moradora do local, e também decidiu abrir seu comércio nele. “Além da loja, eu também tenho a fábrica onde confecciono as peças. Atendo empresas, escolas e trabalho com a linha de pijamas. Estou num momento de reformulações, para ver se conseguimos girar e fazer o ano melhorar”, salienta.
Ela tem notado uma forte dificuldade para empreender. “Caiu muito a venda, a concorrência aumentou. Vendo qualidade, não preço. Porque prefiro comercializar um produto que sei o que é e garanto a qualidade, e não algo que vai atender em preço e não em durabilidade”, relata.

E entende que não é a única a passar por isso. “O movimento é de acordo com o bairro, e quando se conversa com os outros empreendedores do local, escuto os mesmos relatos e a mesma dificuldade nestes últimos seis meses. Dá para pagar os custos e tudo, mas não sobra tanto”, expõe.
Jocelaine também revela como é empreender no bairro e sobre a comunidade. “Alguns moradores frequentam a loja, mas não são todos. Às vezes até por falta de divulgação ou porque não atende a necessidade deles”, esclarece.
A falta de apartamentos, segundo Jocelaine, às vezes pode se tornar um problema. “É um bairro que tem um crescimento comercial, mas talvez o que falte aqui sejam mais moradores num sentido de prédio. Iríamos ter mais pessoas se tivéssemos apartamentos e elas iriam consumir e gastar muito mais no bairro”, prevê.

Danna Pierre veio do Haiti com os dois filhos. O marido chegou primeiro em busca de emprego e estabilidade para a família, e assim que conseguiu, vieram os três. “Para mim e para minha família é um local muito bom. A escola fica perto de casa, então, facilita para buscar meu filho”, prioriza.
Mas apesar das coisas boas, sempre há necessidade de melhorias. “O horário do transporte público é um pouco complicado, poderia melhorar. Quando preciso levar as crianças ao médico ou coisa parecida, que não seja em horário de pico, espero na parada e o ônibus acaba demorando muito”, exemplifica.

Noivar Luis Luchese mora no bairro, há 30 anos, e fica surpreso com a expansão do local e da cidade


Noivar Luchese tem 72 anos, é aposentado e vive no bairro há 30 anos. Após morar no Borgo, comprou um terreno no Licorsul onde construiu a casa que vive até hoje. “Aqui é um lugar tranquilo, não tem asfalto, tem uma pracinha boa”, enumera e complementa que o que lhe incomoda é mais a questão da higiene. “Acredito que a limpeza do bairro precisa melhorar, ele está com um aspecto sujo. As calçadas estão sujas, ele poderia ser muito mais limpo”, reitera.