Bento Gonçalves é a cidade com o maior número de agroindústrias no Rio Grande do Sul. Já são 42 incluídas no Programa Estadual de Agroindústria Familiar (Peaf), além de outras seis em processo de legalização. Essas pequenas empresas, além de proporcionarem diversidade à produção, garantem renda extra aos produtores. Dentre elas, o consumidor encontra massas, pães, geleias, sucos, vinhos coloniais e até mesmo destilados. Tem para todos os gostos. Ampliando ainda mais o leque de diversidades, esse ano foi cadastrada mais uma.
Localizada na Estrada Joaquim Cantelli, no famoso roteiro Caminhos de Pedra, encontra-se a recém criada Casa das Nozes Cantelli. Bem como o nome já diz, o estabelecimento produz e comercializa noz pecan. Essa é a primeira agroindústria da cidade voltada à produção desse fruto.
A ideia de trabalhar com esse tipo de produção surgiu quando um dos proprietários do empreendimento, Rene Cantelli, 39 anos, participou de uma palestra em uma empresa voltada para esse cultivo. Como ficou interessado no assunto, decidiu pesquisar mais, até que a decisão de investir nesse fruto foi definida.
A plantação ocorreu há seis anos, em 2016. Entretanto, a primeira colheita, mesmo que considerada pequena, ocorreu apenas no ano passado. Essa demora é parte natural do processo de produção de noz pecan. A segunda foi realizada no final de maio.
Cantelli explica que a família percebeu diversos benefícios em trabalhar com esse tipo de alimento. “Achamos uma oportunidade interessante devido ao baixo trabalho em campo e tem menos custos de produção. Também queríamos ter diversidade na nossa propriedade, porque só trabalhávamos com uva”, afirma.
A ideia cresceu e ganhou forma quando a agroindústria foi criada e legalizada. Todo trabalho é feito em família. Além de Rene, os pais José e Oladis, 69 e 65 anos, respectivamente, também estão envolvidos. “Conseguimos a liberação esse ano. Vamos começar agora a comercialização”, comemora.
Na localidade, três hectares de terra são destinados exclusivamente para isso. Embora seja apenas o começo, os Cantelli já têm planos de crescimento. “Como estamos começando agora, estamos colhendo cerca de 300 quilos por hectare, mas nossa ideia é atingir até três mil quilos. Cada ano vai crescer mais”, afirma.
Além disso, o produtor antecipa que a família deve participar da 45ª Expointer, que vai ocorrer de 27 de agosto a 4 de setembro deste ano, em Esteio. “Já fiz a inscrição e acredito que vai dar tudo certo. Vamos ver no comércio como vai ser a aceitação (do produto). É nossa ideia dar uma boa visibilidade”, defende.
Por fim, Cantelli destaca que recebeu todo suporte da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS-Ascar) para o trabalho com noz pecan. “A gente não sabia como era. Fizemos todos os registros necessários para começar a vender”, finaliza.
Condições ideais para o cultivo
De acordo com o extensionista rural da Emater/RS-Ascar, Neiton Bittencourt Perufo, a noz pecan necessita de longo período vegetativo, além de outros cuidados que ele explica. “É uma cultura que gosta de temperaturas médias mensais, mas que demanda em torno de 400 horas frio, abaixo de 7.2 graus. É um fruto que precisa de solos férteis, bem drenados e profundos. Isso favorece bastante a nossa região”, garante.
Posição solar adequada também é importante. Além disso, Perufo frisa que é uma cultura que sobrevive por bastante tempo, podendo manter o pomar por mais de 40 anos. “Também necessita de atenção quanto a questão de poda, manejo e irrigação”, acrescenta.
Alta demanda gera expectativa positiva
O trabalho com a família Cantelli não é recente. Perufo conta que foi dada toda uma orientação e acompanhamento, desde a parte do campo até a abertura da agroindústria. “Agora o Rene se sentiu preparado, tendo matéria prima suficiente para legalizar um espaço para o beneficiamento dessas nozes”, afirma.
O extensionista rural revela na região da Serra Gaúcha a maioria dos produtores tem esse tipo de planta, mas nenhum com potencial produtivo. “Normalmente o produtor tem na propriedade, mas não faz manejo, não tem os cuidados, eles colhem e comercializam, muitas vezes com casca mesmo, porque é um fruto que dá bastante trabalho para descascar, então, o pessoal não tem por gosto ter como uma cultura principal de comercialização”, pontua.
Entretanto, devido as amplas possibilidades de uso, a demanda por noz pecan é grande. “Pode ser usada em confeitarias. É muito utilizada por outras agroindústrias que processam doces cremosos, geleias, enfim. Também tem o próprio consumo in natura”, ressalta.
Com amplas oportunidades, Cantelli fez um investimento na propriedade, que conta com um maquinário específico para descascar a noz e comercializar. “A noz com casca tem um determinado valor e a descascada tem praticamente mais que o dobro do valor de mercado”, analisa.
Devido a tantos benefícios, Perufo garante que a expectativa em relação a mais nova agroindústria é muito positiva. “A família está iniciando aos poucos, processando o que tem na propriedade, com potencial de adquirir de outros produtores, para otimizar o espaço e os equipamentos. E, futuramente, claro, ter com outros produtos, como por exemplo a própria caramelizacão da noz pecan. Tem muitas possibilidades de agregar valor nesse produto. Estamos expectativa muito boa por ser a única e ter demanda muito grande aqui no município”, finaliza.