Com a devida “vênia”, acho que está na hora de pararem com as comemorações. Já se cumpriu a profecia. Chega de buzinaço e foguetório! Os ouvidos caninos não aguentam mais.
Líder, imortal, coisa e tal, sem dúvidas, mas esse mimimi o tempo inteiro é dose até pra quem nutre paixões desvairadas. Vamos mudar de foco, que o mundo continua girando – todos nós que temos labirintite sabemos disso.
E você que é fascinado, enfeitiçado, obcecado, idólatra, fanático pelo vermelho e que deve estar azul de raiva, acalme-se: um dia é da caça, outro, do caçador. Ou seja, um dia é do Inter, outro é do Grêmio. Se bem que ultimamente, um dia é do Grêmio, e o outro também…
Deixando essas picuinhas de lado, vamos às historinhas de nosso pequeno grande universo amarelo, que não afrontam ninguém.
Era uma noite de verão, nos idos de 1958. Os grilos orquestravam mais um capítulo da novela da roça, anunciando que a hora do jantar estava próxima. Eu, uma menininha de oito anos, fazia a polenta. Não a do tipo que faço hoje, misturando farinha de milho pré-cozida com água fria, sal e uma lambuzada de azeite e que, em cinco minutos, fica pronta. Era a verdadeira polenta italiana, numa calheira (panela de ferro) com o fundo encaixado no fogão a lenha, onde a gente ia colocando farinha na água fervente, aos poucos, pra não empelotar, mexendo sempre, até formar uma casca grossa que indicava o cozimento.
Sentado a três metros do fogão, nosso “hóspede” (de tempos em tempos, pessoas singulares eram acolhidas por meu pai) tomava chimarrão. Eu, cumprindo rigorosamente a tarefa. De repente, ao completar o giro de 360 graus, ergui um pouco a “mêscola” e uma bela porção de polenta foi cair direto na mão do coitado.
Foi uma cena patética.
-Óia o que tu me fez! Óia o que tu me fez! – choramingava o magrão de dois metros de altura, sem tirar a bunda da cadeira.
Felizmente, entrou alguém para quebrar o feitiço, ordenando:
-Levanta daí, bota a mão na água, Cristo!
Meu cérebro deletou as cenas seguintes, não sei se por autopreservação, ou por falta de espaço no HD.
Lembrei desse fato por ocasião de uma lambarizada aqui em casa, cuja exigência dos convivas foi polenta à moda antiga. Obviamente, cedi meu espaço a uma especialista da área, que pilotou o fogão com competência. Mas, numa das suas rápidas escapadas ao andar de baixo, pra cuidar dos peixes, resolvi dar uma conferida na mistura erguendo a tampa…
O vulcão explodiu! Vapor escaldante e lavas abrasivas foram expelidas violentamente atingindo um raio de centenas de centímetros. Por pouco a cozinha não foi interditada e eu não entrei em colapso. De tanto rir.
Só no dia seguinte, entendi a gravidade da ocorrência: do teto, pendiam estalactites de polenta. Petrificadas.