Ganhou de herança artefatos antigos, e ao invés de vendê-los, decidiu expor as peças de uma maneira diferente
Santa Tereza é uma cidade tombada, tomada por belas vistas e carrega também suas peculiaridades. Em um casarão, localizado na esquina de uma das ruas do município, há um muro como qualquer outro, senão fosse a diferenciada coleção que há em cima dele. De brinquedos a artefatos extremamente antigos, o local chama atenção de qualquer um que passa por ali.
O dono dessa singularidade é Juliano Fitarelli, ex-vereador da cidade, que hoje mantém uma pousada para trabalhadores na casa antiga da família. Além disso, cuida da horta, de seus animais e do seu ‘museu a céu aberto’. “Isso conta a história de como tudo começou. Desde o primeiro rompidor, responsável pelas reformas iniciais dos trilhos do trem, até o primeiro fogão elétrico. A mala que fui para Brasília quando era vereador, a primeira máquina de escrever, é a minha trajetória, como se fosse um museu meu e da minha família”, explica.
Ele conta que todos seus familiares já partiram, por isso, mantém os itens, como a bolsinha de couro marrom que o avô usava. “Era do meu nono, lembro dele quando a vejo. Em um dos espaços ele colocava o dinheiro e no outro bolso o radinho. É uma forma de manter as lembranças vivas para mim e para todos os que param para ver”, relata.
Alguns acham esse muro uma palhaçada, outros que é estupidez, mas para mim, é relembrar o passado
O muro é bastante chamativo, por isso, muitas pessoas que passam sequer disfarçam. De turistas a moradores, os artefatos antigos, misturados aos brinquedos, dão uma vista diferenciada para a cidade. “Inicialmente, queria chamar atenção dos turistas, vir até aqui e ver coisas diferentes do comum. Muita gente fica curiosa, bate foto e até mesmo pede para comprar”, ressalta.
É muito comum as pessoas pararem e acreditarem que aquilo nada mais é que um antiquário. Mas enganam-se as que julgam que qualquer item ali está à venda. Fitarelli sequer tem coragem de cogitar vendê-los. “Nada aqui está à venda, sou sozinho, toda a minha família já morreu, isso foi o que me sobrou deles, o que me relembra eles, por isso não os vendo. Eu considero isso um museu, porque são artefatos extremamente antigos, muitos que nem se utilizam mais e todos aqui contam uma história sobre o passado”, frisa.
O seu item favorito é a televisão amarela, pequena comparada as que existem hoje, mas que na época era um tesouro. Ele a guarda em um plástico que a protege, e garante que funciona até os dias atuais. “Ela é o meu item favorito, quando nasci já existia, chegou no início da década de 70. O item remete à infância, ver o Pelé fazendo gol, tudo em preto e branco. Ficava encantado olhando para ela, não tem outra palavra”, relembra.
Mas nem todos veem com bons olhos a situação, mas não é algo que Fitarelli se importe, seu muro, decorado da sua forma, é repleto de histórias muitas vezes esquecidas e apagadas pelo tempo. Ele acredita em seu dever de rememorar lembranças que fizeram parte de sua vida, e de muitos que viveram há décadas atrás. “Alguns acham esse muro uma palhaçada, outros que é estupidez, mas para mim, é relembrar o passado”, ressalta.
E finaliza contando o que imagina que seus familiares pensariam ao ver o muro da casa repleto daqueles itens. “Sentiriam orgulho. Ficariam felizes por não ter os vendido e os expor para contar a história deles. Seria mais fácil vender, doar, mas jamais faria isso”, garante.