No domingo, 19, cerca de dez voluntários se espalharam por Bento Gonçalves para fazer a entrega de cem almoços, para moradores de rua. Projeto deve ter continuidade ao longo de 2022
Em dezembro, com o Natal e a passagem de ano, costuma ser época de fartura de alimento na maioria dos lares brasileiros. Entretanto, essa não é a realidade de muitas famílias, que sequer têm condições de realizar uma única refeição ao dia. Em Bento Gonçalves, dados da Secretaria de Esportes e Desenvolvimento Social, apontam que a média de pessoas em situação de rua gira entre 50 e 60. Por isso, ações solidárias, que visam sanar a fome, tem tanto valor.
Apesar de jovem, a terapeuta integrativa, Nadine Ferraz, 24 anos, tem um olhar sensível para o próximo. Sempre gostou de estender a mão para quem precisa. Em 2018, principalmente no período do inverno, organizava junto com um grupo de amigos, o chamado “sopão solidário”, para alimentar e aquecer pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Este ano, decidiu preparar mais um ato em prol do próximo. “A minha cigana falou para fazermos uma ação para ajudarmos as pessoas, para espalharmos amor”, conta. Foi então que ela levou para o grupo de apometria, do qual dá aulas, a intenção de distribuir refeições para pessoas que vivem na rua. Prontamente, os integrantes toparam participar. Além deles, alguns amigos pessoais também abraçaram a causa.
A partir de então, foi o momento de fazer com que a ideia ganhasse vida. Nadine relata que todos os envolvidos se mobilizaram para arrecadar doações. Cada um conseguiu um pouco do que era necessário. O objetivo era entregar cem refeições.
No sábado, 18, os cerca de dez voluntários se encontraram em uma residência, em Faria Lemos, para deixar tudo preparado. O ingrediente principal foi o carinho. “Estamos fazendo o melhor que podemos, com produtos bons, caseiros. A massa foi toda feita à mão, a carne foi temperada com muito amor, com temperos colhidos por nós, da nossa horta”, orgulha-se Nadine.
Na manhã do dia seguinte, domingo, 19, o grupo se reuniu novamente. Cada um foi responsável por uma atividade. Alguns ficaram encarregados de assar a carne, enquanto outros, cozinhavam a massa. No local, o clima era de alegria. “Me sinto merecedora de poder fazer isso para outras pessoas, porque tenho tudo. O sentimento é de gratidão por acordar e estar fazendo isso”, afirma.
No final da manhã, quando o almoço estava pronto, os integrantes se distribuíram em três carros para fazer a entrega dos alimentos em diferentes pontos da cidade. Um dos locais foi a praça Vico Barbieri.
Logo que o carro foi estacionado e as pessoas em situação de vulnerabilidade social foram convidadas para ganhar o almoço, um grande grupo se formou. Entre eles, adultos e crianças pequenas. “A gratificação que a gente tem de estar fazendo isso é muito grande. O bem vem de onde a gente nem imagina”, destaca.
Feliz em estar levando mais do que um almoço, mas também o gesto de carinho e cuidado, Nadine frisa a importância de ajudar quem precisa. “Acho que esse é o intuito do Natal, espalhar amor para quem achamos que não quer ou não merece. A gente julga muito as pessoas por estarem na rua, mas, às vezes, elas não estão porque querem, mas porque é a única coisa que conseguem e podem fazer”, avalia.
A contadora Franciele Betinelli, também abraçou a ação. Além de ajudar na preparação, também distribuiu os alimentos. “Nunca é demais, sempre tem alguém precisando. Por isso resolvemos nos reunir, para poder dar um pouco de amor e carinho para as pessoas que mais precisam”, assegura.
Outro ponto de distribuição de alimentos foi na aldeia indígena, localizada na BR-470. Os voluntários Jean Felipe de Freitas e a esposa, Caroline Freitas, entregaram as refeições no local. “Entregamos 30 almoços lá. É um lugar com crianças por todos os lados. É muito bom ajudar, eles ficaram muito felizes, falando que iam ter almoço diferente”, conta Freitas.
O jovem afirma que ajudar o próximo é uma ação que está se tornando escassa. “Poderíamos fazer muito mais, mas o nosso comodismo e com correria diária, acabamos desleixando e não fazendo. Somos cristãos, temos uma congregação, mas não queremos só estar dentro de uma igreja, não queremos viver só de palavras”, enfatiza.
A esposa, Caroline, concorda e acrescenta que o sentimento por ajudar é de gratidão. “Temos tudo. Isso é só um pouco do que a gente tem para oferecer para quem precisa”, afirma.
Almoço, um presente de Natal
Paula Signor, 35 anos e o marido, Fabrício Santos da Luz, 20, estão desempregados há cerca de três meses. Além de precisar se auto sustentar, o casal tem dois filhos pequenos: Erick, 7 anos e Ane Gabriele, 2.
A família, moradora do bairro Progresso, costuma buscar ajuda na paróquia Santo Antônio, que distribui cestas básicas para pessoas em situação de vulnerabilidade social. Além disso, contam com o benefício do Auxílio Brasil, antigo Bolsa Família. “Isso ajuda bastante”, afirma Paula.
No domingo, a família foi surpreendida com a distribuição das marmitas. Naquele dia, o almoço das crianças estava garantido e a preocupação dos pais foi aliviada, ainda que momentaneamente. Sentados no chão da praça, de forma improvisada, todos se alimentaram. “Estamos muito felizes. Isso tem bastante significado, bastante, bastante mesmo (enfatiza). Principalmente para eles (crianças)”, garante.
Ação vai ter continuidade
A massoterapeuta, Ivanilse Tartari, 55 anos, mãe da Nadine, também se envolveu em toda atividade. Satisfeita com o ato, ela conta que o objetivo é dar prosseguimento no projeto. “Queremos fazer todo mês ou a cada dois meses. Essa é a primeira ação, mas vamos dar continuidade. Ainda não sabemos o que vamos fazer, mas estamos pensando em doar kits de limpeza também. Tudo isso é muito gratificante”, afirma.