Chrystian Paiva, de 20 anos, disputará em fevereiro, com um garçom de Porto Alegre, o título estadual para representar o Rio Grande do Sul na competição nacional; caso vença as duas etapas, participará do WorldSkills, a maior competição de educação profissional do mundo, na China
Muito além de simpatia e bom atendimento, o trabalho de um garçom profissional compreende esmero, concentração e muito conhecimento gastronômico. E são essas, entre outras características, que estão sendo treinadas de forma mútua e incessante, desde os primeiros dias de outubro, pelo bento-gonçalvense Chrystian Paiva, 20 anos, e pelo porto-alegrense Richard Bertolino, 17 anos, que disputarão entre si, em fevereiro, o posto de melhor do Estado.
No mês de setembro, Paiva ficou em segundo lugar na etapa regional das Competições Senac de Educação Profissional, na ocupação Serviços de Restaurante (voltada para alunos do curso de Garçom), enquanto Bertolino ficou em primeiro. O vencedor irá representar o Rio Grande do Sul na competição nacional, no Espírito Santo, em 2020, onde estarão presentes os melhores profissionais do país, em diferentes áreas. Ao todo, entre alunos do Senac (de setores do comércio e atendimento) e do Senai (indústria), serão 56 profissões representadas. O melhor em cada uma delas participará do próximo WorldSkills, que ocorre bienalmente, cada vez em um país. O seguinte será na China.
Mesmo tendo que passar ainda por duas árduas etapas e longos períodos de treinamento, o jovem bento-gonçalvense não nega o vislumbre com possibilidade de participar com uma competição internacional, algo que jamais havia sonhado, quando há dois anos ingressara no curso de Garçom. “A expectativa é muito grande. Tenho que dar o máximo no treino agora, mas o otimismo sempre está presente”, assinala.
Embora acrescente que é preciso ser comedido e dar um passo por vez, a expectativa positiva passa pelo treino puxado e pela experiência adquirida em dois anos de profissão. Conforme conta, além das oito horas diárias de estudo prático, também trabalha nos fins de semana em eventos. Desde que se formou, em 2017, sempre trabalhou em hotéis e restaurantes da região, ampliando seus conhecimentos tanto na área gastronômica, como no atendimento.
Mesmo não se lembrando de inspirações na juventude, recorda que o bom atendimento e contato humano eram características que admirava na profissão, antes mesmo de ingressar na área. Já profissional, o bom retorno dos clientes segue sendo o que mais lhe dá gosto em atender. “O mais gratificante é saber que o cliente gostou do teu serviço, que você agradou”, destaca.
Enquanto, compenetrado, se concentra totalmente apenas nas próximas competições, coisa rara em jovens de sua idade, Paiva já vislumbra os caminhos que pretende seguir adiante. Apaixonado pela área de vinhos e bebidas, a ideia é se aperfeiçoar como sommelier e, uma vez bem estruturado, abrir seu próprio restaurante e inspirar outros jovens como ele. “Pode ser no Rio Grande do Norte ou Santa Catarina”, conta, sonhador, pensando em onde poderia ser seu futuro estabelecimento.
Experiências de competidor e treinador
Principal inspiração para Paiva e Bertolino, o garçom porto-alegrense, Leonardo Linhares da Silva, 21 anos, também está em Bento Gonçalves, acompanhando o treinamento dos dois competidores. Terceiro colocado na competição nacional, Silva tem a missão, agora, de trazer para os mais novos, a visão de quem por muito pouco não chegou no mundial.
Calmo e articulado, Silva comenta que o maior segredo na competição é conseguir manter o controle. “O mais importante é saber como lidar com certas situações, muitas coisas acontecem no serviço: perguntas de clientes, um copo que caí, algo fora do lugar. É preciso jogo de cintura”, pontua. Para além da cronometragem imposta a cada tarefa, para ele o pior é o olhar dos jurados. “Tem muita gente olhando, os avaliadores são treinadores de outros competidores, eles querem que tu erre. Eles te olham diferente, procuram e captam teu erro, e você não pode ficar nervoso com isso”, recomenda.
Somado ao olhar do ex-competidor, está a visão analítica de avaliador de Felipe Biondo, orientador que acompanha o treinamento diário dos dois jovens. Presente como treinador, acompanhando uma antiga pupila de Porto Alegre selecionada para o mundial, no último WorldSkills, que ocorreu neste ano em Kazan, na Rússia, mais que avaliar metodicamente o trabalho de seus novos aprendizes, ele apresenta o encantamento que os aguarda, caso um deles chegue ao mundial. “Nunca tinha participado de um evento tão grandioso, é uma sensação muito boa. São mais de 70 países reunidos em um mesmo local e por um mesmo propósito: a educação profissional. É um contato com pessoas e culturas de todo o planeta, independente da posição, é algo que muda a vida de quem participa”, exclama.
Expectativa de Richard
Morando desde outubro na Capital do Vinho, onde treina ao lado de Paiva, Bertolin comenta a expectativa pela disputa, bem como pela possibilidade de chegar à China.
“Sempre tive esperança de ser um dos melhores do estado, pois treinei muito e aprendi com quem sabe. Agora é seguir treinando e acreditando. Estou tranquilo”, resume.