Psicólogo William Turri esclarece a diferença que o cuidado com as questões psicológicas pode fazer na vida das pessoas
Ano novo, vida nova. Quem nunca escutou ou disse essa frase? Para muitas pessoas, a virada de ano é o momento ideal para refletir e definir novas metas. Por isso, esse mês é conhecido como Janeiro Branco, porque simboliza uma folha branca, com a oportunidade de escrever ou reescrever novas histórias. O objetivo dessa campanha é despertar e chamar atenção para todas as questões e necessidades relacionadas à saúde mental.
Entre os novos objetivos, é comum estabelecer o desejo de adquirir um carro novo, um imóvel novo ou até mesmo conquistar um emprego novo. Entretanto, também é essencial colocar entre as prioridades, o autocuidado. O psicólogo William Turri, destaca a diferença que isso pode fazer no decorrer dos próximos meses que estão por vir. “Se não cuidarmos das nossas questões psicológicas, mentais, é provável que isso atrapalhe o alcance de metas, o desenrolar de planos, a realização dos nossos sonhos. Cuidar da saúde mental é base para avançar em vários aspectos na nossa vida”, afirma.
Então, esse é o instante em que pode surgir a dúvida: por onde começar? De acordo com Turri, de início, nada de complexidade. “Sempre digo que o início de tudo é com boa alimentação, prática regular de exercício físico e contato com a natureza. Percebermos que tudo está interligado, corpo e mente. É assim mesmo”, explica.
Porém, o psicólogo alerta que é preciso avaliar quando existe algum problema mais grave, uma disfunção ou até um transtorno psicológico. “Nesses casos é fundamental buscar ajuda especializada. Nos casos de depressão, por exemplo, quanto antes identificarmos os sinais e sintomas e iniciarmos o tratamento, melhores serão as chances de recuperação e retomada da vida funcional da pessoa adoecida”, esclarece.
Turri salienta que é preciso ter cuidado com fórmulas mágicas, soluções complexas, tratamentos caros ou promessas milagrosas. Entre as dicas importantes que podem ajudar a melhorar questões psicológicas está a prática de uma religião. “Já é apontada há bastante tempo, por estudos científicos, como promotora de saúde mental”, afirma.
Entre outras atitudes importantes apontadas, está a atenção com o sono regular. “Para termos um sono reparador e estarmos preparados para um novo dia, precisamos construir pequenos hábitos saudáveis. Diminuir ao máximo os níveis de estresse. Aqui é importante entender uma questão biológica que interfere diretamente na qualidade do nosso sono. Quando ficamos muito estressados, nosso corpo libera um hormônio chamado cortisol. É muito difícil ter uma boa noite depois de um dia estressante. Isso porque para um bom sono, outro hormônio precisa entrar em cena, a famosa melatonina. Ocorre que o cortisol, produzido durante um dia de estresse, inibe a produção de melatonina à noite, logo, não conseguiremos ter um sono reparador. E como diminuir o estresse? Com autoconhecimento. Psicoterapia é um caminho seguro para isso”, explica.
Felicidade x Consumo
A compra compulsiva, para quem está sofrendo, funciona como uma espécie de pílula do prazer. Por isso, em momentos de tristeza, algumas pessoas recorrem ao consumo, para aliviar – mesmo que momentaneamente – alguns sentimentos. Essas ações podem acarretar em prejuízos. É preciso ter em mente que não existe produto caro que resolva problemas emocionais, por isso, torna-se importante o investimento em terapia. De acordo com Turri, é preciso desenvolver cada vez mais a consciência. “Assim, quando estivermos em sofrimento mental, saberemos que é hora de procurar ajuda”, pontua.
O psicólogo reforça que a psicoterapia serve para muitas coisas, entre elas, para o desenvolvimento pessoal, da inteligência e para transtornos mentais. “Hoje é muito comum a expressão ‘estar com a terapia em dia’, isso em parte é verdadeiro. Obviamente que nenhuma pessoa deve permanecer a vida toda em psicoterapia, não é assim que funciona. Mas, buscar um profissional para avançar na vida pessoal e profissional é sinal de maturidade”, assegura.
Atenção aos sinais
Questionado sobre quais são os possíveis indícios de que a saúde mental está precisando de mais cuidado, Turri explica que entre os sinais está a falta de satisfação com a vida e com as coisas que antes a pessoa gostava de fazer. “Isolamento social e muito tempo dedicado a ambientes virtuais. Sono irregular e não reparador, irritação constante, agitação psicomotora que é quando a pessoa não consegue ficar quieta. Também algumas compulsões, como por comida, sexo e compras”, aponta.
Porém, o psicólogo destaca que quando um profissional realiza uma avaliação com vistas à saúde mental, nada pode ser analisado de forma isolada. “Contudo, esses são indícios importantes de que algo não vai bem”, alerta.
Questionado sobre por quê muitas pessoas ainda relutam em procurar ajuda especializada, Turri responde que na maioria por desconhecimento. “As pessoas ainda não sabem, exatamente, o que faz um profissional da saúde mental e isso também é responsabilidade nossa, de quem está na ponta, porque nós temos dever de psicoeducar a sociedade sobre nosso trabalho, como ele funciona”, afirma.
Turri acrescenta que “é maravilhoso quando uma pessoa passa por um processo de terapia e amplia conceitos, desenvolve sua inteligência e coisas que antes a atrapalhavam, deixam de afetar seu desenvolvimento. Volto a dizer que as soluções não são complexas. O que a vida exige é coragem para realizamos muitos enfrentamentos e, assim, tomadas de consciência ocorrem”, finaliza.