Fenômeno foi registrado na quarta-feira, 28 de julho. Em Bento Gonçalves, entretanto, a neve não ficou espessa
Na tarde da última quarta-feira, 28 de julho, a expectativa de ver neve caindo sobre o solo de Bento Gonçalves se concretizou. No início, ocorreu apenas uma tímida chuva congelada e, após, foi possível ver alguns flocos. De noite, em diversos momentos, novos episódios do fenômeno, com ainda mais intensidade, foram registrados. A quantidade, entretanto, não foi o suficiente para cobrir os telhados das casas, as calçadas e nem o vidro dos carros como verificadas nas cidades vizinhas.
De acordo com dados do Livro Memórias de Bento Gonçalves, houve registro de neve no município em 1940, 1942, 1945, 1960, 1965. Após essa data, há indícios que o fenômeno também ocorreu em 1994 e na década de 2000, mas em menos quantidade.
Neste ano, o intrigante foi que em municípios como Garibaldi, Carlos Barbosa, Caxias do Sul e Farroupilha, além de outros pontos do Rio Grande do Sul, os focos foram registrados. De acordo com a MetSul Meteorologia, a neve começou a cair com força em pontos das regiões da Serra, Planalto e dos Aparados no início da noite. Este foi um dos mais amplos eventos de precipitação invernal no Rio Grande do Sul em décadas.
Segundo a meteorologista Ludmila Pochmann, nevou até mesmo em locais que não havia previsão. Ela afirma também que são necessários alguns fatores específicos para que o fenômeno ocorra. “A gente tinha uma circulação de umidade vinda do oceano para dentro do continente e ela encontrou essa super massa de ar frio, que deixou as temperaturas muito baixas quarta e quinta-feira. Essa combinação, em algumas regiões que estavam tendo uma circulação com vento pequeno, oportunizou que houvesse a formação do floco de neve junto à possibilidade de precipitação naquele momento”, explica.
Ludmila diz que também foi registrado graupel em alguns locais do estado como Caxias do Sul, Pelotas e Camaquã. “É um fenômeno até mais intenso, porque ele forma o folículo de gelo em volta do floco de neve, em regiões baixas acaba acontecendo. É uma questão de sorte para juntar todas as condições meteorológicas no momento para que o fenômeno ocorra em pequena ou grande quantidade”, salienta.
Chuva congelada ou neve?
A dúvida se o que estava caindo do céu de Bento era chuva congelada ou neve pairou em diversos momentos. A meteorologista esclarece as diferenças. “A precipitação da chuva congelada tem um brilho maior do que a neve e, logo que cai, já derrete. A neve é o floco super congelado e é fosca, não tem brilho. Quando cai em uma superfície, fica solta, forma várias setinhas, bem como é nos desenhos animados. Como ela é mais seca, demora a derreter. Já o graupel é uma bolinha minúscula, é um mini granizo, tem até 0,5 centímetros de espessura”, sublinha.
Vai nevar novamente?
Para os admiradores do inverno e das atipicidades que ele pode causar, Ludmila esclarece que, por enquanto, o fenômeno não vai mais acontecer porque o suporte de umidade terminou, ou seja, não há mais o vento intenso do oceano em direção ao continente. Não é preciso, entretanto, se decepcionar, pois a estação acaba apenas em setembro. “Pode ocorrer de novo um veranico, como o que a gente teve na semana passada, com temperaturas bem altas, em torno de 28ºC. Se ocorrer, possivelmente a gente tenha uma entrada muito forte de massa de ar frio e não se descarta a possibilidade de chuva congelada e mais um episódio de neve para o inverno deste ano no Rio Grande do Sul”, alerta.
Para os próximos dias, os moradores da Serra Gaúcha vão poder se aquecer após viver momentos intensos de frio. “Até domingo que vem terá muito sol, apenas algumas nuvens no céu. As temperaturas vão ficando um pouco mais suportáveis, com as mínimas em torno nos 5ºC e as máximas aumentam um pouco. Para Bento, pode chegar à máxima de 17ºC à tarde e, na semana que vem, as mínimas em 6ºC e as máximas até 16ºC”, conclui.
Ações efetivas para pessoas em vulnerabilidade social
Com o frio registrado nos últimos dias, ações foram realizadas na cidade na busca ativa das pessoas em vulnerabilidade social nas ruas de Bento Gonçalves ao longo da semana. A atividade foi realizada por equipes da Secretaria de Esportes e Desenvolvimento Social (Sedes).
Os integrantes do mutirão percorreram os principais pontos do município e fizeram a abordagem das pessoas que dormiam nas ruas, para possível encaminhamento à Casa de Passagem. Os que não aceitavam, receberam cobertores e sopa quente para amenizar o frio. As equipes também conversaram com as pessoas e os que não tinham passagem pelo serviço da assistência serão cadastrados no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas).
Conforme o secretário adjunto da Sedes, Wagner Dalla Valle o trabalho da assistência é tirar essas pessoas do invisível. “Estamos conversando com eles, buscando explicar que temos a Casa de Passagem para passarem a noite, mas muitos não aceitam deixar o lugar, que para eles já é seguro. É um trabalho silencioso”, comenta.
Dalla Valle também explica que enquanto as equipes estão nas ruas, outro grupo realiza o atendimento de quem chega na Casa de Passagem, localizada no bairro Maria Goretti. “Lá eles são recebidos com banho, comida e encaminhados para uma cama quente. O espaço é amplo e preparado para receber todos”, enfatiza.
O prefeito Diogo Siqueira acompanhou os trabalhos e ressaltou a importância desse acolhimento pelas grupos da assistência e saúde. “Temos uma rede preparada para atender as pessoas em vulnerabilidade. As equipes estão trabalhando intensamente para amenizar o frio destes próximos dias”, conclui.
Fotos: arquivo pessoal
Foto em destaque: Pamela Duarte