Embarrei os sapatos ao passar por um desvio da São Vendelino. Já no Aeroporto Salgado Filho, antes de fazer os trâmites do embarque no balcão da companhia, deixei meus sapatos com os engraxates e fui só de meias. Fiz até uma fezinha na lotérica e depois voltei para pegar os sapatos, já limpinhos. Ninguém reparou.
Desde então, deixo os sapatos com os engraxates e vou dar uma olhadinha na banca de revistas ou tomar um cafezinho no bar em frente (só não vou ao banheiro: vá que molhe). Ninguém repara.
No dia em que o Paulo Cesar e eu decidimos fazer uma reunião com banqueiros em Porto Alegre, optamos pelas mesas externas do restaurante no piso superior do aeroporto. Ia tudo bem até que o engraxate apareceu na reunião carregando em dois dedinhos da mão o lustroso par de sapatos. Tentei não parar a conversa e calçar, mas não adiantou. Eles repararam.
Há algumas décadas fui recebido por Lazaro Brandão, presidente do BRADESCO, na Cidade de Deus – SP. Depois da conversa, respeitosamente pedi licença para uma pergunta de caráter particular. Autorizado que fui pelo ilustre homem de negócios pedi:
– “É verdade que o senhor usa seus sapatos sem as meias?”
– “Aguarde um momento”, disse ele.
De sua cadeira o Lazaro chamou o Sr. Braga, que estava na sala ao lado, e o apresentou.
– “Este é o Braga e agora somos sócios. O Bradesco e a Atlântica Seguros fizeram uma parceria. Repare que o Braga não usa sapatos no escritório e eu não uso meias. Nós nos completamos”. Rimos e marcou para sempre. Grandes homens!
Na palestra que proferi no evento da Agas, a convite do Antônio Cesa Longo, eram oitocentos empresários varejistas no teatro da Fiergs e para que nunca mais esquecessem do tema (Ser Diferente – Inovação), me apresentei sem sapatos. Mesmo no palco, sob holofotes, se não falo do feito, ninguém reparava.
É assim com o supermercado: se for igual aos demais, a escolha não importa ao consumidor. É necessário inovar para ser diferente e esta diferença precisa ser mostrada. Senão, ninguém repara.