Crescimento na busca por capacitação reflete mudanças e desafios do mercado de trabalho
Por: Nathielly Paz e Cassiano Battisti
A busca por qualificação profissional tem crescido em Bento Gonçalves, acompanhando as mudanças no mercado de trabalho. Instituições de ensino como a Universidade de Caxias do Sul (UCS), o Instituto SENAI de Tecnologia em Madeira e Mobiliário e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), têm observado um aumento na procura por cursos alinhados às demandas da indústria e do setor de serviços. Além disso, as taxas de empregabilidade dos egressos são expressivas, indicando uma forte conexão entre formação acadêmica e oportunidades profissionais na região. Dados do Instituto Semesp reforçam essa realidade: 87,3% dos egressos do ensino superior exercem alguma atividade remunerada, e 69,3% trabalham na sua área de formação.
UCS forma milhares de profissionais com alta taxa de empregabilidade
Desde a fundação do Campus Universitário da Região dos Vinhedos (CARVI), em 1993, a UCS já graduou mais de 13 mil profissionais. O sub-reitor Fabiano Larentis destaca que, nos últimos cinco anos, quase 1.700 alunos concluíram seus cursos em Bento Gonçalves. “Temos um índice de empregabilidade elevado, superior à média nacional. Cerca de 89% dos egressos atuam na área em que se formaram”, afirma.
A UCS oferece 27 cursos de graduação presenciais, abrangendo todas as áreas do conhecimento. Entre os cursos com maior taxa de empregabilidade estão Administração, Arquitetura e Urbanismo, Engenharias, Ciências Contábeis, Computação/TI, Farmácia, Pedagogia e Psicologia. “Muitos de nossos estudantes começam a atuar em suas áreas já nos últimos semestres do curso”, ressalta Larentis.
A instituição também aposta no conceito de “Trabalhabilidade”, ou seja, a capacidade de aprendizado e desenvolvimento de competências para gerar qualidade de vida. O aumento da oferta de mestrados e doutorados no campus reflete essa estratégia, assim como parcerias com empresas locais, programas de estágio e iniciativas como o UCS Inova e o StartUCS, voltadas à criação de startups. Um exemplo é o Mestrado Profissional em Engenharia de Produção, que qualifica profissionais da indústria e amplia as oportunidades na região.
Outro dado relevante é que, nos últimos anos, o número de transferências para estudar no campus de Bento Gonçalves foi três vezes superior ao de alunos que saíram, reforçando a confiança na instituição. Além disso, a UCS acompanha seus ex-alunos pelo Programa UCS Alumni, que funciona como um canal de relacionamento e monitoramento da empregabilidade.
SENAI aposta na qualificação para indústria
No SENAI Madeira e Mobiliário, de Bento Gonçalves, entre 500 e 600 estudantes se formam anualmente em cursos técnicos, de qualificação e aprendizagem industrial. O gerente de operações Ricardo Dal Piva afirma que cerca de 80% dos alunos conseguem emprego poucos meses após a conclusão dos cursos. “Os setores moveleiro, metalmecânico e de automação industrial absorvem grande parte dos nossos egressos”, explica.
Os cursos mais procurados e com maior taxa de empregabilidade são os técnicos em Eletromecânica, Automação Industrial e Marcenaria, impulsionados pela alta demanda da indústria local. Dal Piva destaca que a indústria moveleira, base econômica de Bento Gonçalves, segue como a principal contratante dos formandos. “O setor metalmecânico também absorve muitos profissionais, pois complementa a produção moveleira e exige mão de obra qualificada”, explica. Ele acrescenta que a automação industrial tem ganhado espaço à medida que as indústrias investem em tecnologia e processos mais eficientes.
O gerente de operações afirma que a instituição mantém fortes parcerias com empresas da região para facilitar a inserção dos alunos no mercado de trabalho. “Nossos alunos têm acesso a estágios, programas de aprendizagem e oportunidades diretas de emprego, o que reforça a conexão entre a formação oferecida e as necessidades do setor produtivo”, declara. Ele acrescenta que empresas do polo moveleiro frequentemente buscam o SENAI para contratar profissionais qualificados. “Muitas companhias participam ativamente do desenvolvimento dos cursos, garantindo que o conteúdo esteja sempre atualizado conforme as demandas do setor”, complementa.
Dal Piva também destaca que o SENAI realiza pesquisas periódicas para monitorar a empregabilidade dos ex-alunos. “Avaliamos onde nossos profissionais estão atuando, em quais funções e como a formação impacta suas carreiras”, explica. Além disso, ele ressalta que o contato com as empresas parceiras permite compreender melhor a absorção da mão de obra formada pela instituição. “Isso nos ajuda a aprimorar constantemente nossos cursos e garantir que nossos alunos saiam preparados para o mercado”, finaliza.
Atualmente, há estudos para a oferta de novas capacitações voltadas para a Indústria 4.0, automação e tecnologias sustentáveis na produção moveleira, áreas que estão em expansão na região. Apesar do alto índice de empregabilidade, alguns desafios ainda precisam ser enfrentados, como a atualização constante das formações para acompanhar as transformações tecnológicas, a conscientização dos jovens sobre o potencial de carreira no setor industrial e o acompanhamento das novas demandas da indústria.
SENAC fortalece empregabilidade no setor de serviços
O SENAC Bento Gonçalves atendeu mais de 5.000 alunos em cursos presenciais desde 2020, além de um grande número no ensino a distância. A diretora Lisângela Antonini destaca que muitos concluem os cursos já empregados ou buscam a formação para aperfeiçoamento profissional. “O SENAC contribui tanto com a qualificação de novos profissionais quanto com o aprimoramento dos que já atuam no mercado, além de incentivar o empreendedorismo”, afirma.
Os setores que mais absorvem profissionais formados pelo SENAC são os de comércio, bens e serviços, além das áreas moveleira e de viticultura. A instituição se destaca nas áreas de gastronomia, beleza e gestão, com alta taxa de empregabilidade e incentivo ao empreendedorismo. “Acompanhamos de perto a inserção dos alunos no mercado e estamos sempre renovando o portfólio de cursos para atender às demandas locais”, completa Antonini.
A instituição também fortalece a conexão entre teoria e prática por meio de parcerias com empresas locais. “Divulgamos internamente as vagas encaminhadas por empresas da região e promovemos visitas técnicas, painéis e encontros entre profissionais do mercado e nossos alunos”, explica a diretora. A instituição acompanha a inserção dos alunos no mercado por meio de relatos e feedbacks, o que permite avaliar e aprimorar constantemente a formação oferecida. “Nossa formação está alinhada às demandas do comércio de bens, serviços e turismo, em um movimento de constante diálogo com empresas, sindicatos e entidades locais, além de estudos de mercado”, pontua.
Nos últimos anos, a instituição notou um aumento expressivo na procura por cursos de gastronomia, beleza e gestão, além do crescente interesse pelo Programa Jovem Aprendiz. Para Lisângela, a formação profissional continua sendo essencial. “O mercado segue demandando profissionais qualificados, e o SENAC tem um papel fundamental na rápida inserção desses alunos no mundo do trabalho”, enfatiza. Além disso, a instituição mantém uma forte atuação na comunidade, participando de ações sociais, feiras, eventos e campanhas, sempre fortalecendo o vínculo entre a escola e a região.
Expansão e desafios
O crescimento na procura por cursos presenciais é uma tendência em Bento Gonçalves, impulsionada pela recuperação do ensino presencial pós-pandemia e pelo reconhecimento da qualidade das instituições locais. No entanto, segundo o Semesp, 39,9% dos egressos do ensino superior ainda enfrentam dificuldades na inserção profissional devido à falta de experiência, enquanto 24,1% mencionam os salários baixos e 19,5% a falta de vagas na área.
A UCS, por exemplo, lançará um novo curso no final de 2025, com início em 2026, para atender às necessidades da região. O SENAI estuda novas capacitações voltadas para a Indústria 4.0 e tecnologias sustentáveis na produção moveleira. Já o SENAC prevê a inclusão de novos cursos técnicos no segundo semestre de 2025.