Conforme levantamento da CDL-BG, houve acréscimo de 10% no montante de dívidas entre os bento-gonçalvenses, semelhante ao registrado no país
O reestabelecimento progressivo da normalidade, após o período de pandemia, trouxe reflexos nos dados computados pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Bento Gonçalves sobre a inadimplência no município. Depois de apresentar um cenário de estabilidade no ano anterior, o levantamento referente a 2022 mostrou aumento de 10,48% no montante da dívida dos inadimplentes na cidade.
O déficit dos consumidores com o varejo volta a se aproximar do registrado em anos anteriores. “O ano que passou consolidou um cenário de retorno às condições pré-pandemia, o que devolveu o comportamento mais típico de consumidor. A movimentação no comércio também acompanhou essa tendência, com reflexos na questão da inadimplência, aparecendo como situação crônica no panorama socioeconômico local e nacional”, avalia o presidente da CDL-BG, Marcos Carbone.
Esse raciocínio segue a lógica de outro dado mostrado na pesquisa, o dos registros ativos no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Em relação à 2021, houve aumento de 3,82%. A maior fatia dos registros no SPC, aponta o levantamento, é oriundo de pessoas físicas, mas chama atenção o crescimento de inclusões envolvendo pessoas jurídicas no sistema do SPC.
Perfil dos cadastros
Assim como registrado em 2021, a maioria dos inadimplentes continuam a dever para o comércio um ticket médio que varia de R$ 100 a R$ 250. O que mudou, no entanto, foi o leve aumento de 35% para 35,71% do contingente de devedores. A dívida com valores de R$ 250 a R$ 500 foi a que registrou a maior queda: 20,75% para 15,16%. Por outro lado, houve aumento entre aqueles que devem as quantias menores. O crescimento na fatia dos consumidores que estão com débitos entre R$ 50 e R$ 100 passou de 18% para 22,98% – enquanto as dívidas abaixo de R$ 50 e acima de R$ 500 se mantiveram estáveis (11% e 15%, respectivamente).
Os números da inadimplência apresentados pela CDL-BG também mostram um dado que chama a atenção: após um salto considerável em 2021, o número de mulheres endividadas caiu de 75,47% para 57,21%, enquanto o dos homens subiu de 24,53% para 42,80%.
Se em 2021 quem mais devia era o público entre 40 a 49 anos, no ano que passou os adultos de 30 a 39 anos assumiram a primeira colocação. A faixa dos 30 que representava 22,89% subiu para 27,34%, enquanto a faixa dos 40 caiu de 25,07% para 22,28%. Entre os idosos com mais de 65 anos, o índice registrou queda de 6,63% para 4,99%. Quem cresceu foi o montante de jovens endividados: as faixas de 18 a 24 e de 25 a 29 anos subiram cerca de dois pontos percentuais em 2022 – de 12% para 14%, em ambos os casos.
O tempo de registro foi o dado que sofreu a principal mudança. Em 2021, o período de inadimplência que concentrava a maioria dos casos era de dois a três anos, com 23,02% do total – no ano passado, passou para 14,05% e caiu para a quarta posição. Agora, a maior fatia mostra um tempo menor de registro – de nove a 12 meses, computando 20,84% (antes, esse montante era de 16,62%). Na segunda colocação estão os que quitam suas dívidas já no primeiro mês, representando 15,65% do total – um aumento de 6% em relação à 2021. A terceira posição é de quem permanece com a dívida entre um e dois anos (14,79%, frente os 20,41% de 2021). “Essa mudança de comportamento no tempo de registro é o dado que mais chama a atenção. Apesar do aumento no montante geral da inadimplência, percebemos que o consumidor está conseguindo quitar suas dívidas com maior agilidade. Isso pode indicar uma mudança de postura e uma reorganização financeira mais salutar”, considera Carbone.
Inadimplência no Brasil
Em consonância com o identificado em Bento Gonçalves, o número de inadimplentes no cenário nacional também voltou a crescer. O levantamento realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) aponta que quatro em cada dez brasileiros adultos (40,15%) estavam negativados em janeiro deste ano. Nesse mês, o volume de consumidores com contas atrasadas cresceu 7,74% em relação ao mesmo período de 2022, atingindo 65,19 milhões de brasileiros.
Foto: Silvestre Santos/ Exata Comunicação