O equipamento pode chegar a 60 mil reais em clínicas particulares

O implante coclear tem se consolidado como um dos mais avançados recursos na reabilitação auditiva de pacientes com surdez severa ou profunda. O procedimento cirúrgico consiste na inserção de uma unidade interna no ouvido do paciente, composta por um feixe de eletrodos que será posicionado dentro da cóclea, região do ouvido interno responsável pela audição, e um receptor estimulador localizado sob a pele, sendo assim um dispositivo interno e outro externo. A tecnologia permite que o som captado pela unidade externa seja processado e enviado diretamente ao nervo auditivo, convertendo-o em impulsos elétricos e possibilitando a percepção sonora pelo cérebro.

A cirurgia é realizada em 32 centros habilitados no país, e em dois no Rio Grande do Sul. O primeiro a ofertar o procedimento no estado é o Hospital de Clínicas de Porto Alegre e o segundo o Hospital Conceição (HNSC), também na capital do estado.

A primeira cirurgia realizada no Hospital Conceição, foi realizada em um homem de 70 anos e contou com a participação de uma equipe multidisciplinar, formada por médicas otorrinolaringologistas, médico residente de otorrinolaringologia, fonoaudiólogas (audiologistas), equipe de enfermagem e a médica otorrinolaringologista do Luciana Lima Martins-Costa, responsável pela cirurgia.

Processo de recuperação e ativação

Luciana explica que o tempo de internação após a cirurgia costuma variar entre um e dois dias, e o retorno às atividades cotidianas é possível em cerca de dez dias, desde que respeitadas as restrições de esforço físico por pelo menos um mês. “O implante só será ativado, ligado, pela fonoaudióloga em cerca de 30 a 45 dias após a cirurgia, logo é preciso reforçar que ninguém sai ouvido imediatamente após o procedimento. Mesmo após a ativação, a resposta tende a ser lenta, gradual e individual. O resultado da resposta ao implante também depende da adesão à fonoterapia no pós-operatório”, destaca. 

Indicação pelo SUS e beneficiários

O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza o implante coclear para indivíduos que possuem perda auditiva severa ou profunda bilateral, sem benefício com o uso de aparelhos auditivos convencionais. 

A otorrinolaringologista explica que os candidatos ao procedimento são divididos em dois grupos:

Crianças e adultos que perderam a audição após já terem desenvolvido a comunicação pela linguagem oral, ou seja, escutaram previamente, desenvolveram a linguagem oral e por algum motivo perderam completamente a audição.

 Já o segundo grupo, são aquelas crianças que nascem com a surdez completa e realizam o implante, idealmente, até os dois anos. Essas crianças aprenderão a ouvir pelo implante, e desenvolverão a comunicação oral através dessa tecnologia, desde que associada a fonoterapia adequada.

Equipe responsável pela cirurgia

Atualmente o Hospital Conceição realiza o implante somente em adultos. Segundo a assessoria de comunicação do Hospital, é recomendado que um novo centro de implantes auditivos inicie suas atividades avaliando adultos devido às questões diagnósticas relacionadas às avaliações pré-operatórias e questões anatômicas que interfiram no procedimento cirúrgico, assim como no que diz respeito a reabilitação auditiva pós-operatória. “À medida que o centro de implante vai amadurecendo, ganhando experiência e segurança nos seus processos de avaliações prévias ao implante, mapeamentos e fonoterapia, passará a receber e implantar as crianças com mais propriedade”, afirma. 

A cirurgia leva ao todo 2h e 30 min, e necessita de equipamento como microscópio cirúrgico, equipamento para monitorização intraoperatória do nervo facial, motor de drill para mastoidectomia, com kit de brocas apropriadas, neurotelemetria transoperatória, e equipamento radiológico para o uso intraoperatório.

Importância do acompanhamento multidisciplinar

Luciana salienta que para um resultado eficaz, o paciente precisa ser acompanhado por uma equipe multidisciplinar. O otorrinolaringologista conduz o procedimento cirúrgico e avalia a saúde auditiva do paciente. O fonoaudiólogo audiologista realiza os mapeamentos periódicos do implante para garantir seu funcionamento adequado, enquanto o fonoterapeuta auxilia o paciente no processo de adaptação aos novos estímulos sonoros. Ademais, avaliações pré-operatórias por psicólogos e assistentes sociais são fundamentais para garantir que o paciente e sua família estejam preparados para a jornada da reabilitação auditiva. “Para todos os pacientes é preciso estar comprometido com o processo terapêutico, assim como estar com o ajuste de expectativas adequado. Também é necessário zelar pelo cuidado com os componentes da unidade externa. Nesse sentido, a avaliação pré-operatória pelo profissional da psicologia e pela assistente social são muito importantes. Em alguns casos específicos, podem haver contra indicações anatômicas que impossibilitem a cirurgia, assim como contra indicações clínicas”, reforça.

Estrutura e funcionamento do implante

O implante coclear é composto por duas unidades: Unidade externa: A unidade externa é constituída por um processador de fala, uma antena transmissora e um microfone. O microfone capta o som do ambiente e o transmite para o processador de fala. Este os codifica em impulsos elétricos que serão transmitidos até a antena transmissora. A partir da antena transmissora, o sinal é transmitido através da pele por radiofrequência e chega na unidade interna.

Unidade interna: A unidade interna é implantada cirurgicamente, é composta pelo receptor-estimulador que recebe o sinal, decodifica e manda para o feixe de eletrodos inserido dentro do ouvido do paciente. As unidades externa e interna se fixam através de um ímã localizado junto à antena.

As duas unidades se conectam por meio de um ímã, garantindo a transmissão eficiente do sinal auditivo.

Benefícios e expectativas

Os benefícios do implante coclear vão além da recuperação auditiva. Em adultos que perderam a audição ao longo da vida, a tecnologia possibilita maior confiança e independência em interações sociais. Já em crianças implantadas precocemente, a possibilidade de desenvolver a fala e a linguagem oral é significativamente ampliada, desde que o acompanhamento terapêutico seja rigorosamente seguido.