Moradores e voluntários mobilizam esforços para auxiliar os afetados, enquanto supermercados se mobilizam para ajudar os afetados e promover a economia local com campanhas de compra de produtos gaúchos
Bento Gonçalves, uma das cidades mais afetadas pelas recentes enchentes e deslizamentos de terra no Rio Grande do Sul, não apenas pela devastação física, mas também desafios significativos no abastecimento dos mercados locais. A tragédia não apenas interrompeu parcialmente o fornecimento de alimentos e produtos essenciais, mas também gerou uma série de preocupações em relação aos preços, disponibilidade e logística de distribuição.
Impacto nas Prateleiras dos Mercados
As enchentes e deslizamentos deixaram muitas áreas inacessíveis e causaram danos à infraestrutura, incluindo estradas e pontes. Como resultado, o abastecimento de alimentos e outros produtos básicos foi severamente afetado.
Muitos locais dos estados enfrentam escassez de estoque devido à dificuldade de transporte e à interrupção das rotas de abastecimento. O presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, garantiu que os estabelecimentos estão recebendo normalmente os produtos de seus fornecedores, conforme ocorre a liberação de vias e rotas. “O Brasil sempre respeitou muito os gaúchos, por ser um povo que desbravou, ajudou a desenvolver grande parte desses estados brasileiros. Nós temos um projeto a médio e longo prazo, de ajuda, de apoio, demandas, conversas com o governo estadual, federal e o nosso objetivo é esse, de reconstruir e ajudar as pessoas”, relata longo.
Em nota, a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) informou que “estamos monitorando a logística e o abastecimento dos produtos essenciais à população. Até o momento, os estoques e as operações de abastecimento do varejo estão normalizados com diversas marcas, preços e promoções para atender à demanda de consumo tanto nas lojas físicas quanto pelo e-commerce”, relata a instituição.
A associação recomenda que os consumidores não façam estoques em casa para que todos tenham acesso contínuo aos produtos e que se for necessário, será solicitado ao governo o acolhimento aos produtores do Rio Grande do Sul e a abertura da importação para completar o abastecimento da população brasileira.
Apesar dos desafios enfrentados, a comunidade de Bento Gonçalves tem demonstrado incrível solidariedade e resiliência. Iniciativas locais estão surgindo para fornecer assistência aos afetados pelas enchentes, incluindo doações de alimentos, água e produtos de primeira necessidade. Além disso, os voluntários estão se mobilizando para ajudar na distribuição de alimentos e na limpeza das áreas afetadas, demonstrando o espírito de união e apoio mútuo em tempos difíceis.
Na segunda-feira, 13, o setor supermercadista brasileiro avalia colocar uma “bandeirinha” em produtos que tenham parte da sua produção no Rio Grande do Sul. A ideia é incentivar a população do Brasil a comprar estes itens e ajudar os negócios no estado.
Esse movimento se deve a fala do prefeito, Diogo Segabinazzi, que em um vídeo nas suas redes sociais, fez um apelo para que a população consuma produtos gaúchos. O vídeo em questão conta com quase quatro milhões de visualizações e 100 mil reações positivas. “Pode ser um vinho daqui da nossa Bento Gonçalves, pode ser uma carne da fronteira Oeste. Pode ser um quilo de arroz da região Sul ou então da Quarta Colônia. Uma carne de porco do Vale do Taquari, ou então um sapato do Vale dos Sinos”, disse Segabinazzi.
O prefeito orienta donos de mercados a montarem prateleiras com produtos gaúchos para estimular a venda. João Galassi, presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) afirmou, em evento que reuniu o setor alimentício, que este tipo de ação é menos viável, mas sugeriu o uso das “bandeirinhas”.
Já existe um posicionamento público da associação aos consumidores para privilegiarem produtos da região neste momento. “Comprar vinhos, carnes, sapatos e arroz produzidos por empresas gaúchas é uma maneira de ajudar as pessoas que estão em situação grave no estado”, indicou a Abras em uma nota.
A Agas, está lutando ativamente no âmbito nacional para a valorização e apoio dos mercados gaúchos. Por isso, Longo acredita que as bandeiras, vão incentivar e impulsionar a volta da economia do estado. “Então, no momento, fizemos esse lançamento, apresentado, no maior evento de submercados do mundo, aqui em São Paulo. Pedimos essa parceria, apoio para as marcas gaúchas. Está se criando um selo, para diversas marcas. A nossa bandeira, as cores do amarelo, vermelho e verde com o nosso brasão são respeitadas, é uma marca que dá muita credibilidade em todo o Brasil de origem, de qualidade, de garra e de procedência”, declara.
O presidente também acredita que nesse momento em que o estado se encontra, as empresas precisam dessa oportunidade para poderem se reerguer. “As empresas hoje precisam muito. O empresariado vai reconstruir este país, este Estado, muito rápido. Mas que fique essa lição, o Brasil nos ajudou, mandaram milhões para o nosso Estado, isso aumenta muito a nossa responsabilidade. A própria Agas, está recebendo recursos de algumas entidades do Brasil e nós estamos com um projeto para reestruturar tudo”, conclui.
Ações tomadas
Os proprietários de mercados locais enfrentam um desafio sem precedentes para garantir o abastecimento de seus estabelecimentos e atender às necessidades dos clientes. Muito lidando com a escassez de estoque, dificuldades logísticas e aumento nos custos de transporte. Além disso, o estresse está sob pressão para manter os preços econômicos e acessíveis para a comunidade, ao mesmo tempo em que busca garantir a sustentabilidade financeira de seus negócios.
Alex Plisk, dono da rede de Supermercado Grepar, foi afetado diretamente no abastecimento, em especial produtos de hortifruti (ex ;verduras e legumes ), mas, segundo ele, a grande maioria dos alimentos estão supridos. “O que acontece é que há uma demora maior para os produtos chegarem ao mercado devido aos danos das estradas, sendo buscadas rotas alternativas, que as vezes são maiores pelos fornecedores, quando possível”, conta.
Os seus mercados, possuem estoque há pelo menos um mês. “No geral possuímos estoques para uns 30 dias como produtos de grãos como que são arroz, algumas marcas preferências de cliente são substituídas por outras na eventual falta”, relata.
O Caitá supermercados iniciou uma campanha de incentivo para os consumidores comprarem produtos de origem gaúcha. Para os consumidores identificarem quais são os produtos, onde em gôndolas na entrada das lojas e prateleiras identificadas expõem uma série de itens em destaque. O portfólio tenta contemplar a maior diversidade possível de produtos gaúchos. “Queremos incentivar o consumo de produtos feitos no Rio Grande do Sul. Em todas as lojas, os clientes vão encontrar prateleiras com bandeiras em produtos de origem gaúcha”, comentou a instituição em suas redes sociais.
Todos os acontecimentos recentes, acabaram gerando um impacto direto nos preços dos produtos nos mercados locais. A escassez de oferta e a alta demanda, resultaram em aumentos de preços em alguns itens, como água engarrafada, alimentos enlatados e produtos de limpeza. Essa situação tem gerado preocupação entre os consumidores, que enfrentam dificuldades para manter seus orçamentos financeiros diante desses aumentos de preços.
Ajuda Sul
A ABRAS em parceria com Associação Gaúcha de Atacadistas e Distribuidores (AGAD) e a Associação Gaúcha de Supermercados (AGAS) lançaram na segunda-feira, 6 de maio, o aplicativo AJUDA SUL. O objetivo é entender o cenário atual do setor por meio da centralização de informações dos estabelecimentos que foram atingidos pelas enchentes. O aplicativo também auxiliará as indústrias de alimentos gaúchas. O Ajuda Sul está disponível para usuários do sistema Android e consiste em um breve questionário a fim de fazer um levantamento e traçar o real cenário dos estabelecimentos atingidos e quais medidas de ajuda estão mais alinhadas às necessidades dos varejistas.
Qual o impacto das chuvas na safra do arroz
As chuvas intensas e as enchentes recentes no Rio Grande do Sul geraram preocupação entre os consumidores quanto à possibilidade de escassez de arroz. Entretanto, um relatório divulgado pelo Instituto Rio Grandense de Arroz (Irga) em 8 de maio de 2024 traz um panorama detalhado sobre a safra de arroz irrigado, tranquilizando a população quanto ao abastecimento deste alimento essencial.
Segundo o Irga, foram semeados 900.203 hectares de arroz para a safra de 2023/24. Até o momento, 758.066 hectares foram colhidos, resultando em uma produção total de 6.440.528 toneladas. Apesar dos danos causados pelas enchentes, restam 142.137 hectares para serem colhidos. Desses, 22.952 hectares estão totalmente perdidos e 17.903 hectares estão parcialmente submersos pelas águas. Felizmente, 101.309 hectares não foram atingidos pelas cheias.
Considerando a produtividade das áreas não afetadas e o que já foi colhido, o Irga estima que a produção total da safra atual será de 7.149.691 toneladas de arroz. Esta estimativa é apenas ligeiramente inferior à safra anterior (2022/2023), que registrou uma produção de 7.239.000 toneladas.
Em resposta à preocupação da população, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) assegurou que não há risco de falta de arroz nos supermercados. A Abras pediu à população que evite fazer estoques desnecessários do produto, para evitar um desequilíbrio entre oferta e demanda. Segundo a associação, os supermercados já mantêm estoques com uma margem de segurança para enfrentar quaisquer problemas eventuais no abastecimento.
A produção de arroz no Rio Grande do Sul é crucial, representando cerca de 70% de todo o volume produzido no país. Embora as enchentes tenham causado perdas significativas, grande parte da safra já havia sido colhida antes das inundações, o que ajudou a mitigar os prejuízos. No entanto, o medo de escassez levou algumas pessoas a estocar arroz em casa, o que fez com que alguns supermercados limitassem a venda do produto para garantir que todos os consumidores pudessem ser atendidos.