Em um mundo cada vez mais acelerado e com demandas crescentes, a desorganização é muitas vezes vista apenas como um inconveniente. No entanto, seus efeitos vão muito além da estética de um ambiente ou da perda de tempo procurando objetos. A verdade é que a desorganização, seja ela física ou mental, pode ter um impacto profundo e negativo na nossa saúde mental.
A desorganização, em seus variados aspectos, é um terreno fértil para o estresse, a ansiedade e a dificuldade de concentração. Essa falha cotidiana culmina na sensação de sobrecarga e desesperança, impactando diretamente a saúde mental.Compreender essa conexão é o primeiro passo para buscar soluções e transformar a forma como vivemos e interagimos com o mundo ao nosso redor.

A desorganização como sinal de sofrimento psíquico
De acordo com a psicóloga Larissa Santos Bohm, o ser humano precisa estar em equilíbrio, com uma base estável lhe proporcionando segurança emocional. “Quando essa estrutura se perde ou não existe, tanto por causas internas quanto externas, é comum o surgimento de sinais de sofrimento psíquico, como cansaço mental, dificuldade de concentração, aumento do estresse, ansiedade, alimentação desregulada e menor controle dos impulsos”, destaca.
Larissa explica que as pessoas são diferentes umas das outras, então as adaptações também serão. “Cada pessoa é única, algumas se adaptam melhor a ambientes mais flexíveis e criativos, enquanto outras precisam de ordem e organização para se sentirem bem”, enfatiza.
Além disso, ambientes desorganizados podem aumentar os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, de acordo com a psicóloga. “O sofrimento emocional que a desorganização pode causar pode vir acompanhado de uma sensação de sobrecarga, dificuldade de concentração, estresse, problemas de memória, falta de motivação e, em alguns casos, pode agravar quadros de ansiedade, estresse e depressão”, salienta.
No ambiente frenético de hoje, onde a pressão por produtividade e a busca pelo bem-estar muitas vezes colidem. Compreender e intervir nesse ciclo vicioso torna-se mais urgente do que nunca. “O mal-estar emocional se mistura com a dificuldade de ação, o que, com o tempo, pode aumentar ainda mais o sofrimento psíquico, deixando o indivíduo sem motivações para viver e sem conseguir relaxar. Isso tudo vira uma bola de neve, se não tratado a tempo”, explica a psicóloga.

Larissa Santos Bohm

Compreendendo a desordem
A desordem, muitas vezes, é um fardo invisível. Não se trata apenas do caos aparente que os outros veem, mas sim do incômodo silencioso e pessoal que ela provoca. A especialista sublinha a questão: “o que torna a desorganização prejudicial não é apenas o quanto o ambiente está bagunçado aos olhos dos outros, mas o quanto isso começa a afetar emocional e funcionalmente a vida de uma pessoa”, explica.

Quando a desorganização vira um alerta
De acordo com Larissa, muitas vezes a desorganização pode estar ligada diretamente a acontecimentos pessoais. “Quando a desordem começa a gerar estresse constante, dificuldade de concentração, sentimento de culpa ou interfere na rotina do ser humano, é sinal de que algo necessita de atenção”, enfatiza.
Para entender se a desordem está afetando a vida de maneira preocupante, a psicóloga sugere fazer-se duas perguntas: essa desorganização tem me feito mal? Tem dificultado meu dia a dia? Se a resposta for sim, é hora de agir. “É preciso buscar estratégias práticas, pequenos passos e, se necessário, apoio psicológico para lidar com este momento que precisa de cuidado”, esclarece.
Muitas vezes, as pessoas que estão passando por uma fase de desorganização tentam lidar com a bagunça e melhorar seu estilo de vida, porém não é tão fácil quanto parece. “Muitas vezes, a pessoa até tenta lidar com a bagunça, mas se sente sem energia ou motivação. E isso pode levar à procrastinação, seguida de culpa, o que alimenta aquele ciclo difícil de romper. Esse padrão é muito comum em quem enfrenta quadros como depressão ou TDAH, por exemplo”, aponta Larissa.
O ambiente em que vivemos é muito mais do que apenas um pano de fundo; ele é um espelho que reflete e, muitas vezes, molda nosso bem-estar. Segundo Larissa, para aqueles que buscam controle e segurança, um espaço desorganizado pode se tornar um verdadeiro desafio. “É importante lembrar que o ambiente em que vivemos impacta diretamente na forma como nos sentimos”, afirma. Essa desordem visível, ou mesmo a sensação de falta de controle sobre o próprio espaço, pode ir muito além do incômodo estético, sendo capaz de enfraquecer a autoestima, reduzir a motivação e até mesmo interferir nas relações pessoais. Entender essa conexão é o primeiro passo para transformar não só o ambiente, mas a própria vida.

Caminhos para superar a desorganização
A especialista destaca que é preciso, primeiramente, entender que a culpa pela falta de organização não é do indivíduo propriamente. “Ao invés de tentar arrumar tudo de uma vez só, o que pode ser frustrante e cansativo, escolha uma tarefa simples como organizar uma gaveta, a pia da cozinha, ou simplesmente anotar suas tarefas do dia. São estratégias pequenas e mais fáceis de alcançar, sem nos sobrecarregarmos, que ajudam a aliviar a mente e criam uma sensação de progresso”, destaca Larissa.
Outra dica é criar rotinas leves e flexíveis, mas que realmente funcionem. “Pode-se deixar tudo preparado na noite anterior, anotar compromissos no celular ou colocar lembretes visíveis em casa. Quando tiramos as tarefas da cabeça e as colocamos no papel ou em algum lugar acessível, a sensação de desorganização diminui”, explica.
Além disso, a ajuda psicológica é essencial nesses casos. “O psicólogo pode ajudar o paciente a entender como seus pensamentos, emoções e comportamentos estão ligados à desorganização. Por exemplo, ele pode auxiliar a identificar crenças de incapacidade ou ineficiência que podem estar ligadas a uma desordem física, o que acaba aumentando o sofrimento emocional e cognitivo de uma pessoa”, salienta.
Porém, é importante destacar que cada indivíduo tem um jeito único de lidar com as questões pessoais; antes de tirar conclusões, é necessário respeitar o espaço em que está vivendo. “Não existe uma fórmula certa ou um caminho único. O essencial é observar como você se sente e perceber quando a desordem começa a afetar o seu bem-estar. Nessas horas, buscar pequenas mudanças e, se for necessário, apoio profissional, pode ser um verdadeiro ato de carinho com você mesmo”, finaliza a psicóloga.

Benefícios de um ambiente organizado

  • Redução do estresse e melhoria do sono: um ambiente em ordem promove calma e controle, diminuindo o estresse e impactando positivamente a qualidade do sono;
  • Foco e criatividade aprimorados: no trabalho, um espaço organizado reduz distrações, otimiza o foco e estimula a criatividade, facilitando a execução das tarefas diárias;
  • Fortalecimento de relações: o esforço em manter a organização demonstra respeito e consideração por quem se compartilha o espaço, fortalecendo laços.