A preservação da cultura segue viva na Capital Nacional do Vinho

A imigração polonesa no Brasil é marcada por um legado de resistência e adaptação. Bento Gonçalves não fugiu à regra. Desde o final do século XIX, quando os primeiros poloneses chegaram à região, enfrentando desafios impostos pelo clima e diferenças territoriais, a comunidade tem lutado para preservar sua identidade cultural.

A Representação Central da Comunidade Brasileiro-Polonesa no Brasil (Braspol) de Bento Gonçalves foi fundada em 1993, e de lá para cá houve um crescimento na valorização das tradições polonesas no município.

Mauro César Noskowski, um dos fundadores da Braspol em Bento Gonçalves, destaca a importância desse movimento para a preservação da cultura polonesa na cidade. “Fui o fundador da Braspol de Bento Gonçalves e presidente por anos, mas não fundei sozinho”, relembra Noskowski.

Assim como Noskowski, o atual presidente da Braspol, Nelson Zelbrazikowoki destaca outras lideranças dentro da organização. “Além de Mauro, Luis Gromowski, Neiva Salete Lawandoski, Gabriel Kleinowski, Andrea Grzelak também foram presidentes. Também contamos com a ajuda do vice-presidente da Braspol do Rio Grande do Sul na época, Sr. André Hamerski, para a fundação do núcleo em Bento Gonçalves”, ressalta.

Segundo Noskowski, que também é historiador, o maior fluxo de imigrantes poloneses ocorreu em 1889, oriundos principalmente de Varsóvia e arredores. “Ao desembarcar no Brasil, muitos enfrentaram uma difícil jornada de trem e navio até chegarem ao Rio Grande do Sul, passando por quarentenas e doenças. Os que chegaram vivos continuaram uma jornada até Porto Alegre e, de lá, até Bento Gonçalves, muitas vezes a pé ou em carroças”, explica.

Casa Dytz

Noskowski também lidera um movimento para preservar a casa histórica construída no estilo Zakopane em Bento Gonçalves, uma arquitetura típica das montanhas polonesas. “Essa casa poderia se tornar um memorial ou museu da cultura polonesa. Daria para passar nas casas de poloneses perto do Rio das Antas, solicitando material típico, já que perdemos muito da história polonesa por causa da construção das barragens, onde inundou tudo”, propõe Mauro, que acredita no potencial turístico e cultural de Bento Gonçalves para acolher um espaço de preservação da memória polonesa. Ele destaca o apoio das comunidades locais e do Consulado da Polônia em Curitiba para a possível viabilização do projeto.

A casa histórica polonesa ao estilo Zakopane, está localizada na Rua Olavo Bilac, ao lado da Vinícola Aurora. Zakopane é uma cidade turística no sul da Polônia e na base das Montanhas Tatra.

Segundo o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Bento Gonçalves, a edificação está marcada no plano diretor como interesse histórico e na área de proteção ao patrimônio histórico cultural e turístico.

A casa Dytz serviu de cenário para a capa do CD Pamiatki, de canções polonesas

Papel da Braspol

A Braspol, que começou com um pequeno grupo de descendentes de poloneses, hoje conecta a comunidade polonesa de Bento Gonçalves a um vasto grupo de 43 comunidades espalhadas em 16 estados brasileiros. No Facebook, a página “Descendentes de Poloneses”, feita por Noskowski, conta com mais de 22 mil participantes.

Noskowski se orgulha de ter iniciado um grupo que transcende fronteiras, mantendo viva a história e as raízes polonesas. “Queremos criar um museu vivo, onde a cultura polonesa não seja apenas preservada, mas também vivenciada, com oficinas de artesanato e culinária”, planeja Noskowski.

Nelson Zelbrazikowoki, atual presidente da Braspol no núcleo de Bento Gonçalves, destaca a importância do trabalho da organização. “Um povo sem raízes é um povo sem identidade. Por isso, trabalhamos para manter viva a cultura polonesa. A Braspol central é em Curitiba, fundada em 1990, e em todo país temos mais de 330 núcleos. Este ano estamos comemorando 149 anos da imigração polonesa no Rio Grande do Sul”, pontua.

Zelbrazikowoki destaca a integração que ocorre entre os grupos, que frequentemente participam de eventos uns dos outros, fortalecendo a identidade e a conexão da comunidade polonesa. “Nós temos uma relação muito boa com os núcleos da região, Caxias do Sul, Nova Prata, Cotiporã, Casca, as mais próximas”, frisa.

Outro ponto importante do trabalho da Braspol é a oferta de aulas de polonês. A iniciativa surgiu através de uma colaboração com o Consulado da Polônia em Curitiba, que enviou uma professora diretamente do país. As aulas acontecem semanalmente na Escola Bom Retiro, e estão abertas a qualquer pessoa interessada em aprender o idioma, independente de ter ou não ascendência polonesa.

Além disso, a Braspol organiza a Missa em Honra a Nossa Senhora das Graças, que irá acontecer dia 28, na Igreja Matriz Cristo Rei. E também haverá um jantar típico polonês com pratos tradicionais, agendado para o dia 19 de outubro na comunidade Santa Rita.

Alguns significados

– Czarnina: sopa de pato
– Ognisko: significa fogo/fogueira. As pessoas se reúnem ao redor de uma fogueira, assam salsichões ou linguiças pré-cozidas na ponta de uma taquara fina e põem no pão como complemento (pode ainda ser acrescido com tomate e condimentos). É sempre celebrado antes do Natal.
– Oplatek: desde os mais remotos tempos, na Polônia, comemora-se a Vigília de Natal com a partilha do Pão Ázimo. Tem o significado, sobretudo, no perdão mútuo e na confraternização entre os membros da família e da comunidade.

Ognisko é uma celebração onde as pessoas se reúnem ao redor de uma fogueira para assar salsichões ou linguiças pré-cozidas