Alexandre Misturini explica sobre as diferenças de gerações dentro da sala de aula, e a importância do professor sempre se atualizar em meio às novidades tecnológicas

Professor de História, Pós Graduado em orientação escolar, Coordenador da 16ª Coordenadoria Regional de Educação, 27 anos na educação e passagens como diretor de escola, Alexandre Misturini, relata as dificuldades encontradas em sala de aula pelo confronto de gerações, já que existem professores ainda não habituados com os novos meios tecnológicos, e alunos que vieram de uma geração nativa digital. Além disso, o Coordenador abordou assuntos variados no que diz respeito à educação estadual no Município, como reivindicações dos professores, necessidades nas escolas e o futuro déficit de professores.

Diferenças geracionais

Hoje, um dos maiores desafios da educação, segundo Misturini, é que as duas gerações que se encontram na sala de aula, o professor e o aluno, consigam se compreender. E que o docente tenha capacidade de cativar aquele discente através da tecnologia. “Sou geração X, com mentalidade Y. Depois dessas tem a Millennials, a Z e a geração atual, que é totalmente nativo digital. Portanto, existe um confronto de gerações em uma sala de aula. Os alunos são nativos digitais, enquanto muitos professores não estão tão familiarizados com a tecnologia”, esclarece.

Como um grande apreciador dos meios digitais, o Coordenador sempre estudou para compreender como poderia usar da tecnologia para o ensino. “Me dediquei aos avanços tecnológicos, a compreender e aprender de que forma utilizar, para ter a mesma linguagem que meu aluno. Realmente, os discentes são diferentes. Hoje em dia, não faz sentido copiar trechos de livros quando há disponibilidade de versões digitais. Hoje se tem um Chromebook onde eles podem fazer diversas atividades. Além disso, noto que eles sabem trabalhar de forma colaborativa, participativa e proativa. Qual é o confronto de gerações? O meu professor às vezes não está com esse mesmo perfil”, diz.

Misturini destaca que há necessidade de mudança quando se diz respeito ao aprendizado digital. “Na minha concepção, nos formamos na disciplina específica que vamos lecionar, mas a formação do professor é constante. Acredito que nós não podemos parar nunca de nos atualizar. Já utilizei o Twitter para dar aula de filosofia, e se vê a animação dos jovens em trabalhar com aspectos da realidade deles na sala de aula”, e complementa que “não é desprezar o velho, só que se constrói sempre desconstruindo o velho. Mas não necessariamente. Entretanto, na educação, o importante é isso, é mudar. É crucial reconhecer que as crianças estão mudando; elas já nasceram em um mundo digital”, salienta.

Quando a educação for prioridade do país, do governo e da população, haverá mudanças significativas.
Alexandre Misturini
Coordenador da 16º Coordenadoria Regional de Educação

Programas governamentais

O Coordenador traz que o Governo Estadual implementou uma série de programas e políticas de educação com o objetivo de melhorar as condições nas escolas e promover o sucesso dos alunos. “Existem programas governamentais e políticas de educação. Temos o ‘Todo Jovem na Escola’ que é uma bolsa para alunos que estão no Cadastro Único. Além disso, existe o ‘Agiliza RS’, que é uma verba extra à autonomia financeira que as escolas recebem trimestralmente ou quadrimestral, para pequenas reformas. Nossas escolas da regional em especial são todas muito boas, pois ocorrem muitas obras de melhorias”, diz.

Além disso, ele também menciona que em 2019, todos professores receberam Chromebooks, sem falar que, os alunos também têm os mini computadores disponíveis em sala de aula para que consigam realizar atividades de forma online. “Todos estes programas do governo são direcionados para a melhoria da qualidade, do índice de alfabetização, da proficiência na língua portuguesa, na matemática, nas avaliações externas, como o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb)”, elenca.

As necessidade das escolas do estado

Misturini aborda quais os principais recursos que faltam nas escolas da 16ª coordenadoria, a qual ele é responsável. “Encontramos falta de inscritos nos bancos de contrato, tanto para o professor, quanto para os servidores da escola, como; secretário, merendeira e agente de limpeza. Estamos com uma defasagem muito grande, diria que de repente o salário não acompanha o que a iniciativa privada oferece. Por ser uma região muito próspera, a Serra Gaúcha, se torna difícil de conseguir funcionários de escola. Acho que esse é o nosso grande problema”, revela.

Mas, ele salienta que, a maior dificuldade de recursos humanos não está ligada aos professores. “O que ocorre é uma falta pontual, não uma carência de docentes como era antigamente. Hoje, as faltas de professores são pontuais por motivos de licença de saúde, licença de gestante, alguma aposentadoria, mas no geral não faltam professores. Diria que o nosso grande problema é de infraestrutura em relação a esses serviços que a escola oferece”, declara.

Déficit de Professores

Um estudo do Sesi RS apontou um déficit futuro de profissionais da educação. Nas pesquisas apresentadas, em 2040, o Rio Grande do Sul enfrentará a falta de 10 mil docentes na educação infantil, Misturini debate a respeito. “Como professor vejo que, historicamente falando, a educação no nosso país, independentemente de partido ou bandeira, nunca teve uma política nacional de educação que fosse independente da troca de governos. Agora é, já que foi criado o marco legal da educação, que independente de troca de governante os rumos da educação seguem”, realça.

Ele salienta que o problema deste déficit não está ligado somente a questões salariais. “Acredito que a educação nunca teve uma política muito séria, e realmente faltam investimentos em todos os níveis, Federal, Estadual e Municipal. Nesses últimos cinco, seis anos houve diversos investimentos financeiros. Mas vejo, como professor, que é uma questão de investimento, valorização do profissional, e não é só o salário que conta. As escolas deveriam ter profissionais como psicólogos, mas sabe-se que o custo de manter um profissional da psicologia na escola é muito caro”, e acrescenta que “de forma financeira, sabemos que o orçamento do governo federal é R$ 3 bilhões para a educação, e o do fundo partidário, passa dos R$ 5 bilhões. Se preocupam muito mais em financiar as campanhas do que realmente na educação. Acredito que quando ela for prioridade do país, do governo e da população em si, as coisas começarão a mudar”, pondera.

Mas Misturini reitera que apesar da necessidade de apoio dentro dos ambientes, os valores de salários e benefícios são reivindicações da classe. “Acredito que a questão dos funcionários é mais grave, já que estão sem aumento há sete anos ou mais. Tem também a questão do Plano de Carreira de 1974 que tinha diversas vantagens, que na época era um plano para capturar professores. Mas, conforme o Estado foi ficando inchado, com um número maior de profissionais, tanto na área da educação quanto em outras secretarias, hoje, passa por uma reestruturação financeira e fiscal. E tinha aquela concepção de que o Estado pode absorver tudo eternamente, e sabemos que a matemática é única, entra um tanto de valores, e não se pode gastar mais do que ganha”, conclui.