Alguns afirmam ser esporte, outros dizem ser uma tradição. De qualquer forma, um pequeno garoto de Bento Gonçalves se destacou em um torneio nacional de Laço Comprido, no estado do Mato Grosso. Guilherme Barreto voltou para sua cidade natal direto de Querência-MT, onde aconteceu o 18º Rodeio Crioulo Nacional dos Campeões, com dois troféus conquistados nas provas.
Gui, como é conhecido, tem apenas 11 anos e já coleciona troféus e participações em torneios de Laço Comprido no Rio Grande do Sul e em outras regiões do Brasil. Criado com a base familiar enraizada na cultura Tradicionalista Gaúcha, Gui tem como ferramentas de diversão e também de competição, por assim dizer, o cavalo e o laço.
A competição
Entre os dias 18 e 23 de julho, aconteceu o 18º Rodeio Crioulo Nacional dos Campeões – que aconteceu concomitantemente à 8ª Edição dos Jogos Tradicionalistas. E foi na cidade de Querência, no Mato Grosso, que Guilherme Barreto obteve excelentes resultados na competição de Laço Comprido.
Gui disputava na categoria da faixa etária Piá. Nas competições do Laço Individual-dupla, o bento-gonçalvense ficou com a segunda colocação.
Nesta categoria, a classificatória é feita em dupla, mas apenas o melhor ranqueado durante a competição garante a vaga para as finais. Foi o caso de Guilherme, que chegou a vice-liderança geral.
O título do laçador de Bento Gonçalves surgiu na categoria por equipes. Cinco membros compuseram a Seleção do Rio Grande do Sul após seletivas regional e estadual. Guilherme Barreto fez parte do seleto grupo a obter a vitória na competição.
De acordo com o “piá”, algumas foram notadas na cidade mato-grossense. “A viagem foi bastante cansativa e estava muito calor”, afirmou.
Tradição que vem de berço
Sempre ao lado de Guilherme está seu pai, Marcos Barreto. Tradicionalmente imersos na cultura gaúcha, a família Barreto naturalmente se insere nas práticas e atitudes do estado do Rio Grande do Sul.
Segundo Marcos, a paixão do filho pela tradição e o laço começou cedo – antes mesmo que palavras pudessem ser pronunciadas pelo menino. “Quando ele tinha cerca de 10 meses eu pedia para ele imitar os outros nos rodeios. Ele pegava o cadarço na mão e girava”, relembra. O pai completa: “Quando ele conseguiu ter firmeza no carpo, já partiu para a primeira competição em rodeios. Tinha pouco mais de um ano de idade”.
Até os três anos, as disputas de Guilherme eram com as “vacas paradas”, que simulam as vacas a serem laçadas. Foi a partir dos três anos completados que o bento-gonçalvense largou a brincadeira e passou a montar em cavalos para disputas em competições de Laço Comprido.
O orgulho da família – sentido também pelo brioso avô Leocir – vai além das conquistas da criança nas competições de Laço. “Orgulha-nos as conquistas dele, mas o mais importante é que o Guilherme está sempre por perto nas nossas tradições. É um orgulho enorme para nós que fomos criados assim”, explica o avô.
Esporte ou tradição?
Em 2013 o, à época, Ministro dos Esportes Aldo Rebelo (PCdoB), foi ao Mato Grosso e reconheceu o Laço Comprido como modalidade esportivo. Para os praticantes do Rio Grande do Sul, o pensamento é um pouco distinto. Segundo Marcos Barreto, as competições realizadas por seu filho vão além do esporte. “O tradicionalismo vive um dilema. Uns acham que o Laço Comprido é esporte, mas nós não pensamos desta forma. Achamos que isso é tradicionalismo. Se levar para o esporte pode ser que acabe. O Laço só existe porque é tradição”, explicou.
Treinamentos de Guilherme
Mesmo que os resultados do pequeno gaudério sejam bons, não é o desejo da família que haja algum tipo de cobrança ou que se forcem treinamentos. O contrário é o que acontece. Segundo o pai de Guilherme, a naturalidade com que o garoto leva a prática do Laço demonstra que a técnica talvez seja um atributo nato. “Muita gente diz que nós deveríamos cobrar mais. Entretanto não é essa a nossa intenção. Ele é uma criança que gosta de fazer isso. Acredito que seja por não ser forçado e ser um talento natural”, analisou.
Ainda de acordo com Marcos Barreto, os brinquedos usualmente utilizados pelas crianças não são os mesmos utilizados pelo filho. “Ele não tem carrinho, não tem muitos brinquedos. A vida dele é com cavalo e um laço”, afirma.
Os planos para Guilherme Barreto é justamente não pensar em competições. Deixar a criança de apenas 11 anos aproveitar o que o diverte é o que pretende a família. Deixá-lo sair da escola e brincar com o cavalo e um laço é o mais eficiente treinamento para um excelente competidor de Laço Comprido.