Participantes atuam fantasiados de personagens no Hospital Tacchini, trazendo mensagens de esperança aos que estão internados ou em trabalho no local

O voluntariado é o ato de se dedicar a uma atividade por vontade própria, a fim de ajudar pessoas em diversas situações. Quem participa de grupos com esse intuito tem como ideal despertar a solidariedade no próximo e transformar a sociedade através da responsabilidade social individual e em conjunto.

Grupo de Humanização

O grupo de voluntários multiprofissionais do Hospital Tacchini em Bento Gonçalves e Carlos Barbosa existe desde 2006, destinando seu tempo a empreender atividades institucionais em consonância com a Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde, em benefício dos pacientes e dos profissionais da área.

A coordenadora do Grupo de Humanização do Tacchini, Marieni Pizzatto, ressalta que o objetivo é levar o inesperado através do lúdico. “Os participantes brincam, dançam, cantam, contam piadas e relembram com os pacientes e colaboradores muitas histórias de vida. Em todas as ações ressaltamos a importância da vida e possibilitamos, através das brincadeiras, que o paciente esqueça, mesmo que por alguns minutos, das dificuldades impostas pela doença”, afirma.

Com isso, os participantes são reconhecidos pelas suas fantasias, seu entusiasmo e mensagens de esperança que são passadas para cada paciente e colaborador. “Em todas as ações acontece algo maravilhoso, como um sorriso no momento da dor, uma lágrima no momento do medo e uma voz no meio do silêncio. São pequenos gestos, mas com certeza eles possuem um grande significado para quem recebe”, completa.

Amor pela ação

A estudante de Psicologia, Karen Casagrande Cussioli, 27 anos, é voluntária da ONG Parceiros Voluntários de Bento Gonçalves. Junto à cerca de 35 pessoas, faz parte do grupo de humanização que visita o Hospital Tacchini em prol de levar alegria aos que estão em algum momento de tristeza. “Ele existe por conta do Sistema Único de Saúde (SUS), é uma lei que há em todos os hospitais que tenham este tipo de leito. Serve para a gente fazer alguma coisa diferente e que anime os pacientes e os profissionais de saúde que trabalham ali”, conta.

Durante um sábado de cada mês, o grupo se reúne e faz uma ação, unindo fantasias e música. “Passamos pelos quartos do SUS, psiquiatria e, às vezes, conseguimos visitar a UTI e alguns quartos do convênio do Tacchimed. Cada momento nos vestimos de personagens específicos, como princesa, pirata, médico maluco, Minnie, entre outras roupas disponibilizadas através de uma verba. Agora em fevereiro vamos fazer algo relacionado ao Carnaval, em abril terá a Páscoa e em março geralmente é sobre o mês da mulher”, destaca.

Além disso, a distribuição de balas é feita em todas as ocasiões e em alguns momentos músicas e canções são entoadas. “Queremos levar a alegria em formato de doce. Uma coisa diferente acontece quando nosso colega Calebe participa, ele é músico e sempre tentamos combinar as ações para tocar e cantar. O repertório é composto por músicas italianas, sertanejas, antigas, entre outros estilos”, descreve. De acordo com Karen, todo esse trabalho e dedicação sempre emociona quem assiste. “Nós também paramos para conversar um pouco. Os pacientes nos veem como uma esperança e adoram as canções. Às vezes pedem alguma música especial, alguns choram outros cantam junto”, completa.

Para a estudante, participar dessa ação é sentir-se transformado. “Porque a gente vê realidades que não estamos acostumados e passamos a dar valor para muitas coisas na vida. Depois que saio de lá, é revigorante, pois além de trazer alegria, recebo de volta. Nos transmitem esperança, conhecimento e aprendizado. É um trabalho que amo e não tenho pretensão de largar”, encerra.

Um veterano no voluntariado

O professor de música de Farroupilha, Calebe Coelho, 49 anos, faz trabalho voluntário há sete anos em diversos municípios da Serra Gaúcha. O mais atual é no Hospital Tacchini, junto ao grupo de humanização. “Tenho feito, em média, 40 ações voluntárias por mês. Entre cantar e outras atividades, como levar alimento, conseguir fogão, guarda-roupa, essas coisas”, menciona.

Segundo Coelho, sua experiência em outros hospitais fez com que tivesse interesse em expandir as ações justamente para sua cidade natal, Bento Gonçalves. “Entrei em contato com o pessoal responsável pela Parceiros Voluntários, fiz o curso há mais ou menos cinco anos e comecei a realizar o trabalho. A partir disso, fui conversar com Mariene do Hospital Tacchini e expliquei as atividades que já desenvolvi em outros lugares. E prontamente, a gente já estipulou uma maneira de trabalhar em Bento, deu muito certo e foi maravilhoso”, recorda.

Um detalhe que o músico nunca esquece é o que considera sua primeira atuação como voluntário, quando tinha em torno de três a quatro anos. “Estava no Tacchini e meu pai me levantou pelo lado de fora da janela do quarto em que minha bisavó estava. Eu gostava de cantar desde pequeno, então cantei para ela uma música chamada Viola apaixonada”, lembra.

De acordo com Coelho, esse trabalho é maravilhoso e guarda sempre alguma história bonita. “Já cantei para um bebê na UTI pediátrica que era um pouquinho maior que a palma da minha mão. Também já entoei versos para um rapaz jovem, que não sei havia sofrido um acidente, mas aconteceu algo com ele da cintura para baixo. Ele estava muito debilitado e não tinha muita esperança de sair. E aí quando cheguei pra cantar, achei que ele ia pedir uma música moderna, mas ele pediu Halelujah. Ele chorou e foi muito emocionante”, detalha

O músico também salienta que aconteceram situações muito delicadas durante algumas ações, que marcaram sua vida de alguma maneira. “Um dia perguntei se podia cantar na UTI, mas a pessoa responsável pelo setor ficou um pouco indecisa sobre a minha presença. Dali a pouco veio um senhor de uns 90 anos, que quando me viu com a gaita, começou a chorar muito. Toquei em todos os leitos e quando cheguei onde ele estava, era o filho dele que estava pra falecer a qualquer momento. Entrei no quarto e as enfermeiras, todas ao redor, puxaram o lençol e arrumaram o travesseiro de forma que o paciente ficasse o mais confortável possível. Ele estava entubado, com um corte gigantesco na barriga, só esperando a partida. Cantei uma música nem muito alegre, nem triste, e pedi a Deus que ele não morresse naquela hora, pois ficaria muito abalado. Naquela noite ele faleceu”, lamenta.

Outro momento aconteceu com crianças da oncologia. “Certa vez fiz uma vaquinha para conseguir tal valor para comprar uma gaitinha para uma menina com dois ou três anos que estava internada. Infelizmente iria falecer e a gente conseguiu a verba para o instrumento musical. As primeiras duas pessoas, de 64 indivíduos que ofereceram doação, já haviam alcançado o preço da gaita. Tivemos a oportunidade de poder ver a menina com a gaita por 45 dias e a ela esteve o tempo todo tocando”, salienta.

Ainda assim, uma terceira história que lhe chama bastante atenção é sobre um rapaz que não tinha mais esperanças. “Entrei com o grupo no quarto, cantamos com ele, que estava até feliz e a família chorava muito. Naquele momento, não estava entendendo por que as pessoas estavam tristes se o homem parecia relativamente alegre. É porque ele não tinha mais volta”, realça.

Todos esses casos emocionantes incentivaram Coelho a escrever um livro. “Vou contar todos esses relatos, porque são coisas que tocam muito o coração. São momentos que o grupo de humanização vai levar para o resto da vida”. Além de responsabilidade, ele destaca que quem participa tem que ter estrutura. “Nós vivemos situações ali que, na frente do paciente não podemos chorar. Entramos para levar um conforto, então brinco muito e faço com que a música seja uma coisa boa para aquelas pessoas”, completa.

Os pacientes não são os únicos que recebem todo esse carinho, mas sim enfermeiros, médicos, entre outros profissionais que atuam no hospital. “Me lembro que outro dia passou uma tia da limpeza e comecei a cantar uma música e ela me seguiu, continuando as frases da canção. Os funcionários acham muito legal porque é algo diferente”, sublinha.

Para participar, basta entrar em contato com a Parceiros Voluntários de Bento Gonçalves pelo WhatsApp (54) 9.9694 9072 e, após treinamento, os voluntários serão direcionados para o Hospital Tacchini. “Gostaria que todo mundo pudesse ter essa oportunidade, embora nem todos consigam. Mas está aberto e há diversas formas de ajudar, cada um tem que descobrir a sua”, conclui.

Parceiros Voluntários Bento Gonçalves

Organização Não-Governamental (ONG) coordenada no município pelo CIC-BG, a Parceiros Voluntários desempenha um papel que vai muito além de sua frequente participação em campanhas sociais.

O principal objetivo do grupo é desenvolver atividades que estimulem e sensibilizem um número cada vez maior de pessoas para abraçar a causa do voluntariado, incentivando que este modelo de participação cidadã ganhe uma presença ainda mais forte no município. O resultado direto desse empenho comunitário é o surgimento de uma verdadeira consciência solidária, responsável por aproximar quem quer e pode ajudar quem necessita.

Fotos: Arquivo/ Tacchini