Após sete anos na posição de vendedora, Graziane está há um ano como gerente da loja Becker do Centro e conta quais são os desafios que enfrenta. Além disso, fala sobre o ano de 2024 estar sendo bom para as vendas, mesmo no mês de maio, que foi tão conturbado para o estado

Graziane Duarte relata quais as competência necessárias para se tornar um bom vendedor

Graziane Duarte, gerente da Loja Becker, após oito anos como vendedora, conta os principais aprendizados que teve na antiga posição, explicando como e a importância de fidelizar clientes e sobre a dificuldade de encontrar mão de obra para trabalhar no comércio. Além do mais, revela como está a economia da loja, principalmente em relação à tragédia que assolou o estado. “Trabalho com a Becker há 8 anos. Comecei como vendedora e, atualmente, estou na gerência há um ano. A experiência é o que vai te profissionalizando cada vez mais. Tem os altos e baixos, como toda área tem. Mas vamos aprendendo cada dia mais e evoluindo, depende de cada profissional”, conta.

Situação da loja

Por trabalhar há quase uma década no local, Graziane pode observar muitos aspectos do porquê a loja é tão consolidada no estado. “A Becker é uma empresa que dá possibilidade para o cliente, tanto em valores quanto em relação às concorrentes, condições de pagamento, qualidade e pronta entrega. Mesmo que não tenhamos o produto na loja na hora da compra, em três a quatro dias ele está disponível”, destaca.

A gerente acredita que seja por isso que, mesmo em momentos de crise, a loja consegue se reinventar e atender ao seu público. “Nossa loja está muito bem na questão de vendas, mesmo com o que está acontecendo. Pois as realizamos pensando no cliente e nas necessidades deles”, ressalta.

O diferencial

Pela loja ter duas unidades na cidade, uma vai ajudando a outra, e isso é um diferencial que faz a loja crescer. “Penso que a Becker tem bastante prestígio em evoluir. No Cidade Alta contamos com os mesmos produtos, além dos que temos aqui, trabalhamos com a linha de construção. Então, esse é o diferencial, por ser a mesma loja, trabalhamos em equipe. Caso não tenha um produto aqui, tem lá e vice-versa”, conta.

Por conta disso, existem opções diversificadas para aquele comprador. “O cliente vai vir aqui, vai comprar um móvel, mas também precisará de cimento, de forro, e vamos ter para oferecer . Claro que, se ele comprar conosco, terá que retirar no Cidade Alta, mas quero dizer que não temos uma divisão de produtos, apenas de endereço. E como nossa estrutura lá acaba sendo maior, acabamos tendo mais opções”, alega.

Catástrofe climática

O mês de maio será histórico para o estado do Rio Grande do Sul, já que afetou milhares de pessoas, e justamente por isso, a economia sofrerá com os resultados da situação. “Acredito que vai mudar um pouco a economia com tudo o que aconteceu. Em um primeiro momento, por conta das perdas, acredito que vai ter procura por móveis, eletrodomésticos e todo tipo de produto. Mas acredito que depois vai decair um pouco, porque penso que o desemprego irá aumentar, pois foi muito forte e imagino que, para poder girar, vai levar um tempo ainda. Não digo que vai aprofundar, mas acredito que vai pesar um pouco”, realça.

Entretanto, o que Graziane percebeu é que, mesmo neste momento, conseguiu fazer boas vendas. “Nesse período de maio, mesmo durante toda essa catástrofe que assolava o estado, conseguimos vender. Teve bastante procura também para as pessoas que precisavam, de alguém querendo ajudar de alguma forma, dando algum tipo de produto. Para nós, continuou normal até o momento”, explica.

Claro que, por conta das estradas interrompidas, houve problemas na logística. “Nosso depósito fica em Venâncio Aires, então ficou trancado ali na ponta de Lajes. Logo, atrasou um pouco. Nós normalmente recebemos duas cargas na semana. Como teve aquela situação ali, ela está vindo uma vez por semana por conta dos movimentos, mas não atingiu de maneira que não pudesse revidar. Além de que, nosso estoque estava bem completo e isso ajudou muito”, afirma, e complementa que “nosso faturamento não caiu, ficou dentro do que trabalhamos e do que estávamos esperando para 2024. Para nós, no momento, não decaiu. Ficou normal. Claro, na semana depois do feriado do dia primeiro, na semana que antecede o Dia das Mães, deu uma decaída, mas logo retornou. Sobre as vendas, sentimos que aumentou. Penso que como muitas pessoas perderam alguns itens, sentimos um aumento na procura por eletrodomésticos e camas. O frio também, e até as chuvas, fez com que houvesse uma procura maior por secadoras”, realça.

Mão de obra

Por trabalhar em comércio, é normal que ela observe, não somente em sua loja, mas como um todo, como estão as situações. Nisso, a gerente pode notar a questão da mão de obra, que muitas vezes não é fácil de encontrar. “Hoje, o que vejo, não só da minha parte, como conversamos bastante com outras lojas e outros setores, é que falta mão de obra. Não que precise ser qualificada, porque penso que todo mundo tem o direito de aprender, de ter a primeira chance. Mas, no momento, vejo que tem bastante falta de vontade nas pessoas. Existem vagas de emprego não só aqui, como em qualquer outro lugar, mas as pessoas não vêm, elas não ficam. Quando vem, muitas vezes não se pode contar com elas”, salienta.

Ela acredita que o que pesa são os horários e as folgas. “Um dos motivos disso acontecer, acredito que seja por causa de trabalhar no final de semana e no final de ano. Porque geralmente a fábrica fecha no final do ano e o comércio é a época das vendas, é a época que vai fazer dinheiro, que vai girar. Não vejo que seja por causa do salário, porque é bom, o horário também não é ruim, acredito que é o final de semana que pesa”, alega.

Na loja onde ela atua como gerente, o importante é ter vontade de aprender. “Quando surgiram as vagas aqui, na abertura mesmo, tivemos que vir com toda a equipe da outra loja. Foi contratada de imediato, e não precisava de experiência, cada um teria em torno de 15 a 20 dias para aprender. Depois tivemos outras contratações, mas só para ampliar, porque felizmente nossos funcionários se mantiveram”, relata.

Trajetória

De vendedora a gerente, Graziane trabalha com o que, mesmo antes de assumir o cargo, já exercia. Sua sede de conhecimento foi um grande auxílio em todo o seu processo de aprendizagem. “Trabalhei nas vendas, porém, fazia de tudo. Tinha curiosidade em saber fazer. O vendedor, por exemplo, está cotado para estar ali na porta, para arrumar o produto, deixar tudo mais apresentável, até para poder vender. Depois da venda, ele vai para o caixa ou para o crediário. Então, eu tinha aquela vontade de saber como funcionava”, diz.


Gostando do que fazia, foi em busca de outras tarefas que lhe pareciam agradáveis, e a partir disso foi conhecendo as funções de todos os setores. “Logo, nos momentos que tinha folga, estava fazendo cartaz, queria que o produto ficasse visível. Aquele produto que estava sem preço e estava no catálogo, fazia um cartaz. Mas sem pretensão, só para ficar melhor, para conseguir vender. De repente, me interessei em saber como era lá no cadastro, porque aqui na frente só fazíamos um pré-cadastro para venda, depois é passado para o crediário e do crediário para o caixa. Então, fui passando de setor em setor, mas nunca deixei de vender”, ressalta.


Mais do que vender, a gerente gosta de trabalhar com o público e ter uma relação que ultrapasse a simples troca. “Temos também a parte do consórcio, e tinha uma curiosidade imensa de saber como vender e como é que vou fazer, porque é um produto que te dá valor e te dá dinheiro. E o vendedor quer vender mais e ter mais clientes, mas principalmente que ele saia gostando do atendimento daquele funcionário e que seja fidelizado. Naquela época do Covid, que não podíamos vender, mandava bastante mensagem aos clientes perguntando como estavam, se precisavam de alguma ajuda, até porque tinha pessoas de mais idade que não podiam ir ao mercado. Me preocupava com aquele cliente, e não só ofereceria o meu produto”, diz.

Como ser um bom vendedor

Para garantir a venda não é tão simples, mas Graziane entende que existem técnicas que possam fazer com que aproxime a pessoa da compra. “Geralmente, quando bem atendido e tratado, o cliente vai voltar. Vai ficar com o teu número, e quando precisar de um produto, vai te ligar. Às vezes, é um senhor mais de idade, que pergunta se conseguimos trazer até ele, então acredito que é a boa vontade e a vontade de vender, de gostar do que se faz. Acho que isso auxilia bastante”, constata.

Além disso, é necessário ter sempre pés no chão para saber se é o que quer, e batalhar por aquilo. “Se pudesse aconselhar um jovem vendedor que quer crescer na área, diria que não pode desistir. Às vezes estamos de mau humor, ou com um problema em casa. Mas sempre digo, saiu de casa, faz o nome do pai, vem para o teu trabalho. Se tu não tá gostando, já deixa logo de início, porque isso não vai te levar para frente. E vai ter teu problema, mas o teu problema tu vai ter que deixar em casa. E aqui é a outra parte. Vai ter aquele probleminha daquele cliente que já vem mal-humorado, e tem que saber deixar para lá, e sempre tratá-lo bem”, diz.

Também, conta quais as dificuldades que envolvem a profissão. “Os maiores desafios em vender é porque para convencer, ou auxiliar alguém a comprar aquele produto, é necessário conhecê-lo. Porque o cliente que entende vai te questionar sobre, e não tem como pesquisar na hora, precisa saber. Então, é necessário muito conhecimento sobre o que se vende”, realça.

Momentos Difíceis

Neste período, onde tantas pessoas foram atingidas, Graziane pensa que é necessário manter a união que já está havendo entre as entidades, os governos e os cidadãos. “Acredito que agora devemos estar unidos. Penso que, claro que todo mundo tem seu produto, todo mundo quer vender. Todo mundo tem sua forma de vender, mas acredito que um não precisa atingir o outro. A união do comércio é fundamental em momentos de crise”, explica.

Para auxiliar as pessoas que estão reconstruindo o que perderam, será necessário um olhar mais gentil do comércio, flexibilizando as compras. “Penso que seja necessário, no primeiro momento, dar chance para o pessoal, porque agora vai ter muitas pessoas desempregadas. Logo, facilitar, ter uma forma de auxiliar. É claro que nós que estamos aqui não podemos perder também. Nenhuma empresa pode perder, mas vai ter que ter oportunidade. Crédito facilitado, diferenciado, para que aquela pessoa lá consiga fazer, flexibilizar mais”, alega.

A loja conta com duas unidades na cidade, sendo uma no Centro e a outra no bairro Cidade Alta