Hábitos saudáveis, como manter um peso adequado, fazer atividade física, evitar o tabagismo e ter uma alimentação balanceada são fatores essenciais, conforme obstetra

De alguns anos para cá, a realidade da mulher mudou e ela começou a ter novos planos, sonhos e objetivos. Hoje os propósitos incluem estudos e vida profissional. Com isso, aumentar a família é um projeto que está ficando para mais tarde.

A obstetra Carolina Bettoni ressalta que existe uma mudança de perfil. “Houve um aumento de cerca de 70% das gestações acima dos 35 anos nos últimos 20 anos e uma diminuição de 15% na idade dos 20 aos 29 anos. Os papéis femininos mudaram e, a partir dos anos 70, as mulheres começaram a integrar mais o mercado de trabalho e ganharam outras prioridades, além de casamento e filhos”, ressalta.

A médica destaca que elas começaram a casar mais tarde e tiveram o objetivo de aproveitar mais a vida e o casamento, motivos que levam a postergar uma gestação. Quanto mais tarde uma mulher resolve ter filhos, maior é o risco associado à idade. Mesmo assim, Carolina garante que isso não é motivo para desânimo. “Acho que a gente nunca pode desestimular a paciente se ela se cuida, tem bons hábitos, alimentação saudável, faz atividade física, mesmo diante dos riscos que são informados”, explica.

No ‘novo perfil’, a ginecologista expõe que muitas futuras mães optam por congelamento de óvulos e a reprodução humana assistida está tendo uma procura maior. “Só que a gente não pode esquecer que a biologia tem um preço, e não podemos pensar que as fertilizações in vitro vão corrigir esse problema, porque até mesmo as taxas de fertilização em mulheres de mais idade acabam sendo menores”, realça.

Segundo a médica, outro preço que também é cobrado são os perigos associados à faixa etária. “À medida que a idade materna aumenta, a chance de uma criança ter alguma síndrome cresce substancialmente ao longo dos anos. Existe mais riscos de abortamento espontâneo, pré-eclâmpsia e diabetes gestacional”, esclarece.

Para ela, o ideal é engravidar quando há possibilidade, da maneira mais saudável possível e da forma mais precoce, dentro da sua realidade. “Sempre ressaltar a importância dos bons hábitos de saúde, como manter um peso adequado, fazer atividade física, evitar o tabagismo. São medidas que, junto com a nutrição adequada, agregam em um bom desfecho”, assegura.

Quando uma gravidez é considerada tardia?

De acordo com a médica, a gestação tardia acontece após os 35 anos. “Alguns grupos ainda subdividem entre mulheres até e acima dos 40 anos, por ser evidente o aumento de risco materno e perinatal, que é muito maior quando ultrapassa a 4ª década de vida”, menciona.

Carolina também cita que há dois perfis e vários fatores envolvidos, entre socioeconômicos e culturais. “Existe aquela paciente que é multípara, tem vários filhos ao longo da sua vida e tem uma gestação considerada tardia e há aquele perfil que engravida mais tardiamente, com um estado de saúde bom, uma gravidez planejada, muitas vezes através da reprodução assistida, até em função da fertilidade que a idade representa”, reconhece.

Segundo a ginecologista, existem algumas recomendações, mas há expectativa e realidade. Um exemplo são jovens que optam por ter uma gestação planejada logo cedo e o outro extremo. “Ao mesmo tempo, temos aquela paciente solteira, com 39 anos, que resolveu fazer uma produção independente e há as que se casam mais tarde. No melhor dos mundos, é claro, a faixa de idade com a maior capacidade reprodutiva é dos 20 aos 25 anos, mas a gente sabe que hoje em dia este é o momento no qual a mulher está construindo toda sua carreira. Temos que respeitar essas nuances da vida das pacientes”, afirma.

Quais os riscos da gravidez tardia?

Conforme Carolina, os riscos estão diretamente relacionados à qualidade do óvulo, pois começa a existir uma diminuição da produção. “Além disso, com o passar da idade da paciente, ele acaba sofrendo um envelhecimento também”, explica.

A médica exemplifica que a gestação tardia possui riscos mais elevados em situações como abortamento espontâneo; anormalidade dos cromossomos, como síndrome de down; más formações congênitas, como algum problema na área cardíaca ou de fechamento da linha média, do tubo neural e o risco de pressão alta. “Hipertensão realmente é uma complicação mais comum e também temos um risco de diabetes gestacional, que é seis vezes maior com mulheres acima dos 40”, cita. Outro fator a se considerar é a chance maior de alterações placentárias, como a placenta prévia, que é baixa, além de mais possibilidades de descolamento de placenta.

Apesar de ser necessário informar às futuras mamães sobre os riscos, a obstetra garante que hoje em dia é possível fazer um pré-natal seguro, aliando as melhores técnicas para a segurança da mãe e do feto. “Temos o objetivo de evitar a mortalidade materna. Esses são os fatores, mas a gente não quer que a paciente fique desesperada, porque hoje em dia é muito comum, ela faz faculdade, pós-graduação, casa entre 38 e 39 anos. Penso o seguinte: como privá-la de realizar o sonho da maternidade?”, indaga.

Por isso é importante estar preparada para a gestação, pois com uma equipe multidisciplinar, um pré-natal que gere segurança, tudo pode ocorrer de forma tranquila. “Hoje em dia temos bastante respaldo. Por exemplo, nosso centro obstétrico, a maternidade aqui do Hospital Tacchini, trabalhamos com protocolos que são bem estabelecidos, estão alinhados a todas as práticas mundiais. Realmente a gente sempre trabalha para garantir o sucesso das gestações”, sublinha.

A menopausa tem idade certa para começar?

A obstetra realça que não há momento certo para início da menopausa, pois existem casos que acontecem precocemente, abaixo dos 40 anos e, ao mesmo tempo, existe pacientes menstruando próximo dos 65. “Ela indica que toda a reserva ovariana, simplesmente terminou. A definição se dá depois de um ano de ausência menstrual, antes desse período há a pré-menopausa, na qual existe oscilação da produção hormonal por conta dessa diminuição da reserva ovariana. Esse período combina com irregularidades menstruais, com ciclos mais longos do que o esperado ou mais curtos”, reitera.

Depois de um ano sem menstruar, após exame hormonal para confirmar a menopausa, significa que houve o término da produção ovariana. “Por isso que uma mulher que está em menopausa só consegue engravidar através de técnicas médicas, como fertilização in vitro e reprodução assistida. Com certeza, se a paciente não guardou esses óvulos em uma idade ovariana boa, pode-se ter a necessidade de fazer o uso de técnica assistida com óvulo de uma doadora”, pressupõe.