Dezembro começou com uma boa notícia para os agricultores. O governo do Rio Grande do Sul lançou o programa Avançar na Agropecuária e no Desenvolvimento Rural, com investimento histórico para o setor. Dentre as ações de destaque, está o fortalecimento da agricultura familiar, segmento de grande força em Bento Gonçalves, já que o município está em primeiro lugar no ranking de cidades com o maior número de agroindústrias.
Ao longo de 2022, devem ser investidos R$35,3 milhões para o segmento. Desse orçamento total, R$30,3 milhões devem ser destinados para a agricultura familiar, para a contratação de 705 financiamentos para a aquisição de máquinas, equipamentos, insumos, construções e ampliações que devem beneficiar agricultores e pecuaristas familiares, camponeses, assentados, pescadores artesanais, aquicultores, quilombolas, indígenas e suas organizações.
Já os outros R$5 milhões devem ir para as agroindústrias familiares, para a contratação de 500 financiamentos para o fortalecimento das agroindústrias familiares inclusas no Programa Estadual de Agroindústria Familiar (Peaf). Os benefícios devem ser diretos, para cerca de mil agricultores familiares (por unidade familiar).
Avaliação da Emater
Recurso no momento certo, para o público certo. É dessa forma que o Extensionista Rural da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Neiton Perufo, avalia o investimento. “Depois de quase dois anos extremamente difíceis, com a ocorrência de pandemia, somada a estiagem em algumas regiões do estado, nossos agricultores familiares são merecedores desse incentivo, já que foi uma das áreas que não parou em nenhum momento e teve a capacidade de fornecer alimento para a mesa dos gaúchos”, destaca.
Perufo acrescenta que o benefício vai contribuir de maneira considerável para as propriedades rurais, tendo foco no desenvolvimento da produção primária, além de incentivar a permanência das famílias no meio rural. “Sendo uma forma de valorizá-las, dando condições melhores de trabalho”, afirma.
Dos 30,3 milhões, o público contemplado deve ser, no mínimo, de 1.500 famílias, sendo destinados R$15 mil para cada pessoa física e R$100 mil para cada pessoa jurídica. Sobre isso, Perufo avalia que em um primeiro momento, parece não ser suficiente, porém, pode fazer a diferença, se for bem utilizado. “Esses valores, destinados individualmente para pequenas famílias de agricultores familiares, pode ser transformador quando aplicados corretamente na propriedade”, aponta.
No que se refere ao recurso destinado para atender os 500 financiamentos de agroindústrias familiares, Perufo explica que assim como em anos anteriores, os valores devem vir por meio do Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento dos Pequenos Estabelecimentos Rurais (Feaper).
Para o profissional, esses investimentos fortalecem cooperativas, associações, pequenos estabelecimentos rurais, agricultores familiares, assentamentos da reforma agrária, comunidades indígenas, de pescadores e quilombos, com vista no desenvolvimento rural.
Porém, Perufo esclarece que, segundo as informações divulgadas no lançamento do programa, só serão contemplados os estabelecimentos que estão inclusos no Programa Estadual de Agroindústria Familiar. “Muito provavelmente, as agroindústrias serão selecionadas através dos conselhos municipais da agricultura, já que o recurso provavelmente não será suficiente para contemplar todos os estabelecimentos”, explica.
De acordo com o extensionista rural, se o programa seguir o padrão dos outros anos, a Emater será a responsável por elaborar todos os projetos e o encaminhamento da documentação que envolve levantamento de bens adquiridos, laudos de vistorias, revisão de orçamentos, relatórios fotográficos entre outras necessidades que compõem a viabilidade da proposta.
Alegria de quem já foi contemplado
A família de agricultores, Marejane Dall Onder de Toni, o marido Gilmar Parizoto de Toni e as filhas Talita e Larissa trabalham todos pelo mesmo objetivo. Enquanto o Gilmar cuida da produção das frutas e parreiras, na colônia, a mãe e as filhas são responsáveis pela agroindústria Casa da Serra, localizada no Caminhos de Pedra.
No empreendimento familiar, que foi legalizado com o apoio da Emater, em 2005, os integrantes produzem geleias, doces e conservas. Tudo é feito com muito amor e dedicação, para posteriormente ser comercializado.
Entretanto, foi em uma feira, que Marejane ficou sabendo da existência do Feaper. “Vim pra casa, entrei em contato com a Emater, fiz tudo que pediram e fui contemplada com o valor de R$10 mil, na época. Só podia utilizar para comprar utensílios ou máquinas”, lembra. Com o benefício conquistado, a família adquiriu uma máquina a vácuo, para ajudar no trabalho realizado.
Cientes do novo projeto do governo, a agricultora conta que a família tem interesse em tentar ganhar o recurso. “Se eu tiver oportunidade de me inscrever, vou sim. Não é uma grande quantia em dinheiro, mas é bem-vindo, porque é uma ajuda”, afirma.
Marejane revela que, caso realmente se inscreva e seja contemplada com a verba, vai utilizar para comprar tacho para o cozimento das geleias ou freezer para armazenar polpa de frutas. Outra opção é adquirir tanques para armazenar vinhos ou uma rolhadeira, pois a família também tem uma vinícola na propriedade.
Contudo, a empreendedora tem uma certeza: está realizada com o trabalho feito pelas mãos de toda família. “Se você me perguntar se tenho algum sonho, esse era um, de construir o meu negócio e minhas filhas trabalharem nele, uma sucessão de família e assim elas não saíram da colônia”, comemora.
Neusa Maria, o esposo Vanir e o filho Anderson Rossi, moradores da Linha Marfisa, em Tuiuty, também tem uma agroindústria, a Rossi Produtos Caseiros. Nela, trabalham com alimentos coloniais: pães, fatiados e cucas.
A legalização do espaço ocorreu em 2014. “Já fazíamos Feira Livre, mas a necessidade era maior e com a orientação da Emater, Secretaria da Agricultura e Vigilância Sanitária, criamos a nossa agroindústria”, conta Neusa.
Entre 2015 e 2016, a família Rossi também foi beneficiada com o Feapers. “Veio completar a aquisição do maquinário necessário para melhorar a nossa produção”, conta.