Mesmo com o congelamento do ICMS até janeiro de 2022, a perspectiva é de que o preço do combustível continue subindo, motivado pela variação cambial e pela elevação do preço do barril de petróleo nos mercados internacionais, porém, em ritmo menor
Para quem depende de combustível para se deslocar, o ano não está fácil. De um mês para o outro, algumas vezes até semanalmente, o valor sofre reajustes. Sempre para mais. Em Bento Gonçalves, à título de comparação, em 6 de janeiro, o preço do litro da gasolina comum era encontrado por R$4,893. Em novembro, o mesmo produto é encontrado por R$7,099. Ou seja, em dez meses, uma alta de 45,08%.
Para tentar frear esses reajustes, governadores do país se uniram para encontrar uma proposta conjunta que auxilie nessa situação. Na ocasião, foi aprovado um convênio construído entre o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) e os Estados, congelando a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) dos combustíveis, por três meses, portanto, até janeiro de 2022.
A reportagem do Jornal Semanário conversou com o economista e professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Mosár Leandro Ness, para entender qual o impacto que essa medida deve causar. “Na prática, significa que a velocidade dos aumentos de preço deverá diminuir. A pressão de aumento proveniente do ICMS deverá dar uma trégua. O que será bom para os consumidores e também para os índices de preços, que nesse momento estão sobrecarregados, depois de tantos aumentos seguidos”, explica.
Mas, de que forma esse congelamento ajuda a impedir o aumento dos preços? De acordo com Ness, o ICMS sobre combustíveis não é cobrado pelo preço final, mas por meio de uma estimativa de valor médio que forma a base de tributação. “Essa base é flutuante e vinha sendo reajustada com intervalos entre 30 e 45 dias. Com o congelamento da base por três meses, não deveremos ter esse aumento sobre os preços dos combustíveis”, afirma.
ICMS não é o vilão
No site do governo do RS a informação é de que o ICMS não é o responsável pelas elevações frequentes. Por isso, Ness esclarece que o valor dos combustíveis depende de vários fatores. “Atualmente, os valores são influenciados pelo preço internacional do barril do petróleo que está sofrendo uma alta em função do aumento da demanda e pelo fato de a produção de petróleo ter se mantido no mesmo nível, o que faz com que o preço aumente”, garante.
Outro vetor para a elevação é a variação cambial, que foi intensa nos últimos meses. Segundo o economista, o câmbio também pressiona o custo de produção do petróleo doméstico, já que toda produção é cotada em dólares, por dois motivos. “O primeiro é que para se produzir petróleo são necessárias tecnologias que não temos e são contratadas no mercado internacional”, assegura.
O segundo motivo, “refere-se ao fato de a Petrobras ser uma petroleira de capital aberto e que, portanto, deve se adequar as melhores práticas de gestão para poder participar do mercado de capitais. Isso faz com que tenhamos além dos impostos esses dois vetores a pressionar os preços”, afirma.
O que os motoristas podem esperar até janeiro de 2022?
O congelamento do ICMS é importante para reduzir a disparada dos aumentos, mas não garante o fim dos reajustes. Isso porque ele é apenas uma parte do valor que vai para a bomba dos combustíveis. “Mesmo com essa medida, devemos ter aumentos nos preços dos combustíveis, motivados pela variação cambial que afeta os custos de produção e pela elevação do preço do barril de petróleo nos mercados internacionais”, garante.
O que muda para os motoristas é que o congelamento da base do ICMS elimina o aumento de preços oriundos dele. Por isso, de acordo com Ness, os preços devem continuar subindo, porém, em um ritmo menor que até então.
Alíquotas de ICMS devem cair
Também foi anunciado que no Rio Grande do Sul, as alíquotas de ICMS vão cair a partir de janeiro do ano que vem. No caso da gasolina e do álcool, a queda deve ser de 30% para 25%. Segundo Ness, essa medida influencia diretamente sobre o preço. “No caso do mercado de combustíveis, em que o nível de concorrência em alguns municípios é baixo, a percepção por parte do consumidor é menor, mas a longo prazo, os preços se tornam menores. O motivo para não ocorrer uma queda linear é a existência de estoques nos postos de combustível, com um custo maior. O novo estoque com preço menor deverá diluir esse custo mais elevado com o passar do tempo”, esclarece.
Troca do carro por moto: alternativa mais econômica
O Técnico Automotivo Diego Fischer, gastava cerca de R$400,00 em combustível só para se deslocar até o trabalho. Com a alta do preço da gasolina, optou por comprar uma moto, justamente para diminuir esse gasto. “Como o carro, em um mês de trabalho, faço 480 quilômetros e gasto R$370,00 reais de gasolina. Com a moto, com a mesma quilometragem, vou gastar cerca de R$112,00”, afirma.
Fischer conta que procura abastecer nos dias em que os postos tem promoção, mas também leva em conta a qualidade do produto. Sobre os preços, ele diz que é um absurdo. “Antes, quando viajava para a cidade dos meus pais, fazia mil quilômetros e gastava R$ 400,00. Agora, na mesma viagem, gasto R$ 650,00 sem contar outras despesas”, compara.
Movimento nos postos continua intenso
Caixa de um posto de combustível da cidade, Silvia Todeschato conta que por lá o movimento está cada vez maior. “Quanto mais aumenta o preço, mais o pessoal vem abastecer, acho que eles têm medo de ficar sem gasolina”, afirma.
Como o estabelecimento faz promoção toda sexta-feira, o movimento nestes dias é ainda mais intenso. Ainda assim, Silvia diz que os motoristas reclamam muito do valor. “Acredito que vai aumentar ainda mais esse ano, pelas informações, vai chegar a R$10,00 até o final do ano”, comenta.
Funcionário de outro posto, há 12 anos, Vitor Hugo Baldessera tem a mesma percepção. “Acho que vai aumentar ainda mais. Quando diminuir o consumo, aí sim vai baixar. Quem tem o produto quer cobrar mais caro”, garante.
Ivan Tramontina atua no segmento há 29 anos. Sobre o cenário, ele afirma que é um ano de retomada em todos os setores. “Não poderia ser diferente no segmento dos combustíveis. Temos muitos impactos relacionados a avalições de custo do barril de petróleo e variações do dólar também. A gente vem sentindo a recuperação lenta, mas constante na economia”, aponta.
Sobre o fluxo no posto, nos últimos meses, ele afirma que há sinais de pequeno crescimento. “A redução das restrições tem feito com que o consumidor saia um pouco mais, consequentemente gera movimento em todos os setores”, afirma.
Confira como foi a alta dos preços, neste ano