O difícil de entender na nossa sociedade hoje — e juro que tento, mas está cada vez mais complicado — é ver adultos querendo voltar a ser crianças e crianças querendo se tornar adultas antes do tempo. Se algo não sai como esperado, há sempre uma “chupeta” à disposição: psicólogo, remédio controlado, celular… e agora até o próprio bico para se acalmar. Isso mesmo: adulto que precisa de um “adulto pró-max” para se regular. Muitos não conseguem assumir seu papel, tomar decisões, lidar com frustrações e conflitos — e a culpa, quase sempre, é do outro.
Torcem por educação, mas demonstram má educação. Querem ensinar valores, mas revelam a ausência deles. Se não conseguem atendimento no horário que desejam, brigam, emburram, como se fossem o centro do universo, sem empatia com os demais. São adultos mimados, que têm dificuldade em cumprir regras.
Por outro lado, vemos o fenômeno oposto: a adultização precoce das crianças. O influenciador Felca expôs o que todos veem, mas muitos insistem em não enxergar: crianças buscando ganhar dinheiro com exposição do corpo, dançando músicas impróprias para sua idade, tudo com o aval de responsáveis que esquecem em que fase elas estão. A indústria, é claro, se aproveita disso — vende maquiagem, monetiza a inocência — e quase todo mundo acha normal. Ainda bem que alguns se salvam.
Eu me pergunto: onde foi que o mundo deu errado? Porque muitos problemas que tratam como reais não passam de “frotole” — palavra do dialeto italiano que significa lorota, bobagem. Enquanto isso, os problemas verdadeiros são ignorados. O individual se sobrepõe ao coletivo: “se não concordo, então não é certo”. Se alguém fuma, não presta. Se é gay, incomoda. Se é vegano, não pode conviver. Mas o que ainda não entenderam é simples: as escolhas pertencem à vida de cada um, não dos outros.
É preciso parar de resmungar, de se importar tanto com a vida alheia. É insuportável viver rodeado de gente que só reclama, fofoca, não traz conteúdo algum e perdeu a capacidade de rir. Se escolho a maternidade, dizem que deixei de viver. Se não escolho, sou acusada de não pensar no mundo. Que gente chata! Para mim, a maternidade foi a melhor coisa que me aconteceu, mas respeito quem trilha outro caminho.
No fim das contas, talvez o que falte seja resgatar o essencial: ensinar pelo exemplo, viver com simplicidade e lembrar que nem tudo precisa ser motivo de disputa ou palco de vaidade. Respeitar o tempo da infância, assumir a responsabilidade da vida adulta e praticar empatia em vez de julgamento. O mundo já anda pesado demais para que a gente carregue também a bagagem das “frotole”. Quem sabe, se cada um cuidasse mais do próprio quintal e cultivasse menos opiniões sobre a vida alheia, sobraria espaço para aquilo que realmente importa: convivência leve, riso espontâneo, vínculos verdadeiros e a coragem de ser humano de verdade.