Quem vive do passado é museu!
Você já deve ter ouvido ao menos uma vez esse velho ditado: mas será só ele mesmo???
Lógico, restringir a vida ao passado é, por óbvio, renunciar ao presente da vida e, portanto, um exagero, senão um problema de saúde mental.
Contudo, viajar pelo retrovisor do tempo, pelo menos a mim, sempre pareceu uma ótima e instigante ideia.
Não há sequer um lugar histórico ou até mesmo aquela cascata conhecida por poucos que não me suscite uma tempestade de perguntas, cuja própria história contada não tem, claro, todas as respostas: “quem já teria pisado por aqui? Como viviam e se vestiam essas pessoas? Quais eram seus perfumes, seus gostos? Quais eram seus pesadelos, sonhos, preocupações? Gostaria, até mesmo, de sentir a brisa e respeitar o ar daqueles tempos.
Enfim, quantas tramas, quantos dramas, famas e infâmias se entrelaçaram a tal ponto de possibilitar que fosse possível hoje, visitar, mesmo que platonicamente, um passado de tantos eternos desconhecidos e poucos reconhecidos.
E o que dizer quando tens a oportunidade de viajar no passado tendo em mãos fotos antigas com mais de 150 anos? Melhor ainda quando estas retratam pessoas cuja herança genética, mesmo sem saber seus nomes, se vê todo dia no espelho…
Sim, fotos outrora reveladas na Itália, no escuro daquele pequeno baú, ao balanço do Atlântico, foram por muito tempo as memórias, as lembranças de vida trazidas por aqueles braços e mãos calejadas que fizeram l’America.
Fotos bem preservadas e não tão amareladas assim, mérito de minha tia Rose, guardiã desses pedaços do passado, descortinam, depois de tantos anos, no verso de uma delas, o amor em versos simples e letras de boa forma, cujo tempo deixou assim registrar: “se um passarinho, eu voava para te ver, mas, como passarinho não sou, de saudades vou morrer”.
Outras tantas fotos de bebês na pia batismal, crianças com as mãos em prece, meninas vestidas de branco e meninos apertados em pequenos ternos com borboletas, revelam a herança de fé e religiosidade de um povo ao receber os sacramentos.
E o que dizer quando me deparei com a foto mais icônica daquela pilha de história? Com seus melhores trajes de domingo, crianças, ombro a ombro, se postavam inertes atrás daquelas cadeiras à frente, cadeiras estas ocupadas pelo patriarca da família Calegari e as matriarcas de três gerações, a vó então criança, a bisavó e a tataravó cujo luto se registra no semblante triste e fechado na clausura do rustico véu e vestido preto. Confesso que fiquei por muitos dias olhando cada detalhe daquelas fotos. A história parecia dialogar comigo, embora, para algumas, perguntas o silêncio fora a melhor resposta, cujas emoções e sentimentos eram para ser vividos e guardados nos dias e noites daquele tempo que não volta mais.
E neste tempo que nunca antes fora tão fácil registrar tantas lembranças e igualmente perdê-las, apagá-las ou, ainda, modificá-las, senão inventá-las, cujas mãos não tocam e muitas vezes os olhos não veem, como e com que segurança será contado o singular passado do mais simples dos mortais??? O futuro que responda!!!
De qualquer sorte, por ora, embora não viva do passado, no meu livro da vida, tenho agora mais páginas de prefácio contadas pelas fotos daquele pequeno baú, cujas lembranças… ah… já estão nas nuvens!!!
Vamos em frente!