Seja no imaginário popular, ou em propagandas nos meios de comunicação, as práticas esportivas são intrínsecas às Forças Armadas do Brasil. A ligação entre os esportes e a tarefa de preparação para defender uma pátria é compreensível, afinal há sempre a necessidade de prontidão para os dois casos. Na Capital do Vinho não é diferente.
As instalações militares em Bento Gonçalves surgiram em 1943. De forma provisória, primeiramente como 1º Batalhão Ferroviário e depois substituído pelo 3º Batalhão de Comunicação do Exército. Em 1976 houve a fixação do quartel na cidade com a chegada oficial do 6º Batalhão de Comunicações Divisionário, depois chamado de 6º Batalhão de Comunicações, o 6º BCom.
Desde então, o espaço físico localizado no bairro São Roque abriga os militares na cidade – hoje com contingente de cerca de 300 combatentes. Diariamente estes soldados participam de atividades para garantir a manutenção da condição física para um possível combate.
De acordo com o coronel do 6º Bcom, Lúcio Mauro Villote Moreira Guerra, a aptidão física dos soldados é valorizada desde o início do serviço militar – tanto por quem entrou pelo alistamento obrigatório, quanto para quem deseja fazer carreira militar. “Temos treinos diários com o intuito de dar suporte à resistência física para o desempenho da atividade militar”. O coronel ainda exemplifica que “o preparo é muito importante porque não é só o peso do corpo que o soldado precisa suportar. Tem mochila, fuzil, capacete, coturno. Então o treinamento físico para o militar é necessário e fundamental”, explica.
Organização de atividades
Os treinamentos acontecem todos os dias de acordo com um cronograma pré-estabelecido pelos superiores. O sistema é chamado de Quadro de Trabalho Semanal (QTS).
Segundo o coronel Guerra, as atividades são sessões de educação física para o pelotão. “Podemos propor ao grupo a corrida em um determinado tempo ou fazer outras atividades. Gerimos o plano de treinamento por meio do QTS”, afirma. Ainda segundo ele, há no 6º Bcom um espaço para treinamentos em circuitos. Essas atividades se popularizaram, inclusive, no meio civil. “Nós temos a Pista de Treinamento em Circuito, cujas atividades são compostas por diversas movimentações e uso de pesos. Hoje muitas academias de ginástica oferecem treinamentos baseados nessa nossa atividade”, constatou ao citar a prática de Cross-fit, que está em alta.
Sempre preparados
A disposição atlética dos soldados, moldada no dia-a-dia, é completa. São feitos reforços musculares e também no sistema cardiovascular. A intenção é que a preparação física do pelotão seja completa. “Não adianta o soldado conseguir superar barreiras e, no momento em que precisa utilizar o armamento, está tão cansado que não finaliza a missão. Então trabalhamos a preparação aeróbica também”, comenta Guerra.
Para que haja certeza da qualidade dos trabalhos, são realizados os Testes de Aptidão Física (TAC) com certa regularidade. No TAC, os soldados são testados em quatro provas: corrida, flexões, barra fixa e a Pista de Pentatlo Militar (atividade que envolve cinco outras modalidades). De acordo com o Comandante do 6º Bcom, as atividades são avaliadas em conceitos e pontos nos testes anuais. Desta forma é possível saber se o pelotão estaria preparado para um eventual combate em campo.
Mesmo que a aptidão física do pelotão seja constantemente testada e que atletas das forças armadas estejam cada vez mais presentes em Jogos Olímpicos civis, a intenção primordial não é formar profissionais, de acordo com o Sargento Peter, também do 6º Batalhão de Comunicações. Mesmo assim, “o exército precisa de fato ter o vínculo com o esporte e com a rigidez da tropa. Até porque para nós o esporte nada mais é que uma disputa, só que voltada para o lado de combate militar”, explica.
Além do trabalho diário com o pelotão, o 6º Bcom pretende, ainda neste ano efetivar um projeto social das Forças Armadas do Brasil. A previsão é que ainda em setembro o Batalhão receba crianças em vulnerabilidade social. A ideia é colocar em prática o Programa Forças no Esporte (Profesp) a fim de desenvolver o desporto para crianças e adolescentes em seus horários livres. O projeto faz parte do Programa Segundo Tempo, do Governo Federal.
Competições militares envolvem efetivos de batalhões
Entre os dias 14 e 18 de agosto, aconteceu em São Leopoldo mais uma edição das Olimpíadas da 8ª Brigada de Infantaria Motorizada. As competições envolveram batalhões de diversas regiões do Rio Grande do Sul.
No Jogos Desportivos deste ano, estiveram presentes pelotões de quartéis de Rio Grande, Pelotas, Sapucaia do Sul, Porto Alegre, São Leopoldo e de Bento
Gonçalves. Além de servir para reunir os militares da 8ª Brigada, a competição aumenta a qualidade dos treinamentos dos pelotões por meio da competitividade.
São disputadas diversas modalidades. No programa deste ano estavam: vôlei, basquete, futebol, atletismo, natação, pentatlo militar, entre outros.
As competições – que são diversas e constantes não só entre as Brigadas – aumentam o nível de qualidade esportiva e física dos membros de pelotões dos batalhões. Essa característica adquirida com o tempo, inclusive, atraiu atletas olímpicos para as Forças Armadas.
Segundo o coronel do 6º Batalhão de Comunicações, Lúcio Mauro Villote Moreira Guerra, a qualidade oferecida em quarteis do Brasil seduziu desportistas que não possuíam boas condições de treinamento – através do Programa de Alto Rendimento do Exército. “O Brasil precisa de um militar com potencial atlético para representar o país; e ele precisa de suporte. Então oferecemos fisiologistas, treinadores e estrutura com ótimos níveis. Com isso todo mundo ganha”, afirma.
A presença de atletas olímpicos que utilizavam a estrutura das Forças Armadas do Brasil ficou ainda mais evidente nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. Diversos medalhistas brasileiros prestavam continência no ato de receber a premiação no pódio. Ainda de acordo com o coronel Guerra, essa prática não é exclusiva do Exército Brasileiro. “É comum nas Forças Armadas do mundo todo que atletas de alto rendimento sejam oriundos dos exércitos”, complementa.
Além das Olimpíadas da 8ª Brigada de Infantaria Motorizada que acontecem anualmente, outras competições em níveis regionais e nacionais também são comuns. O Exército fomenta a prática esportiva e de competições entre os seus componentes.