A nota oficial emitida pela diretoria do Bento Vôlei no início da noite de terça-feira, 22, indicou a situação que há alguns meses já era ventilada: o Bento Vôlei abriria mão da Superliga 2017/2018. A desistência confirmada junto à Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) foi melhor explicada em coletiva de imprensa, cuja pauta principal foi a explanação sobre os riscos de uma participação sem garantias de condições financeiras adequadas.
Passaram-se 48 dias entre duas importantes notas emitidas nas redes sociais pelo Bento Vôlei. Em 5 de julho, a diretoria tornou pública a preocupação com o futuro do clube e a possibilidade de abandono da participação na Superliga Masculina de Vôlei, a principal competição da modalidade no país – e uma das mais tradicionais do mundo. Na terça-feira, 22, aconteceu a confirmação da desistência do torneio.
A frustração facilmente percebida nas palavras que compunham o texto era também aparente nas mensagens de torcedores de Bento Gonçalves. A cidade – que voltou a estar no mapa esportivo do voleibol brasileiro com o retorno da equipe de alto rendimento em 2014 -, de forma geral, não conseguiu dar o suporte necessário para que a entidade seguisse seu planejamento no meio profissional.
Um cenário inviável
A situação financeira conturbada no país passou a interferir em repasses de verbas públicas e também tornou o mercado mais cauteloso em investimentos. Esse panorama atingiu o Bento Vôlei.
De acordo com o presidente do clube, Romildo Rizzi, a diretoria esgotou todas as possibilidades para viabilizar a participação na Superliga. “O clube chegou ao seu limite. A diretoria e as pessoas envolvidas chegaram aos seus limites também. É evidente que o momento econômico contribuiu para chegarmos a essa decisão”, explica. Ainda segundo Rizzi, o abandono do quadro de equipes do torneio nacional foi necessário. “Fizemos isso para salvar o clube. Foi muito amargo para nós aceitarmos isso, mas precisávamos preservar as categorias de base e os projetos sociais”.
Se a participação na última Superliga foi repleta de dúvidas, para este ano os dirigentes do Bento Vôlei optaram por não embarcar em um caminho sem rumos certeiros. Na temporada passada, o clube assumiu riscos e participou do certame sem ter certeza do repasse por meio do Pro-Esporte – programa do Governo Estadual que permite o repasse de verbas por parte de empresas cadastradas.
Para a temporada 2017/2018, mesmo com a possibilidade da retomada do Pro-Esporte, o Bento Vôlei seguiu o caminho adequado, segundo o diretor executivo da entidade, Rafael Fantin, o Dentinho. “Ano passado arriscamos e isso nos causou muitos problemas. Optamos por não seguir nessa linha novamente”, afirma. Ainda de acordo com ele, “algumas empresas queriam fazer parte do nosso trabalho, mas somente pelas Leis de Incentivo e não de forma direta”. Mesmo com as dificuldades para participação na temporada passada, a diretoria afirma não ter nenhuma dívida pendente e, a opção de abdicar da Superliga é para manter essa imagem do clube.
A negativa e um passo para trás
O montante financeiro mínimo estipulado pela diretoria do Bento Vôlei para participação na Superliga 2017/2018 era de R$600 mil. Ainda segundo ela, faltou cerca de R$200 mil para viabilizar a participação. Mesmo com dois terços da quantia captados e a parceria com o Minas Tênis Clube, que cederia jogadores da sua base para o Bento Vôlei, a diretoria optou por desativar por ora setor de alto rendimento.
Em um movimento cauteloso, os membros diretores do clube afirmam ter feito essa opção a fim de preservar o bem maior do Bento Vôlei, que são as cerca de 900 crianças e jovens que treinam com os seus profissionais.
Para o vice-presidente técnico da entidade, Ricardo De Gasperi, a equipe profissional era apenas parcela do projeto, mas que sem ela, todas as partes podem ser comprometidas. “São 750 crianças atendidas no projeto social e outras 100 em categoria de base. Isso envolve direta ou indiretamente mais de 5000 pessoas. Acreditamos no esporte como transformador social e o que isso rende ao município”, explica. Ele ainda acredita que as pessoas não entendem a importância do projeto para a sociedade bento-g0nçalvense, o que gera frustração para os gestores.
O futuro do clube
Mesmo com o abatimento relativo ao abandono da Superliga, a Sociedade Educativa, Cultural e Poliesportiva Bento Gonçalves, a direção acredita que a pausa na equipe profissional é apenas provisória. Para Dentinho, o futuro ainda é incerto, mas vai ser debatido com cautela. “Não temos ainda uma real noção do que vai acontecer. Agora teremos um tempo que nunca tivemos para fazer um planejamento”, afirma.
Para o lugar do time bento-gonçalvense na Superliga 2017/2018 foi chamado o Caramuru Castro, do Paraná. Por conta da desistência, o Bento Vôlei precisa retornar à Superliga B, a divisão de acesso do voleibol nacional. Muito embora a situação seja lamentada pela comunidade de Bento Gonçalves, o clube já fez esse caminho com sucesso após retomada há cerca de cinco anos. Segundo a direção, novamente o Bento Vôlei dará um passo para trás para poder voltar a andar para frente.
O que pensam as figuras importantes:
Paulão, técnico do Bento Vôlei na Superliga passada
Passei dois anos no Bento Vôlei e era maravilhoso o envolvimento da comunidade com o clube. Recebi a notícia com muita tristeza, porque batalhamos muito pelo esporte gaúcho. Não se pode aceitar que aconteça isso com um clube de tanta tradição. O projeto é muito bom, mas não teve esse entendimento por parte dos investidores.
Gustavo Endres, gestor do Vôlei Canoas
Nós estávamos acompanhando a situação e ficamos muito tristes. A diretoria lutou muito para tentar manter equipe na Superliga e na cidade, até pela identificação com a comunidade. Precisamos melhorar as relações com o esporte. Esperamos que o Bento Vôlei consiga voltar o quanto antes, mesmo com as dificuldades de ter que recomeçar na divisão inferior.