“ENVOLVIDOS NA ONDA DE SECULARISMO, O DIA DE FINADOS FAZ PARTE DE UM FERIADO E DA AGENDA TURÍSTICA, MESMO ASSIM É UMA DATA QUE PROCLAMA A AUTORIDADE DA MORTE.”

                “A MORTE É A OPORTUNIDADE DE O HOMEM SER ELE MESMO. – QUANDO AS LUZES DO MUNDO SE APAGAM, SURGE A AURORA DO DEFINITIVO. – O QUE PERTURBA NÃO É PROPRIAMENTE A MORTE, MAS O QUE VEM DEPOIS… Para SHAKESPEARE – DEPOIS DELA… O MISTÉRIO… O SILÊNCIO”…

                Existem duas curvas existenciais. – A primeira contempla a pessoa que nasce, cresce, desenvolve, amadurece, envelhece e morre… Esta curva é biológica. Na segunda curva, a espiritual: a vida inicia pequena, vai crescendo indefinidamente e se perde na eternidade. Dentro da vida biológica, como numa casca, vai se desenvolvendo a outra vida. Corpo e alma não são passíveis de separação, mas paralelas.

                Morrer sempre foi doloroso. Pensar na morte nos dói. Porém na medida em que elaboramos esta dolorosa realidade, ela é vivida de modo diferente. Hoje, falar e pensar na morte é considerado de mau gosto, completamente incorreto. Mais: escondemos a morte. Na impossibilidade de vencê-la, tentamos ignorá-la. Mesmo assim, nada é tão certo quanto à morte. Todos admitimos que outros morrem, que a gente morre… mas não passamos disto.

                Ao redor do enfermo armam-se cenas de uma civilização que não sabe o que fazer com a morte. Os familiares, fingindo que o enfermo logo retornará às suas atividades, falam de negócios, de futebol, de férias… O enfermo, o primeiro a suspeitar da gravidade da doença, mas o último a acreditar, embarca nesta encenação, acreditando ou fingindo acreditar.

                Depois, não sobrevivendo à vida, o cadáver é velado numa anônima capela funerária, onde se fala em voz alta, em coisas da vida. Sepulta-se o morto o quanto antes, não se carrega luto e não se fala mais dele. Em algumas culturas, num grande telão é projetada a vida do falecido. Também já existe o funeral “on line,” pela internet. Os conectados veem as cerimônias, mandam mensagens, na tranquilidade de suas casas.

                Na realidade, assim como devemos aprender tudo na vida, precisamos aprender a envelhecer e a morrer. Cada um deve preparar e merecer a própria morte…

                “NA ÁRVORE DA EXISTÊNCIA EXISTEM MORTES DIFERENTES: UMAS CAEM COMO FOLHAS… E OUTRAS CAEM COMO SEMENTES…”

                Para todos valem as sábias palavras:

                “A TRAJÉDIA DA VIDA NÃO É A MORTE, MAS AQUILO QUE DEIXAMOS MORRER DENTRO DE NÓS… ENQUANTO VIVEMOS.”