*Juliano Colombo

As mudanças demográficas apresentam desafios e oportunidades e definitivamente exigem uma nova perspectiva sobre o futuro do trabalho. A população gaúcha irá parar de crescer dentro de dois anos segundo recentes projeções divulgadas pelo IBGE [1]. Por consequência, possivelmente o estado se encontra atualmente no ápice do seu bônus demográfico, no qual a razão entre o número de dependentes (pessoas menores de 14 anos ou maiores de 65 anos) e o número de pessoas em idade ativa (com idade entre 15 e 64 anos) é o mínimo. Esse cenário coloca o estado em uma situação crítica uma vez que a força de trabalho não irá crescer em quantidade. Nesse momento, para poder crescer, é necessário desenvolver talentos e possibilitar que estes possam exercer a plena produtividade da qual são capazes.

Questões educacionais são um dos fatores-chave para o desenvolvimento de talentos que possibilitam o aumento da produtividade do trabalhador. A força de trabalho gaúcha ainda têm 795 mil trabalhadores sem ensino básico completo [2]. Porém, não basta o diploma: estima-se que dois terços dos jovens brasileiros não possuam as habilidades básicas necessárias para prosperar na economia moderna [3]. Nesse contexto, investir na educação básica de qualidade e conectada ao mundo do trabalho é condição imprescindível para construir uma força de trabalho preparada para o presente e o futuro. E essa transformação da educação passa obrigatoriamente pela escola pública, a qual representou 77,9% das matrículas na educação básica do Rio Grande do Sul em 2023 [4].

E, para que todos aqueles em idade ativa possam participar efetivamente da força de trabalho, é necessário um olhar sobre aspectos que melhorem o engajamento das pessoas. Isso inclui o investimento em ambientes de trabalho seguros e saudáveis que criem essas condições e um olhar para questões que vão além dos limites das empresas, mas que afetam de forma decisiva a produtividade. Uma destas questões são as responsabilidades de cuidado. Nos Estados Unidos, as pesquisas já mostram que seis a cada dez trabalhadores americanos com responsabilidade de cuidado de um dependente adulto citam ao menos um impacto no emprego, tais como chegar mais tarde ou sair mais cedo [5]. A dificuldade em cuidar dos filhos foi também uma das principais motivações que levaram o trabalhador americano com filho menor de 18 anos morando em casa a pedir demissão na onda de “great resignation” ocorrida em 2021 [6]. Este é um contexto que deve ser considerado para a retenção de talentos nas empresas.

O futuro do trabalho e a perenidade das empresas depende da longevidade saudável e produtiva. Essa força de trabalho em mudança, por sua vez, exige novas abordagens para o desenvolvimento, aprimoramento e retenção de talentos. É importante que, sobretudo, não nos limitemos a soluções do passado para a construção de um futuro diferente.

[1] IBGE. Projeções da População do Brasil e Unidades da Federação por sexo e idade: 2010-2070 (2024).
[2] MTE. Painel de Informações da RAIS (2021).
[3] Gust, S.; Hanushek, E. A.; Woessmann, L. Global universal basic skills: Current deficits and implications for world development. Journal of Development Economics (2022).
[4] Inep. Censo Escolar 2023 (2023).
[5] AARP; National Alliance for Caregiving. Caregiving in the United States 2020 (2020).
[6] Parker, K.; Horowitz, J. M. Majority of workers who quit a job in 2021 cite low pay, no opportunities for advancement, feeling disrespected. Pew Research Center (2022).

*Superintendente do Sesi/RS