Clacir Rasador
Os frutos da evolução passam necessariamente pela semente da dúvida, mas, para chegar a, no mínimo, germinar, requer cuidados, requer ação, carece de atitude, caso contrário, a dúvida por si só é estéril, preguiçosa, negativista em si mesma, mas, infelizmente, com alto poder de desagregação e persuasão aos menos esclarecidos.
É da forma acima que, ao meu sentir, são as postagens nas redes sociais que levantam dúvidas infundadas a desserviço da vacinação em massa contra o coronavírus. Ainda bem que transfusão de sangue já passou por tal martírio lá pelos idos de 1818, talvez de uma maneira menos ruidosa, sem internet.
Geralmente tais postagens são carregadas de um sentimento de autodefesa à liberdade individual de não se vacinar – talvez tenhamos simpatizantes da Revolta da Vacina de 1904, ainda aguardando na fila de dúvidas quanto à eficácia da outrora salvadora vacina antivaríola – e, ao mesmo tempo, de ataque coletivo àqueles que são favoráveis à vacina.
O erro que poderá ser fatal é não conceber que a vacina com eficácia cientificamente comprovada, ou seja, no seu estado mais puro e cristalino, é a verdade que salva vidas, enquanto que a dúvida solteira, aliada ao encardido e mal cheiroso componente político do oportunismo, em nada contribui à fórmula, pelo contrário, somente dá mais tempo de sobrevida ao vírus.
A propósito, afora as politicagens, a exemplo das grandes guerras, vivenciamos, na atualidade, a existência de um terreno fértil para surgir novos estadistas; sem dúvida, uma lástima histórica não termos boas sementes.
Discussões jurídicas e/ou políticas a parte, até porque o vírus não é nada legal e somente tem partido quem amamos, talvez uma solução aos moldes do Rei Salomão fosse dividir os adeptos de cada risco, ou seja, aos críticos à vacinação – talvez fiéis mesmo ao arrependido São Tomé, precisam ver para crer ou seria viver para crer – permaneçam sentados, abraçados, amarrados à dúvida e à certeza dos riscos da doença; aos defensores da vacina – nos valha a oração de São Francisco: onde houver dúvidas, levemos a fé; onde houver desespero, levemos a esperança – e sigamos em frente, de pé, com eventual risco de efeito colateral, mas rumo à santa normalidade.
Aliás, tenho sempre comigo que a esperança tem pernas fortes, sempre está em movimento, a caminho, é o futuro festejado ainda dentro da caixa … hoje, uma caixa de ampolas de vacina.
Vamos em frente!
Saúde!