No domingo, a capela, pertencente à Paróquia de São Roque, foi palco de uma celebração especial em honra à padroeira local. O almoço festivo atraiu mais de 500 pessoas, um marco de união e devoção para os moradores da região
Baseado em relatos orais de pessoas da comunidade, segundo a escritora Fernanda Tomasi, a devoção à Nossa Senhora das Dores veio junto aos imigrantes italianos, em um quadro trazido pela família Tomasi, com a primeira igreja sendo construída de maneira simples e em um local diferente.
A igreja de pedra, símbolo da comunidade, foi concluída em 1915, com a ajuda de moradores de toda a comunidade, que desde sempre esteve muito unida. A escritora conta: “durante a semana eles trabalhavam na roça e encontraram as pedras que eram boas para a construção, e no final de semana levavam para o local para construir juntos a igreja”, diz.
Essa união, presente desde sua construção, hoje se reflete na festa que reúne mais de 500 pessoas no Distrito de Tuiuty. Realizada no domingo, 8, a celebração representou também a força feminina da comunidade, que tem na direção oito mulheres, lideradas pela presidente Naira Maria Scariot Rossi, e quatro festeiras: Cinara Beretti, Eliane Tomasi Beretti, Maria Teresinha Braga Gallina e Simone Balssanello.
A gestão deste ano trouxe inovações, entre elas a participação exclusiva de mulheres, o que, para muitas, foi motivo de orgulho e empoderamento. Segundo Naira, a decisão foi tomada após dificuldades em encontrar casais dispostos a assumir a organização, algo que tradicionalmente ocorria nas edições anteriores. “Foi a primeira vez que nos planejamos só com mulheres. A equipe anterior era formada por casais, mas os homens não quiseram participar. Então, pensamos: por que não? E deu tudo certo”, explica.
A liderança feminina também se destacou na preparação dos pratos típicos. Na quinta-feira, 5, a produção das tirolesas, sobremesa tradicional da festa, que mobilizou 30 mulheres. Em apenas um dia, foram feitas 700. “Somos oito mulheres na administração e convidamos mais quatro festeiras. Juntas, organizamos tudo: desde a compra de mantimentos até a limpeza do salão e cemitério. Sou uma faz-tudo, se precisar, até troco uma tomada,” conta Naira, com bom humor.
O sentimento de união da comunidade, que estava enfraquecido, foi fortalecido pela iniciativa do grupo de mulheres. Segundo ela, a decisão de assumir a organização foi tomada em um momento de crise. “A comunidade estava bem distante, ninguém queria assumir a administração. O padre até ameaçou levar a chave do salão da igreja embora. Foi aí que, no susto, dissemos sim. E desde então, a união voltou.” relata.
Para as festeiras e demais organizadoras, o trabalho árduo vale a pena quando veem o resultado. Eliane Tomasi Baretti, festeira, destacou o esforço de todas para garantir que o almoço fosse um sucesso. “Dá trabalho, mas no fim, o resultado compensa. Tivemos 550 pessoas, e além dos ingressos, vendemos nossas tortas tirolesas”, comenta. Ela também fala da importância da participação masculina, mesmo que mais discreta. “Os homens ajudam na bodega, vendendo bebidas. Fazem parte, sim, mas as mulheres estavam na liderança”, enfatiza.
Outro destaque foi a mudança no formato da festa. Antes, a organização e o serviço de cozinha e churrasco eram feitos pela própria comunidade. No entanto, devido à falta de voluntários, a decisão de contratar um buffet foi tomada, e a mudança foi bem aceita. “Percebemos que os voluntários não estão mais tão presentes como antigamente. Contratamos um buffet para ajudar, e foi a melhor decisão. Ninguém saiu descontente,” explica Lourdes Somensi Rizzardo, devota e ex-organizadora da festa. Além disso, ela acredita que essa mudança facilita o processo e permite que a comunidade se concentre mais em aproveitar o momento. “O que importa é a união, sem aquela preocupação de correr atrás de quem vai fazer o quê. A mudança foi para melhor,” ressalta.
Mesmo com as dificuldades enfrentadas pela comunidade. Para Lourdes, a devoção à Nossa Senhora das Dores sempre foi uma fonte de força. “Sou devota desde que nasci. Minha avó e minha mãe sempre foram muito devotas, e isso passou para mim. Em muitos momentos difíceis, pedi ajuda e sempre recebi,” compartilha.
A organização, além de ser um exemplo de superação e fé, reforçou o papel feminino na comunidade e na igreja. Segundo Naira, são elas que demonstram uma devoção mais emocional, o que contribui para o envolvimento delas em eventos religiosos. “Acredito que a mulher, por ser mais emotiva e espontânea, acaba se envolvendo mais. É um trabalho de fé e dedicação. A gente se ajoelha, reza, pede, e vai lá e faz,” reflete.
Agora, o desafio para a equipe é encontrar quem assuma a organização nos próximos anos. Naira, que está à frente da administração desde 2023, espera que novas pessoas se disponham a dar continuidade ao trabalho. “Estamos sofrendo pressão para ficar mais um ano, mas é difícil, porque a gente praticamente vive no salão. Temos nossas casas, nossas coisas também. Espero que apareça alguém para continuar nosso trabalho,” conclui.
A arrecadação da festa será destinada a melhorias no salão e na igreja. Entre os planos estão a pintura do piso e a lavagem da velha igreja, que precisa de uma equipe especializada. Mesmo com todos os desafios, a comunidade de Tuiuty segue firme em sua devoção.