Eu já me troquei por muita gente. Na infância, pela criança que era mais inteligente que eu, que tinha olhos azuis, que tinha o corpo mais bonito e não era o último lugar na fila da escola. Depois, na adolescência, pela menina que era a mais bonita da turma, que sabia falar inglês, que não usava aparelho nos dentes, que era a preferida das professoras, pelo meu irmão que era mais obediente. Eu já me troquei por tanta gente!
Quando adulta, queria ser a menina rica, a que andava na moda, a que tinha casa na praia e que já era professora, enquanto eu ainda era estagiária. A que ganhou o carro novo do pai e, logo cedo, teve um bom emprego.
Como mãe, eu já me troquei pela amiga que cozinhava tudo, pela tia que costurava suas roupas, por aquela vizinha que não tinha preguiça para fazer nada. Eu já quis me trocar pela mãe do Facebook que acordava às 5h pra correr e se alimentava exemplarmente. Eu já me troquei pela colega de trabalho que era mais chique, pela outra que ganhava mais que eu, por aquela que não precisou voltar a trabalhar e colocar o bebê de 4 meses na creche.
Eu já me troquei por tanta gente! Hoje, não me troco mais. Sei que dentro da minha realidade é isso que eu consigo ser de melhor. Porque o tempo me deu autoestima suficiente e autoconfiança para acreditar que sou tudo o que preciso ser. Não sou melhor que os outros tampouco pior.
Aceitei que nem sempre sobra vontade, dinheiro, ajuda pra poder ir malhar, estar de cabelo arrumado, roupa nova e, com isso, surtei menos vezes. Percebi que o que admiro nos outros, muitos admiram em mim, porque a grama do outro parece sempre mais verde e, com isso, parei de me cobrar tanto por aquilo que não poderia dar. Compreendi, depois de muito tempo, que cada realidade é uma e que a vida nem sempre é justa, as coisas não são fáceis e a jornada é árdua e cansativa mesmo. Com isso, parei de me iludir com a vida que postam, porque há um lado “off-line” que não temos acesso. Assim, consegui me aceitar melhor.
Hoje, sofro menos com culpa e não me martirizo com coisas que ficam no plano do desejo apenas. Faço o básico bem feito, o possível dentro das minhas condições enquanto não consigo dar mais de mim. As metas de Ano-novo ainda acontecem, mesmo que muitas vezes sejam utópicas, mas procuro ser mais realista possível com o tamanho do passo que consigo dar. Assim, fica mais leve. Quando aceitei que cada um sabe exatamente a dor e a alegria de ser como é, passei a não me trocar e a entender que sou a pessoa certa no lugar certo em busca sempre da minha melhor versão! Desde então, eu preferi ser feliz comigo mesma ao invés de me trocar por outras pessoas. O bom de ser eu é que posso ser quem eu quiser. Sou a única pessoa que não pode me trocar ou desistir de mim!