Segundo entidades, expectativa de venda da uva está abaixo do esperado, mas presidente do Sindicato contrapõe cenário
Embora as previsões sobre a qualidade da safra da uva de 2018 sejam ainda precipitadas, indicativos apontam para a possibilidade de um grande estoque nas cantinas, acumulado da vindima deste ano. Enquanto algumas lideranças afirmam que a expectativa de comercialização não está sendo cumprida, o Sindicato dos Agricultores avalia as declarações como uma tentativa de controle do mercado.
Até agora, tudo sinaliza para uma safra dentro da normalidade, que deve variar entre os 650 milhões de quilos de uva. Mas, para os técnicos, ainda é difícil prever como vai ser a vindima, uma vez que depende de uma série de fatores climáticos, que podem variar nos próximos meses.
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul, Pinto Bandeira e Santa Tereza, Cedenir Postal, o estoque alto é uma reclamação infundada das empresas, visto que elas estão com boas vendas. “Estão fazendo terrorismo com os agricultores. Eles falam que têm o estoque alto para baixar o preço da uva, é sempre o lado mais fraco que está pagando a conta” comenta.
Na opinião de Postal, o relato dos agricultores demonstram que há menos uva do que o ano passado, mas a perspectiva é que se tenha uma safra dentro da normalidade. “Algumas variedades brotaram mal, deu pouco frio e ainda tem todas as imprevisões do tempo que estão por vir. Os agricultores estão falando que deu muitas quebras de galhos com o temporal de domingo”, observa.
Sobre a questão da desobrigatoriedade dos bancos de financiar a comercialização da uva com Empréstimos do Governo Federal (EGFs), Postal avalia como um exagero das empresas. “Tem algumas que ainda nem pagaram a produção do ano passado. Os reais financiadores das empresas são os agricultores, que entregam a uva e não sabem quando vão receber”, ressalta. Ele comenta ainda que há empresas que não pagaram a uva da última safra.
Estoque alto
De acordo com o presidente da Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul (Fecovinho), Helio Marchioro, até agora não há qualquer elemento que sinalize uma safra grande. Porém, há indicativos de que os estoques devem permanecer elevados. “Considerando as vendas que não temos e o aumento das importações, não há dúvida nenhuma de que vamos ter uva excedente em 2018”, avalia.
Ele comenta que o estoque da vindima de 2017 não está sendo comercializado conforme o planejado. Marchioro avalia ainda que o fato de não ter uma política compensatória para os setor agrava o problema, uma vez que não há incentivos para o produto brasileiro se tornar competitivo no mercado. “A desoneração tributária do produto importado gera um desequilíbrio fiscal. Nós pagamos mais tributos do que o vinho estrangeiro, e não há uma política de proteção do produto nacional”, ressalta.
O presidente do sindicato que representa a indústria do setor, Sindivinho-RS, Benildo Perini, declara que o estoque está elevado, mas ainda é prematuro fazer qualquer previsão.
Planejando o escoamento
Para garantir o escoamento da possível produção excedente, o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e a Fecovinho estão movendo ações com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). “Isso depende da dotação orçamentária da Conab”, afirma.
A política de preço mínimo, de acordo com Marchioro, garante que a uva seja vendida. “É certo que o governo terá que garantir a comercialização. Ele é responsável pela absorção do produto caso não haja comércio, sendo bastante provável que isso venha a ocorrer”, prevê.
“Expectativa é de safra normal”, avalia Didoné
De acordo com o técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Thompson Didoné, a avalição é de que realmente algumas brotações estão boas. Ele afirma que como a maior parte da produção está entrando em floração nos próximos dias, ainda é prematuro avaliar se a safra será grande ou pequena. “Se houver brotamento da flor, vai dimunuir a safra. O que a gente vê em campo é a expectativa de uma safra normal, até o momento”, analisa.
Didoné prevê que em 15 dias será possível ter uma avaliação mais precisa sobre a vindima, uma vez que a floração estará praticamente concluída. “Esperamos que não tenha frio tardio”, comenta.
Preço é obstáculo para produtores
O produtor Antônio Moro, de 78 anos, aponta para um ponto distante do Vale Aurora. “Lá está tudo abandonado, se continuar assim, aqui vai acontecer também”, prevê. Ele diz que prefere perder a uva do que vender por um preço baixo, como as cantinas têm pago nos últimos anos.
Para o agricultor Mauri Antônio Menegotto, de 57 anos, os altos estoques das vinícolas não fazem sentido. “A não ser que não venderam nada, porque até o ano passado ninguém tinha uva”, ressalta. Ele argumenta que não é possível que todas as cantinas estejam cheias apenas por uma safra volumosa. “Ano passado todo mundo ficou sem uva e pagaram horrores”, comenta.
Por outro lado, Menegotto considera que a carga tributária sobre a produção e a comercialização do vinho brasileiro prejudica o setor, uma vez que perde competitividade no mercado. “É muito imposto”, conclui. Mesmo assim, ele não vê a questão como justificativa para os estoques elevados nas cantinas.
Na opinião de Norval Petroli, de 62 anos, de fato as vinícolas estão com os estoques cheios, devido às dificuldades que o setor enfrenta pelos impostos. “Eu acho que sim, entra no Brasil os vinhos uruguaios, chilenos, que são mais baratos, é difícil”, pondera.
A maioria dos produtores salienta que a safra deve ser, pelo menos, 30% menor do que no ano passado. Eles observam ainda que algumas variedades estão boas, enquanto outras estão aquém do esperado até o momento.