Depois de chegar em mais de 1 mil casos em outubro, é notável a redução do delito. Psicóloga explica gatilhos emocionais envolvidos nesses crimes
Em publicação de dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado, em outubro, é possível notar uma redução de crimes de estelionato em Bento Gonçalves, sendo o mês dez, o de menor índice de 2021, com registro de 77 casos.
Desde janeiro havia um aumento nos delitos de fraudes e enganações, sendo 91 ocorrências, subindo para 113 em fevereiro, 145 em março e se mantendo próximo dos 100 até agosto. Em setembro, iniciou uma mudança no cenário, sendo o primeiro de uma sequência de sete meses onde o número ficou abaixo da centena, fixando-se em 93 delitos.
Agora, houve mais uma redução, sendo 15,3% a menos que o início do ano e 46,9% em relação ao mês de maior incidência de estelionatos.
Como agem os golpistas?
A psicóloga clínica e professora do Curso de Psicologia da Uniftec, Patrícia Dotta, esclarece por quais motivos as pessoas acabam se tornando vítimas desse tipo de crime que usa a enganação como base. Segundo ela, o senso de urgência é uma das ferramentas que os estelionatários mais usam. “Golpistas anunciam seus esquemas como algo incrível, que poucas pessoas descobriram até agora – mas que está prestes a estourar, e aí vai ser tarde demais para participar”, exemplifica.
Outra maneira de abordar possíveis vítimas é através da passagem de confiança. A psicóloga explica que os criminosos, quando querem obter algo, não pedem diretamente, mas vão cercando as pessoas com questões aparentemente mais inofensivas. Perguntas simples que podem entregar algo importante, como uma pista para alguma senha de banco ou cartão.
Patrícia alerta que com o crescimento do número de dados pessoais disponíveis, seja pela internet, através de redes sociais, ou de vazamento de informações privadas em ataques de hackers, os bandidos têm mais acesso a informações para realizar golpes mais convincentes.
Por que caímos em golpes?
A psicóloga explica que algumas características podem fazer a pessoa ser mais suscetível a cair em um golpe. A falta de autocontrole é um traço negativo que pode contribuir nessas situações. Além disso, ela destaca que alguns traços de personalidade, geralmente vistos como virtuosos – como confiança em autoridades e desejo de ser amigável – também são presentes entre vítimas de golpes.
Nesses casos em que se utilizam das qualidades das pessoas, criminosos podem dizer que são próximos de alguém que o indivíduo conheça, para gerar identificação. Outro truque comum é o de se passar por uma autoridade. “Golpes em que alguém se passa por um funcionário de banco ou de central telefônica aumentaram 340%, segundo a Federação Brasileira de Bancos”, comenta.
Ela ressalta que os tempos atuais de pandemia e desemprego tornam as pessoas mais vulneráveis. Essas situações críticas se tornam condições ideais para fraudadores, porque as pessoas se tornam mais suscetível a se apoiar em promessas nas quais querem desesperadamente acreditar.
A importância em denunciar
Além das artimanhas que os criminosos utilizam, muitos são enganados e sentem timidez de denunciar e registrar ocorrência sobre o delito. Segundo a psicóloga, um estudo de 2020 da Comissão Europeia revelou que 40% de vítimas de fraudes não contam o que aconteceu a ninguém. “A maioria sente vergonha de ter caído no golpe ou deixa de denunciar para a polícia porque sabe que, na maioria dos casos, não há nada que possa ser feito para recuperar seu dinheiro”, alega.
Ela reforça que essa atitude pode gerar maior agravamento no número de casos, já que com a demora ou falta de denúncia, estelionatários podem seguir ludibriando dezenas, centenas ou até milhares de outras pessoas. “Denunciar é muito importante para que outras pessoas, no futuro, não passem pelo mesmo sofrimento”, enfatiza.