A adolescência é uma fase carregada de conflitos. Sabendo disso, a professora de ciências, Ana Pedretti, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Doutor Tancredo de Almeida Neves, decidiu construir com as duas turmas do 8° ano um espaço de discussões e debates acerca desse assunto. A temática escolhida faz parte de um projeto permanente que a escola desenvolve, chamado de ‘Leitura e arte em toda parte: por um mundo melhor’.
De acordo com a professora Ana, o primeiro passo para dar andamento ao trabalho, foi pedir para que os alunos pesquisassem sobre conflitos, para entender o que é, desde o mais simples até o mais complexo. A segunda etapa foi na semana passada, quando em aula foi feito um círculo para os alunos debaterem sobre automutilação, suicídio, sexualidade, gravidez prematura, aborto, bullying, solidão e família. “Cada um relatou o que pesquisou, mas na verdade o que eu queria, era que além do relato da pesquisa eles se posicionassem sobre o que já viveram, sobre o conhecimento que eles têm de outras pessoas que já passaram por isso e realmente eu não esperava tanto, surgiram muitas palavras chaves, muitas vivencias bem pesadas deles, bem conflitantes”, relata.
Segundo a Coordenadora Pedagógica do colégio, Rosmeri Guerra, algumas matérias escritas pela reportagem do Jornal Semanário sobre o assunto ajudaram a professora Ana a ter ideias para desenvolver o trabalho. “Ela tem uma série de atividades relacionadas aos conflitos da adolescência e o que gerou isso foram as reportagens que ela vem acompanhando desde o início, porque deu a ela um norte, abriu um leque de possibilidades que podiam ser trabalhadas e que são bem sérias, a gente se preocupou bastante com as coisas que apareceram ali”, conta.
Segundo Ana, as matérias foram levadas para sala de aula para mostrar que casos como os pesquisados por eles, não acontecem tão longe. “Desde o início, quando comecei a pesquisar esses temas, veio surgindo as reportagens e eu fui levando para sala de aula para eles verem que não estavam fora do contexto, que isso acontece em outros lugares e bem perto da gente. Muitos se emocionaram, também rimos em alguns momentos”, afirma Ana.
Diante dos relatos dos alunos foi decidido fazer uma outra etapa do processo, dessa vez com os pais. Na última segunda-feira 15, eles foram convidados para irem até a escola, onde foi contado sobre o projeto, sobre como ele foi trabalhado e sobre algumas palavras dos alunos. “Não abrimos depoimentos de filhos, não expomos eles, mas pedimos que prestem mais atenção nos filhos. Também passamos a mesma tarefa para eles, de relatar os conflitos deles em relação aos filhos”, conta.
Depois das férias o trabalho vai continuar. Os alunos serão ouvidos e se preciso for, a escola vai chamar um profissional para conversar com pais e filhos juntos. De acordo com Ieda Betineli Menin, orientadora educacional, no encontro ficou combinado que se necessário, os pais serão chamados novamente. “Eles falam em temas como os da reportagem do jornal: automutilação, depressão, suicídio, solidão, isolamento. Algumas coisas nos surpreenderam, porque não acreditávamos que na nossa escola acontece isso, mas foi bem interessante. A mesma emoção que os filhos tiveram, os pais também tiveram, os filhos choraram de manhã e eles de noite. Houve relatos muito interessantes e serviu até para os pais verem que não é só na casa deles que tem problemas”, frisa Ieda.
Impressões da repórter
Ao conversar com os alunos onde esse trabalho foi desenvolvido, foi surpreendente ouvir a opinião deles sobre os temas tratados. Os alunos demonstraram muito interesse em discutir o assunto e estavam cientes da gravidade. Também demonstraram estar à vontade para falar sobre os sentimentos e dificuldades da fase em que vivem e dispostos a se ajudarem.