Se engana quem achou que olhar pro sol e o ver encoberto de fumaça seria infortúnio apenas das grandes cidades metropolitanas e que nós estaríamos fora dessa. Ledo engano.

No meu primeiro semestre de faculdade, li um livro que a professora pediu que era “Aquecimento Global”, gostei muito da obra e confesso que fiquei assustada, embora não parecesse que aquele cenário fosse ser tão real em um tempo tão próximo. Um professor, amigo meu, dizia que aquecimento global não existia, que a Terra teria seu próprio ciclo e também, assim, se renovaria. Mais uma vez, engano.

O Brasil hoje respira fumaça de norte a sul. Pelo menos 60% do país sofre com os efeitos das queimadas em nosso país e a tragédia anunciada não parece ver fim. Além de perda de biodiversidade, de fauna e flora, problemas respiratórios e declínio da diversidade brasileira, há também ações criminosas por trás disso, altamente rentáveis, impunes. O que eu lia no livro e que os especialistas diziam, há 20 anos, torna-se realidade em uma tragédia que fora premeditada.

O futuro virou presente porque no passado deixamos de agir. As queimadas, as enchentes e a poluição das cidades grandes substituíram a natureza, o verde, o céu azul; os governos cerraram os olhos para os problemas ambientes e nunca disporam de recursos capazes de minimizar os problemas oriundos das queimadas, por exemplo.

A crise climática virou atualidade. O inverno rigoroso demais, as enchentes anormais, as queimadas infindáveis, a seca do norte, tudo isso virou realidade. A crise produzida, ao contrário do que meu amigo dizia, vem da ação de mãos humanas.

O discurso da preservação não faz mais sentido. Não há economia, não há PIB, não há investimento se não houver vida. Estamos vivendo uma tragédia coletiva cuja solução também é coletiva.

Acreditar que isso não lhe afeta não vai lhe livrar. Não é uma questão partidária. É a bandeira do Brasil em chamas.

Não cansamos de bater recordes: Amazônia e outros biomas vivem o maior incêndio da história. As chuvas pretas caíram por quase todo país.

Entre janeiro e agosto de 2024, o Pantanal teve um aumento de 249% na área queimada. Agosto e setembro, os meses mais críticos, tiveram alta incidência. Na Mata Atlântica, 500 mil hectares foram queimados em agosto, um aumento de 683%, totalizando 615 mil hectares. A maioria das queimadas ocorreu em áreas agropecuárias e foram criminais. O Pampa foi o único bioma sem aumento de queimadas.

Isso devia ser tratado como crime hediondo e nossos governantes deveriam responder por isso, serem julgados. Para que continuemos respirar ar puro é preciso agir com urgência, contra o tempo. Um país que não tem leis eficazes contra crimes ambientais e nem soluções a curto, médio e longo prazo, já demonstra que a vida não é prioridade. E aí já estamos meio mortos.