Minha avó era das que sabiam tudo, sem nunca ter aprendido nada nos livros.
Sabia costurar um inverno inteiro em silêncio, sabia fazer chimia no tempo certo da fruta, sabia amar do jeito que se ensinava: com panela no fogo e bordado na mão.
Criava quatro filhos como se fossem dez e ainda sobrava tempo pra fazer crochê com os olhos miúdos e as mãos sabidas.
Aos sessenta, era velhinha de saia longa e blusa de botão, com cheiro de comida quente e mãos que guardavam o mundo.
Minha mãe veio depois, entre a costura e a máquina de lavar. Ficou em casa também, mas o tempo já era outro. Dois filhos, menos quintal, mais conta pra pagar.
Lavava, passava, cozinhava, amava do mesmo jeito: servindo, doando, sendo.
Estudou pouco — não por falta de sonho, mas por excesso de realidade. E ainda assim, foi gigante.
Eu vim depois das revoluções. Estudei até cansar os olhos, viajei sozinha pra longe, pude dirigir, aprendi a falar inglês, sei o que meu tempo e meus pais me permitiram conquistar, vivi com liberdade de escolha.
Mas não sei bordar uma flor nem fazer geleia no ponto. O amor, no entanto, herdei igual.
Cada uma à sua maneira: minha avó com linha e agulha, minha mãe com pano e sabão, eu com palavras e passos largos.
Três gerações de mulheres que viveram o amor que lhes coube, com as forças que lhes habitavam.
E quando me sento quieta, às vezes, juro que ainda sinto o cheiro da comida da vó e vejo, na toalha bordada que ficou, um pedaço do que sou.
Porque ser mãe de verdade é isso: uma entrega inteira, com tudo o que se tem, nas condições que se tem, independente da geração.
E sempre — sempre — com amor e cuidado, dando o melhor de si. Quem dera se eu fosse um pouco só como elas!