Custos para apuração e precariedade de órgãos dificultam supervisão no uso de defensivos agrícolas na região. Produtor José Concli (foto), da Linha São Luiz, utiliza acompanhamento técnico para aplicação de produtos químicos

A falta de efetivo dos órgãos de extensão e pesquisa e os entraves encontrados pela fiscalização dificultam o cumprimento da lei que regula a aplicação de agrotóxicos. Por outro lado, especialistas avaliam que existe uma conscientização por parte dos produtores rurais, que buscam fazer a utilização correta desses produtos químicos.
Na avaliação da Defesa Agropecuária do Governo do Rio Grande do Sul, em Bento Gonçalves, os produtores buscam seguir a legislação por conta da demanda do mercado. Além disso, o órgão informa que a maioria das infrações se referem ao uso indevido de produtos e a não respeitar o tempo de carência da aplicação.
Segundo o fiscal Vinicius Grasselli, a fiscalização ocorre no comércio e no uso, nas propriedades rurais. Ele observa que é muito difícil identificar irregularidades na venda dos produtos e que o custo para a análises, por exemplo, é elevado. “Hoje em dia, para tentar caracterizar o que realmente o produtor utiliza de produtos irregulares, dá mais do que R$ 1,5 mil, é um custo muito elevado. Fazer isso em todas as fiscalizações é completamente inviável”, aponta.
Ainda segundo Grasselli, os agricultores buscam seguir a legislação, uma vez que é uma demanda de mercado. “Ninguém quer ter a marca atingida por um tomate ou uma uva contaminada”, comenta.
No caso do setor vitivinícola, Grasselli pontua que as empresas enviam aos agricultores uma tabela onde consta o que pode ser utilizado. “Às vezes a legislação torna indisponível tecnologias ao produtor, aí ele não tem como fazer o controle de um inseto ou de uma doença legalmente. Mas a tendência é sempre respeitar a legislação”, afirma.

Além da fiscalização

Na opinião do presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bento Gonçalves, Monte Belo, Pinto Bandeira e Santa Tereza, Cedenir Postal, embora exista esforço por parte das entidades de pesquisa e extensão, o número de profissionais que prestam auxílio aos agricultores é baixo. “Eles se dedicam bastante, ajudam, mas é difícil porque não há o que fazer, não conseguem atender a todos”, afirma.
Para agravar a situação, segundo o presidente, as empresas que comercializam defensivos agrícolas estão mais interessadas em vender do que passar orientações úteis. “Elas contratam técnicos agrícolas e engenheiros agrônomos para trabalhar como vendedores, e não para dar assistência. Por isso, às vezes, há adubos e agrotóxicos que não seria necessário tantas aplicações. O que precisa é de um controle preventivo, de análise de solo e não só o que os vendedores querem ‘empurrar’”, argumenta.
Segundo o técnico da Emater-RS, que atua na região, Thompson Didoné, nos últimos anos a situação melhorou bastante, se comparado ao que era uma vez. “Mas ainda temos uma série de deficiências. Na questão da uva o problema é o equipamento, porque os pulverizadores utilizados são para café e citros”, analisa.
Ele enfatiza que os produtores tem buscado cumprir as exigências das vinícolas e do mercado, mas que ainda têm os que não utilizam de forma adequada. “A recomendação é de que o produtor entre em contato com um técnico de sua confiança. Assim é possível fazer a regulagem dos equipamentos, a indicação dos defensivos corretos e identificar se existe a necessidade de fazer a aplicação ou não”, indica.
Para o pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, Joelsio José Lazzarotto, ainda falta interesse dos produtores rurais para aprender novas técnicas e diminuir a utilização de produtos químicos. “Se fizer uma reunião com os produtores e disser que, hoje, aqui na Embrapa, vai ter uma reunião de campo e vamos apresentar fungicidas novos para combater doenças, não vai ter lugar para estacionar o carro de tanta gente. Se é para apresentar um novo sistema, ninguém vem, sobra lugar”, comenta.
Na sua opinião, mudar esse cenário é um grande desafio, uma vez que a própria assistência técnica não tem a qualificação necessária. “Eles não podem estar preocupados só com o controle das doenças, mas com a gestão como um todo”, argumenta o pesquisador.

 

Boas expectativas com a safra de citros

O produtor José Concli, da Linha São Luiz, produz cerca de 22 hectares de citros. A previsão para este ano é de que sua safra totalize 500 toneladas de fruta, sendo que as expectativas são boas, sobretudo pela contribuição do clima e a boa floração. “As plantas florearam bem, tivemos que derrubar bastante para o raleio”, comenta. A maior parte da produção de Concli é vendida para outros estados.

Aplicação de agroquímicos

No mercado há pelo menos 15 anos, Concli relata que é necessário manter o nível de qualidade para agradar os clientes. Márcio Concli, que auxilia na produção, relata que os defensivos, se bem aplicados, protegem as plantas de bactérias, fungos e insetos. “Se não aplicarmos, o produto desvaloriza, porque não dá uma fruta lisa”, argumenta.

 

fotos: Lucas Araldi