A gente se acostuma a viver correndo todo dia. A chegar na segunda e já ficar aguardando pela sexta. A acordar sempre cansado com o despertador. A sair sem ver o sol nascer. A chegar do trabalho depois que o sol já se pôs.
A gente vicia na tela do celular, acostuma a dormir à base de remédio, normaliza o workaholic e a agenda lotada.
A gente não prioriza a saúde mental. Acha bobagem cuidar da gente mesmo, segue perfis nas redes sociais de quem vive de aparência, aceita que o bonito é ser esteticamente preenchido.
O Rio Grande do Sul está entre os estados com pior saúde mental e maior índice de suicídio.
A nossa bela Bento Gonçalves figura entre os primeiros do estado.
Recentemente, mulheres mostraram ser o público mais atingido. Alarmantemente, o índice também incluiu crianças. Triste, desesperador, preocupante.
A gente vive correndo e acha isso normal.
Não come comida de verdade, não se exercita, engole rios de notícias falsas ou ruins.
Difícil seguir com a cabeça erguida.
A saúde mental virou urgência. Mas não pode mais ser assim.
A gente precisa parar. Precisa respirar. Precisa olhar para o lado e perguntar, de verdade, como o outro está — e se permitir responder com sinceridade também, sem medo do julgamento, sem aquela máscara de “tá tudo bem” que a gente aprendeu a usar desde cedo.
É urgente reaprender a viver. Não só existir no automático.
Cuidar da mente não é luxo, não é modismo, não é frescura. É questão de sobrevivência.
Porque não adianta cuidar do corpo, da carreira, do status, se por dentro tudo está em ruínas.
Não adianta correr atrás de tudo se, no fim, a gente se perde da gente mesmo.
É preciso reaprender a dormir em paz, a se alimentar com calma, a caminhar sentindo o chão.
É preciso voltar a conversar olho no olho, desligar o celular de vez em quando, olhar o céu, pedir ajuda, estender a mão.
É preciso desnormalizar o caos, a ansiedade constante, o burnout tratado como troféu.
Temos que ensinar às crianças que chorar é humano, que sentir é natural, que pedir colo é força. E mostrar aos adultos que não precisamos dar conta de tudo, o tempo todo, sozinhos.
É preciso falar sobre isso nas escolas, nos grupos de amigos, nas empresas, nas igrejas, nas redes sociais — não como tabu, mas como prioridade.
A saúde mental precisa sair do rodapé da vida e ocupar o espaço de manchete, todos os dias.
Só assim vamos poder mudar essa realidade.
Porque não é normal tanta dor calada, tanto sofrimento invisível, tanta vida interrompida cedo demais.
Precisamos de menos pressa e mais presença.
Menos cobrança e mais compaixão. Menos aparência e mais verdade. Enquanto ainda dá tempo.