De repente, senti necessidade de malhar a mente e, após rápida análise das ferramentas disponíveis, optei por aprender outra língua. Pensei no Italiano, mas aí eu teria que esquecer o nosso dialeto, que é tão divertido. O espanhol, por sua vez, me causa desconforto, em função de duas séries intermináveis sobre o narcotráfico que vi durante o pavoroso “Fique em Casa”. O mandarim é pra doidos. Já o francês, apesar de romântico, não é muito usual.
Estava nessa dúvida filosófica, quando percebi o Inglês me espiando atrás de uma porta da memória, quase me desafiando com seu ar de deboche e superioridade. Esse monstro me persegue do ginásio à faculdade onde Mister Müller – que Deus o tenha – se encarregou de alimentá-lo com sua atuação beligerante. Pois bem! O tempo passou, eu o chutei para escanteio, mas a criatura é poderosa e vem se infiltrando rápido e continuamente em nossas vidas, através da TV, do celular, da Internet e de tudo o mais.
Assim, como boa brasileira, decidi encarar o Inglês, para, no mínimo, entender nosso Português. E não é que o monstro se revelou legal?! Ele nem morde! Inclusive me faz sentir mais viva do que nunca, mais jovem. E mais feliz!
E não dá para dizer que é fácil. Pelo contrário. Semanalmente travo batalhas homéricas com a língua, com esta que tenho na boca, para fazer os malabarismos que os nativos da Língua Inglesa fazem, como colocar a ponta entre os dentes incisivos para arrancar o som de “th”. Mas estou cheia de atitude, afinal enfrentei “o meu medo, o meu medo, o meu medo da chuva…” (Opa! Raul Seixas numa hora dessas?!)
É claro que ainda tenho que domar o Idioma. Enquanto isso, vou pagando alguns micos aqui e acolá… O que me reporta a um deslize num bistrô… Graças a Deus, do outro lado do Oceano Atlântico. Cansada de ser apenas coadjuvante na tomada de decisões, me antecipei chamando o garçom:
-Kiss me…
É óbvio que o rapaz não atendeu ao meu pedido. Nem que eu fosse a rainha do Sabá. Acho até que ele só ouviu o “Excuse me”, que eu articulei em alto e bom som, logo depois de perceber o ato falho. E para coroar a noite com chave de ouro, pedi meu prato com “kitchen”, que ele, sabiamente, me serviu com chicken.