A segunda reportagem da série sobre a recuperação do turismo e da economia nas cinco principais rotas de Bento Gonçalves foca agora no distrito de Tuiuty
A Rota Vale do Rio das Antas, um dos mais belos destinos turísticos de Bento Gonçalves, passou por tempos difíceis recentemente devido a enchentes que devastaram a região. Entretanto, a esperança e a resiliência dos empreendedores locais, aliados aos esforços de unificação das rotas turísticas, estão ajudando a reconstruir o turismo.
Impacto das enchentes e a queda no turismo
Segundo Patricia Possamai, presidente da Rota Vale do Rio das Antas, a enchente causou um impacto significativo no fluxo turístico e nas operações dos empreendimentos locais. “Alguns empreendimentos sofreram perdas consideráveis, e o número de turistas na região já vêm em declínio desde o segundo semestre do ano passado”, afirma. A dificuldade de acesso devido aos bloqueios na BR-470 e a queda da ponte de Santa Bárbara agravaram ainda mais a situação.
Joselaine Tomasi, proprietária da Afeto Pousada, relembra que “de maio a junho, caiu totalmente a clientela”, mas destaca que a empresa está retomando. “Em julho e agosto, as pessoas começaram a retornar, conseguimos transferir muitas reservas que foram adiadas devido às enchentes. Muitos turistas que conhecem nossa região fazem questão de retorno, isso é muito importante para todo o nosso trabalho”, reforça.
Esforços de unificação das rotas
Uma das estratégias para revitalizar a região é a unificação das três rotas turísticas – Vale do Rio das Antas, Cantinas Históricas e Encantos de Eulália. De acordo com Patricia, essa união é crucial para consolidar uma região como um destino competitivo. “Nossa rota é a terceira mais visitada, mas queremos aumentar nosso número de visitantes e tornar a região uma das principais opções de turismo em Bento Gonçalves. Não queremos ser a terceira opção, uma vez que temos diversidade de empreendimentos e belíssimas paisagens”, enfatiza. A diversidade de empreendimentos, como pousadas, vinícolas, restaurantes, cachaçarias e cervejarias, reforça o apelo turístico da região.
Evandro Soares, secretário de Turismo de Bento Gonçalves, destaca que a unificação das rotas ajudará a redesenhar a identidade turística da região. “Esta estratégia alinha melhor as expectativas dos turistas com o que realmente é oferecido, fortalecendo a atração da região com um conceito mais claro”, complementa.
Desafios na recuperação
A recuperação da rota ainda é um desafio. “A região teve danos na infraestrutura, interrupções nas operações e um impacto direto nas comunidades locais, que dependem do turismo para sua subsistência. A rota vem se recuperando aos poucos e tem encontrado um pouco mais de dificuldade por conta das barreiras físicas que ainda se apresentam, como o baixo fluxo na BR-470 que leva ao ponto do Rio das Antas, assim como a queda da ponte de Santa Bárbara. A recuperação é um processo gradual, em que já foram criadas campanhas com incentivos mostrando que a região já pode ser visitada. Até que a infraestrutura seja completamente recuperada e o turismo nacional volte a fluir, o foco tem sido atrair turistas locais e regionais, para ajudar a manter a economia da região ativa”, pontua Soares.
Enquanto isso os empreendedores locais ainda lutam para recuperar as perdas. Matheus Menegotto, proprietário da Casa Bucco, cachaçaria fortemente atingida durante as catástrofes, conta que sua empresa ficou 45 dias sem acesso e energia elétrica após os desmoronamentos provocados pelas chuvas. “O turismo caiu 100% nas primeiras semanas após as enchentes, mas agora, estamos trabalhando normalmente, voltando aproximadamente 20% dos clientes à Casa”, relata. Segundo Menegotto, a maior flexibilização dos horários de tráfego na BR-470 tem permitido que turistas de cidades vizinhas retomem suas visitas, o que já está gerando mais resultados.
Roberto Cainelli Jr reforça que sua empresa foi impactada em termos de diminuição do fluxo turístico, causada pelos problemas nas estradas e o fechamento dos aeroportos do estado. “Em maio, tivemos uma redução de 98% nas visitações, mas vemos uma recuperação gradual, fechamos os últimos meses com 50% de movimento em relação ao mesmo período do ano anterior”, comenta.
Retomada gradual
A Vinícola Salton também foi afetada, apesar de não ter sofrido danos físicos. “Não tivemos, felizmente, nenhum dano nas estruturas. Assim, conseguimos auxiliar os colaboradores e parceiros que viveram impactos mais expressivos”, conta Luciana Salton, diretora executiva do empreendimento.
Segundo ela, houve uma queda de 40% no volume de visitantes logo após as chuvas, devido às restrições logísticas. “No mês de agosto, esses números já melhoraram consideravelmente, porque aos poucos as pessoas passaram a ficar mais confiantes para pegar a estrada”, afirma Luciana.
Perspectivas futuras
Apesar das dificuldades, o futuro da Rota Vale do Rio das Antas parece promissor, mesmo com fechamentos de algumas empresas nos últimos anos.
Empreendedores como Roberto Cainelli Jr. e Matheus Menegotto já planejam novas estratégias para atrair turistas. Além de campanhas nas redes sociais e participação em feiras de turismo, na região também acontecem eventos sazonais, que promovem o turismo.
Com a expectativa de melhorias na infraestrutura e no retorno dos voos vindos de Porto Alegre, os empreendedores locais acreditam que a normalização está próxima. A união de esforços e a resiliência são as chaves para superar os desafios e continuar a oferecer experiências únicas para os turistas que desejam conhecer as belezas do Vale do Rio das Antas. “Nós acreditamos no potencial da nossa região e, por isso, convidamos sempre os turistas a explorarem mais a Serra Gaúcha”, ressalta Luciana.