Emiliano Castaman, sócio do Di Paolo Pipa, fala sobre as dificuldades enfrentadas nos últimos meses, as melhorias que vêm surgindo, sua trajetória no restaurante e os novos passos da marca

Formado em Gestão de Empresas e com uma vasta experiência no setor de restaurantes, desde o atendimento até a preparação, Emiliano Castaman tem 25 anos de carreira na mesma rede. Hoje, ele é sócio do Di Paolo Pipa e compartilha sua jornada até alcançar esse almejado cargo. Além disso, Castaman fala sobre os planos futuros da empresa, os contratempos causados pelas chuvas e suas observações sobre a economia da cidade.

Trajetória

Emiliano Castaman nasceu em Tenente Portela, a pelo menos 400 quilômetros da região. Ele se mudou para Garibaldina, em Garibaldi, com a família quando tinha apenas doze anos. “Meus pais já tinham emprego, naquela época meu irmão de sete anos não podia trabalhar, e nem eu. Mas, quando fiz 13 anos, já era liberado para trabalhar e comecei em uma fábrica de móveis. De manhã ia para a escola e à tarde para o trabalho, e aos finais de semana cortava a grama dos vizinhos, colhia uva. Assim, aprendi o valor do trabalho, tem outros caminhos, mas não é o que buscamos. O trabalho é digno, talvez demore um pouco mais para realizar tudo o que se quer, mas acontece com outro sabor, gosto e sentido”, relembra.


Este ano, Emiliano Castaman completa 25 anos trabalhando com a marca, iniciando sua trajetória no Di Paolo Pipa, onde hoje é sócio

A vida daquele jovem começou cedo a ser movida pelo trabalho, e quanto mais ele colhia os resultados de suas escolhas profissionais, mais gosto tinha por continuar. “Depois, comecei a trabalhar de manhã e de tarde e a estudar à noite. Ali já começou a melhorar, o salário aumentou. Com 18 anos comprei um carro junto com o meu pai, um Fusca, aí ficou melhor para ir à aula. O trabalho começou a dar resultado. Só que essa empresa e todas as empresas de móveis daqui da Serra lá por 1999, quando já estava com 18 para 19 anos, entraram em crise. Teve uma crise muito grande na Argentina e as empresas daqui exportavam muito para lá. E esta empresa passou por dificuldades”, conta.

Ele e toda a sua família trabalhavam no mesmo lugar, e com a crise da empresa, o medo de qualquer um deles acabar sendo demitido o assustava. Por conta disso, Castaman decidiu que precisava procurar outro emprego e buscou opções. “Fazia muito tempo que observava na época o antigo Giuseppe, que hoje é o Di Paolo, que é perto da casa dos meus pais até hoje, que é em Garibaldina. Olhava alguns garçons e conhecia porque eram amigos de futebol e do bairro. Percebia que eles estavam sempre com uma roupa legal, já tinham um carro da época, e pensava: ‘esses garçons devem ganhar muito bem, é impossível conseguir emprego aqui’”, rememora.

Nesse meio tempo, ele tomou coragem de pedir um emprego para o Paulo Geremia, que lhe explicou que aquele restaurante estava com o time fechado, mas que estava abrindo outro próximo ao Pipa Pórtico e que talvez precisassem de alguém. “Na sexta-feira de manhã, de meio-dia, ligaram lá em casa, enfim, e disseram para minha mãe: ‘olha, o Emiliano deixou um telefone, um currículo e queremos que ele vá trabalhar em Bento hoje à noite lá no Di Paolo Pipa’, na época com outro nome. Só que não tinha roupa em casa, nem sapato, calça ou camisa. Como é que vou arrumar isso agora? Tinha um dinheirinho guardado para emergência, mas não para comprar uma roupa pra ir trabalhar assim em cima da hora. Aí minha mãe e minha tia, que é costureira, começaram a fazer a via sacra do uniforme. Então, o primo me deu um sapato, a tia uma calça, a mãe comprou uma camisa, enfim. Me vestiram naquela tarde e vim trabalhar”, declara.

Após pedir demissão antes mesmo de ser contratado, Castaman começou a trabalhar como copeiro, e aos poucos foi alcançando outros cargos, como garçom, caixa, auxiliar de cozinha, e em 2003 deu um passo maior. “Surgiu a oportunidade de ir pra Gramado, onde abriram um Di Paolo, e fui e fiquei por três anos. Fui para ser auxiliar de gerência, pois sabia de tudo um pouco. Comecei com uma empresa nova, estava com 23 anos e o Wagner tinha aproximadamente a mesma idade, ele continua lá até hoje como sócio. Acertamos muitas coisas, aprendemos, mas lá percebi que precisava de alguém mais maduro. Falei para o Paulo que queria voltar, acreditava que não estava sendo bom para a casa. Ela funcionava, mas não estava como é hoje. Gramado não tinha o movimento que tem hoje, era muita ociosidade.
O Sandro era gerente em Bento e foi ser sócio lá, e eu voltei. Só que o Paulo me disse que aqui não teria o mesmo cargo de lá, pois não tinha vaga, então voltei a ser garçom. Outro aprendizado, começar de novo. Ouvi comentários maldosos de alguns colegas, que deixei de ser auxiliar de gerente para voltar a ser garçom, mas entendi que foi uma escolha minha, que era necessária, e que realmente não podia me importar tanto com o que os outros pensavam porque tinha um projeto”, destaca.

Então, em 2007, Castaman foi convidado para assumir como sócio do restaurante onde iniciou toda a sua jornada. “Me tornei sócio e começou um outro aprendizado, virar a chave de ser um colaborador para ser sócio, porque muda. Precisa estudar, ir atrás, as duas funções são muito boas, mas são diferentes. E uma complementa a outra, não tem como ser o sócio do negócio se não o conhece e não sabe fazer. Tem que saber fazer para poder ensinar”, diz.

Com maiores responsabilidades vieram novos desafios, e ele buscou respostas para eles através dos estudos. “Fiz faculdade de Gestão de Negócios e depois pós-graduação. E depois vários outros cursos, muita coisa online mesmo. Nunca parei de estudar, embora a faculdade e uma pós, mas sempre fazendo curso, visitando outros restaurantes, tendo amizades também que fazemos no meio, degustando vinho, provando, tudo que fosse ligado à nossa área”, conclui.

Movimentação e frequência

Tudo ia bem, o novo projeto tinha sido mais que um sucesso e, durante os anos, foi funcionando bem, até agora. “Veio muito bem até maio, que aconteceu esse incidente das chuvas, que foi ruim para todo mundo. Então maio foi bem desafiador para todos, mas nossa perda foi não faturar, não ter clientes, apenas. Porque a cinco quilômetros para cada lado o pessoal perdeu casa, parreiras, vida, tudo. Vão ter que recomeçar do zero. Nós só perdemos faturamento”, diz.

Após o mês difícil, o próximo veio trazendo esperança para aqueles que trabalham diretamente com o turismo. “Junho já deu sinais bem positivos, melhorou bastante, só que o que precisa é o aeroporto. As estradas, 75% delas já estão abertas, a balsa, a princípio, este mês vai estar de novo colocada no lugar em São Valentim. Está tendo uma força tarefa do público e privado de reconstrução nunca vista. Em vez de achar quem deveria fazer, faz”, elabora.

Castaman entende que é preciso estar de portas abertas, porque é uma maneira de fazer com que a economia siga girando. “A função hoje das empresas que não foram afetadas é continuar trabalhando e consumindo o que a região tem, para fortalecer o estado, manter emprego e, se puder, contratar pessoas. Já acredito que em julho deverá ficar muito próximo de um mês normal, não como é na alta temporada, mas de um mês normal. Mas maio foi certamente negativo para todo mundo, e junho já deu uma melhorada, o que nos faz pensar que julho será positivo”, realça.

Comunidade

O local tem suas raízes muito fortes, um restaurante que iniciou em Garibaldi e começou a crescer na Serra Gaúcha. Por conta disso, o cuidado com a comunidade onde nasceu segue. “Ajudamos no que podíamos, atendemos os pilotos de helicópteros que estavam salvando durante uns 20 dias, sem custo. Ajudamos com comida, como muitos fizeram na cidade. Fizemos a nossa parte, colaboramos com o que sabíamos fazer, comida. Porque era um momento de união de todo mundo. Ajude, não importa quem, e não se preocupe com o retorno, a vida se encaminha”, elenca.
Por conta disso, há um certo carinho intrínseco pela cidade e pela marca. “Quando um cliente chega na cidade e pede, ‘onde é que vai almoçar?’, e alguém, que não sei quem é, sugere ao turista para vir aqui. Sequer sei quem indicou, mas ele chegou até o restaurante porque alguém o apresentou. Então, não custa para nós devolver para a comunidade através de um evento beneficente ou de uma outra ajuda. É uma maneira de agradecer à comunidade, doar um pouquinho, porque há tanta gente ajudando que não vamos conseguir agradecer a todos”, conclui.

Di Paolo – Vale dos Vinhedos

Com restaurantes situados em Garibaldi e Bento Gonçalves, surgiu a ideia de mais um local próximo: o Vale dos Vinhedos. A localidade, conhecida como o coração do turismo da região, abrigará em breve mais um empreendimento da marca. “A ideia era inaugurar entre julho e agosto, mas com todos esses acontecimentos não é o momento de abrir um negócio novo. Precisamos manter essa casa funcionando, deixar as coisas voltarem a uma normalidade e então partir para um novo projeto, porque precisamos do aeroporto. Decidimos que vamos inaugurar no primeiro trimestre de 2025. Acredito que a economia já vai estar normalizada, que o aeroporto estará funcionando. Tudo vai estar dentro do normal. E aí teremos mais tempo para executar o projeto com calma, tranquilidade, e rever algumas coisas”, explica Castaman.
O sócio também conta qual será o diferencial deste novo local e a razão da escolha do ponto. “O projeto é uma vinícola, e nós vamos produzir uvas do Vale dos Vinhedos. Vamos comprar um pouco de uva do Vale dos Vinhedos. Embora o nosso enólogo seja o da Valmarino, que continua sendo nossa parceira, eles vão vir elaborar dentro da nossa vinícola nosso vinho, no Vale dos Vinhedos, com a busca de obter uma denominação de origem Vale dos Vinhedos. Então a ideia é ter um Chardonnay, um Merlot e outras uvas”, ressalta.

Necessidades para a retomada do turismo

Para o momento, o sócio do Di Paolo explica quais medidas são importantes de serem tomadas para impulsionar o retorno do turismo à região. “Acredito que buscar os meios de comunicação, internet, televisão, mostrar que a nossa região já está pronta para receber visitantes. Ainda existe uma imagem, em nível nacional, de que estamos enfrentando dificuldades devido às recentes adversidades climáticas, mas já estamos retornando ao normal. As pessoas estão reconstruindo e voltando para suas casas. Precisamos mostrar que gradualmente as coisas estão voltando ao normal, que tudo passa. Agora, realmente precisamos que as pessoas venham, que apoiem as empresas gaúchas, que desfrutem do sul, que visitem a Serra. É importante destacar que nosso povo é um exemplo de união e resiliência”, destaca.

Futuro do Di Paolo

Além da novidade no Vale dos Vinhedos, os planos da marca incluem abrir mais três restaurantes em estados que ainda não foram explorados. “No primeiro trimestre de 2025, teremos o restaurante no Vale dos Vinhedos, junto com as vinícolas. Falando no Brasil, estão previstos restaurantes em Brasília, Rio de Janeiro e Foz do Iguaçu. Ainda não temos datas definidas, mas esses três já estão nos planos. É muito importante levar nossa culinária para o mundo, pois assim nossa cultura é transmitida. Mesmo as equipes que operam em São Paulo, por exemplo, ou em Curitiba, não são daqui; são pessoas locais que aprendem a se comportar e a entregar o que fazemos aqui. Isso inclui até mesmo falar com as mãos, nosso jeito que eles aprendem nos treinamentos e que faz toda a diferença. Exportar o galeto e a polenta através da cultura. Então, para quem já conhece e veio à Serra para provar a gastronomia local, descobrir que temos restaurantes perto de sua casa em São Paulo ou em Foz do Iguaçu fará toda a diferença”, explica.

A marca completou 30 anos em 2024, contando com 17 sócios