Dia dedicado a Santo Antônio reuniu mais de oito mil pessoas no santuário paroquial. Pedidos, agradecimento e reencontros, após as fortes chuvas do início de maio, que acabaram atingindo o município, marcaram a data que é celebrada há 146 anos na cidade

Após meses de preparação e dedicação, os festejos em honra a Santo Antônio, padroeiro de Bento Gonçalves, culminaram em uma celebração vibrante e repleta de fé nesta quinta-feira, 13. Desde o ano anterior, a comunidade se mobilizou para organizar os eventos que marcaram o dia do santo, uma tradição enraizada na cidade há 146 anos.

Os preparativos para a festa tiveram início ainda em 2023, com a divulgação dos casais organizadores. Porém, em 2024, as atividades ganharam corpo, com a comovente procissão luminosa no início de março. Seguindo-se a isso, houve o tradicional jantar de lançamento da festa, seguido por 41 visitas às comunidades e escolas do município e região. A trezena, realizada no santuário, foi um momento especial de devoção e preparação espiritual para o grande dia.

O ápice dos festejos aconteceu nesta quinta-feira, com seis missas que começaram pela manhã e se estenderam até o início da noite. A missa de ação de graças, além de marcar o encerramento das celebrações, também foi o momento de revelar os novos casais festeiros para a edição de 2025.

Após a emocionante celebração das 15h, que ocorreu ao ar livre, uma imponente procissão tomou as ruas da área central da cidade, reunindo uma multidão de fiéis que entoavam cânticos e orações em honra a Santo Antônio. Estima-se que mais de oito mil pessoas tenham passado pelo local ao longo do dia festivo.

“Devoção e amizade há décadas”

O sucesso e o brilho desses eventos não seriam possíveis sem o trabalho incansável e dedicado de voluntários, fiéis devotos e membros da comunidade em geral. Entre eles, Assis Faccin, José Carlos Fracalossi, Rui José Flaiban e Geraldo Buzza, que há décadas contribuem para a realização dos festejos.

Os três são responsáveis pela entrega dos pãezinhos abençoados, uma tradição querida pelos fiéis. Este ano, cerca de 50 mil unidades foram distribuídas ao longo do dia festivo. Para eles, o trabalho voluntário é uma maneira de expressar gratidão pela vida e pela devoção a Santo Antônio. “É a gratificação e o amor que temos por Santo Antônio. Iniciamos no início da semana, organizando tudo para conseguir atender todo mundo que nos procura de forma igual e com muito carinho. As pessoas têm muita fé, muita gratidão”, compartilha Fracalossi.

De voluntário a coordenador geral das equipes

Geraldo Buzza, por sua vez, atua há 25 anos na equipe administrativa da paróquia e há três anos coordena a equipe que fica na retaguarda da festa. Para ele e sua esposa, que auxilia na cozinha do almoço festivo, o trabalho voluntário é motivo de grande alegria. “Nos sentimos muito felizes em poder ajudar. Além disso, há bastante gente ajudando, sempre encontramos pessoas dispostas a auxiliar na festa e isso faz com que nos realizemos como devotos”, observa.

“Eu me sinto muito feliz, adoro trabalhar aqui”, diz chefe da cozinha

Na parte social, o trabalho também começa cedo. Há quase 50 anos, Maria Gemerias é a responsável em liderar o grupo de cozinheiras que, voluntariamente, se dedicam para preparar o cardápio do almoço festivo. São mais de 600 pessoas almoçando simultaneamente no complexo do salão paroquial. Ela conta que nunca foi festeira, mas sempre sentiu a necessidade de fazer algo a mais pela sua comunidade. “Lembro que fui trabalhar em um restaurante e o dono me convidou para ajudar aqui na festa e desde então não sai mais. Eu me sinto muito feliz, adoro trabalhar aqui”, afirma. Por fim, dona Maria, em um momento descontraído, reafirma sua devoção a Santo Antônio. “Sou devota, e como! Sou casada há 58 anos. Já pensou se eu não o tivesse como meu protetor?”, finaliza brincando.

Preces, agradecimentos e louvores marcaram o dia votivo

Além dos voluntários, a presença dos fiéis é fundamental para o sucesso dos festejos. Ana Paula Lemos, que participa das celebrações anualmente, destaca a importância de vir ao santuário para agradecer. “A gente agradece muito, e eu fico até emocionada ao falar. Não sou tão religiosa como gostaria, mas sempre que posso, venho participar junto com meu filho, João Vitor”, compartilha.

Outra fiel devota, Loriva Betinelli, participa das missas votivas mensalmente e carrega consigo a tradição de levar pãezinhos abençoados para seus familiares e vizinhos. “Além de buscar o pãozinho para mim, levo para os meus familiares e vizinhos, que em alguns casos são doentes e não podem vir. É uma tradição que carrego comigo”, afirma.

Junto de Loriva, sua amiga, Elza Gugel também declara a importância em celebrar momentos como este em comunidade. Sempre que pode, participa das festividades anuais. “É um prazer, como devota, estar aqui. Nas horas da angústia, da doença, nos momentos difíceis, a gente recorre a ele junto a Deus”, garante.

Freis capuchinhos: presença e bênçãos anuais

Outro símbolo importante, que é encontrado anualmente no pátio do santuário paroquial é a presença dos freis capuchinhos. Assim como Santo Antônio, os religiosos levam a mensagem e o carisma franciscano. Durante todo o dia, nas tendas, eles intercedem e abençoam centenas de fiéis que se aglomeram em longas filas para receberem a benção. O frei Blásio Kummer, que reside no Convento São Boaventura, em Imigrante, esteve presente durante todo o dia. Ele ressalta a importância da benção e o objetivo de estar junto do povo celebrando. “A importância de estarmos aqui hoje, vai ao encontro do carisma de Santo Antônio. É atender todos aqueles que, com piedade e devoção, buscam uma proteção. É uma forma de comunicar e transmitir o poder de Deus a todos aqueles que buscam esse auxílio espiritual em ressignificar a sua caminhada de fé, principalmente, neste momento difícil que estamos passando, em razão da tragédia climática”, destaca.

Bispo diocesano ressaltou a solidariedade para com o povo gaúcho

Em sua homilia, o bispo diocesano, Dom José Gislon, ressaltou a importância da celebração, a mais antiga do interior do Rio Grande do Sul. Ele destacou a mensagem de caridade e solidariedade pregada por Santo Antônio, que ecoa até os dias de hoje. “Santo Antônio no seu tempo pregou a caridade e a solidariedade. A mensagem de Santo Antônio se perpetuou em toda a humanidade. O jeito dele de anunciar a boa nova, tocando o coração das pessoas é especial. Essa dimensão tem que gerar frutos de caridade, de olhar a vida do outro. A festa de Santo Antônio deste ano tem esse sentido de fraternidade”, pontuou Dom Gislon, ressaltando o poder transformador da devoção e da solidariedade em meio aos desafios enfrentados pela comunidade.

Sentimento de alegria e ação de graças

O pároco do santuário, padre Volmir Comparin, expressou sua gratidão pelo sucesso da festividade, enfatizando que os encontros da trezena, as visitas às comunidades e o dia votivo foram completos. “As pessoas que puderam vir, vieram com esperança, buscaram força para continuar sua missão. Santo Antônio não ilude ninguém, porque ele é Deus e Deus é da verdade. Acredito que cada um possa voltar agora para a sua casa e seus compromissos dizendo: mais um ano nós conseguimos louvar a Deus e também fazermos nossa devoção a Santo Antônio. O santuário está sempre aqui (aberto) para todos”, afirmou padre Volmir, ressaltando o acolhimento e a espiritualidade presentes em cada momento da celebração.

Dom Ruffinoni e o espírito sempre jovem: “Santos nunca ficam velhos”

A presença do bispo emérito da Diocese de Caxias do Sul, Dom Alessandro Ruffinoni, acrescentou ainda mais significado à festa. Em entrevista ao Semanário, Dom Alessandro destacou a atualidade dos ensinamentos de Santo Antônio, que continuam a inspirar os jovens de hoje. “Santo Antônio amou os pobres, converteu muita gente, vivendo algumas espiritualidades importantes como a Eucaristia, a devoção à Nossa Senhora, que nós também praticamos hoje. Portanto, os santos nunca ficam velhos, sempre são atuais, porque estão cheios de Deus”, ressaltou o bispo emérito, enfatizando a perenidade e a relevância da mensagem de amor e compaixão transmitida pelo santo.

Após um ano, momento é de agradecimento, revela coordenadora do grupo de casais festeiros

A coordenadora do grupo de casais festeiros, Ana Maria Coser Mazutti, destaca o comprometimento de todas as equipes envolvidas no desenvolvimento das programações. Ana Maria revela que desde setembro do ano passado, inúmeras reuniões foram realizadas para desenhar uma festa cheia de simbolismos e significados para a comunidade católica de Bento Gonçalves. “Encerro este momento ressaltando que o nosso padroeiro é muito poderoso e querido pela comunidade e região. Cada vez mais, isso nos enche de alegria e esperança, pois ainda a fé predomina no ser humano”, afirma.

Ana Maria também aproveitou o momento para agradecer a oportunidade de ser festeira e deixa um recado aos novos casais que foram conhecidos na última missa do dia 13, celebrada às 18h. “Façam tudo aquilo que o coração sinalizar. A festa vai acontecendo naturalmente. E que bom que estes casais disseram sim para o compromisso. Se eu tivesse a oportunidade de dizer mil vezes sim para ser festeira, eu diria”, revela.

Casais e tema da edição de 2025 são conhecidos

Logo depois, foram apresentados os festeiros da 147ª Festa de Santo Antônio, que será realizada em junho de 2025. São eles: Arlindo Rizzardo e Maria de Lourdes Piletti Rizzardo; João Gentilini e Marciana Balbinot Gentilini; Marcelo Falabretti e Maiquele Vogt; Roberto Camargo Meggiolaro Júnior e Cassiane Rossini; Valentim Glanert e Alzira Fávero Glanert; Vilson Franceschini e Jucelaine Casagrande Franceschini.

E, na conclusão da Missa, padre Volmir fez o anúncio do lema da 147ª Festa de Santo Antônio, de 13 de junho de 2025: “Pelo olhar de Santo Antônio contemplamos a criação”, em comunhão com a Campanha da Fraternidade 2025, que irá abordar a encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco.

Galeria de fotos