Cerca de R$ 587 milhões é o valor que deve circular em consumo e oportunidade de negócios em Bento Gonçalves quando o ano encerrar. O valor é proveniente da renda total de 19.192 mil pessoas com 60 anos ou mais que devem fechar o ano morando na cidade. A projeção foi realizada por um estudo, “O Rio Grande que Envelhece”, realizado pela SeniorLab Mercado & Consumo+.

Martin Henkel, fundador da empresa responsável por realizar o estudo, aponta que os municípios, com poucas exceções, têm grandes tarefas estruturais e de políticas públicas para atingirem os brasileiros que envelhecem e vão viver muito mais. “Engam-se os que imagem ser apenas os jovens os motores da inovação”, afirma.

Segundo Henkel, a renda de R$ 587 milhões faz parte do somatório de várias fontes, como aposentadoria, pensão, previdência privada e salário dos que ainda trabalham. “Não é patrimônio, é renda projetada para quase 20 mil pessoas. Esse valor dá quase R$ 30 mil por ano para cada habitante da cidade que tem 60 anos ou mais. A gente sabe que muitos deles recebem muito menos que isso e outros até mais, porém, vai ser nessa média”, prevê.

Até o final do ano o público idoso da Capital do Vinho deve representar 15,7% do total da população da cidade. Segundo Henkel, essas pessoas continuam consumindo muito e no geral, são pessoas com padrão elevado de consumo. “Principalmente os novos 60+, que são os chamados de terceira idade ativa, eles compram muito. Estão comprando carro, muitos mudam de casas maiores para apartamentos menores, tentando ter uma vida mais leve. Estão viajando, inclusive chegam a fazer de duas a três viagens por ano. Dão muito valor à qualidade dos produtos. O preço é um atributo importante, mas não é o principal”, analisa.

O secretário de Desenvolvimento Econômico de Bento Gonçalves, Silvio Bertolini Pasin, afirma que a alta industrialização, colônia e agricultura forte do município, permite que as pessoas da terceira idade cheguem ao final do tempo de contribuição de trabalho com uma situação econômica mais confortável do que em outras regiões do país. “Um dos diferenciais que talvez nós tenhamos aqui, até pela característica de colonização italiana, é que a gente sempre teve o cuidado de deixar um futuro melhor para nós mesmos. Em quase todo nosso trabalho a gente procurou investir em situações que nos dessem uma velhice tranquila”, assegura.

Indústria

Atualmente o Brasil possui 31,5 milhões de pessoas nessa faixa etária. O número é equivale a 15,3% da população. Esse grupo, é responsável por 22% do consumo de bens e serviços nas famílias. Henkel destaca que ainda há muito para evoluir para atender esse nicho da população, principalmente no desenvolvimento de produtos e serviços. “Vejo um aumento do interesse da indústria para entender como fazer para oferecer boas soluções aos idosos, mas hoje, na média, não são bem servidos. Tanto que 85% dos clientes com 60 anos ou mais se declaram insatisfeitos, dizem que os produtos não são pensados para eles”, assegura.

Especificamente em Bento Gonçalves, Henkel observa que há dois setores que precisam de mais atenção, sendo um deles a indústria. O estudioso aponta que nesse ramo, a parte do design tem bastante para oferecer, principalmente os móveis planejados. “Quando se planeja uma casa, uma cozinha, um quarto para um idoso, tem que considerar questões naturais de envelhecimento. Por exemplo, a perda de força das mãos, dificuldade de fazer o movimento para abrir uma gaveta. As maçanetas redondas ou arredondadas não são adequadas porque fica difícil do idoso fazer o esforço e isso vale para os puxadores de móveis. Tudo isso pode ser mais bem pensado para tornar a experiência desse cliente na própria casa mais adequada”, orienta.

Varejo

A outra área que Henkel acredita que precisa ganhar mais cuidado é o varejo, considerando que esse público dá valor a experiência de consumo, que engloba a forma como vão ser atendidos nas lojas e como os serviços vão ser oferecidos. “Atendo várias indústrias do varejo, onde a gente faz treinamento e capacitação nas áreas de atendimento e vendas para utilizar a linguagem adequada, a forma adequada de atender um cliente 60+ na loja. A forma correta diz respeito ao que falar, como falar e a velocidade com que as coisas são faladas”, constata.

Sindilojas

Daniel Amadio, Presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sindilojas) de Bento Gonçalves, comenta que tem a impressão de que a maioria dos comerciantes focam na juventude, por ser um público mais consumista, mas afirma que com o crescimento da terceira idade é preciso pensar nesse público alvo. “Tem que pensar no que oferecer para essas pessoas, na comodidade que vai proporcionar quando entrar esse cliente no estabelecimento, ou melhor, como fazer com que o produto chegue às pessoas, porque o público idoso não quer ir até a loja, então tem que focar um pouco mais no e-commerce”, analisa.

Embora perceba que de modo geral os lojistas da cidade sejam pouco participativos quanto aos treinamentos, palestras e projetos ofertadas pelo sindicato, Amadio destaca que o comércio de Bento cresceu muito e que o problema da evasão para compras em outros municípios já não acontece como antes. “O pessoal saia daqui para comprar em Caxias e Porto Alegre, porque era melhor, tinha inovação, atendimento bom, lojas com layout bonito, agradável, comodidade. O comércio, as entidades daqui viram que estavam perdendo e buscaram trazer. Nesse sentido o comercio melhorou e avançou bastante e agora entrou em um ritmo que está buscando atualização”, frisa.

CDL

Marcos Carbone, Presidente da Câmera de Dirigentes Lojistas (CDL) de Bento, salienta que o comércio precisa estar preparado para atender todo tipo de consumidor. “O varejo de Bento vem investindo cada vez mais no diferencial do atendimento para todos os perfis de públicos, independentemente de sua faixa etária ou poder aquisitivo. Isso porque está cada vez mais consolidado o entendimento de que o bom atendimento é um fator importante para os negócios e, também, estratégia para fidelizar o cliente, sobretudo em tempos de grande concorrência e competitividade”, afirma.

Estrutura das cidades

Henkel destaca outro ponto que precisa de alerta: mobilidade urbana. De acordo com a análise que feita por ele, a maioria das cidades não foram pensadas e planejadas para que pessoas com 80 anos possam caminhar nas ruas e calçadas com segurança. “As faixas de travessia de pedestres não existem. Quando há sinaleira para pedestres, normalmente não tem tempo adequado para a travessia. Os motoristas, principalmente por desconhecimento e falta de empatia, muitas vezes têm uma forma de direção um pouco agressiva com o pedestre idoso. São detalhes que estão ao alcance das pessoas”, acrescenta.

Sobre os semáforos, o secretário de Gestão Integrada e Mobilidade Urbana (SEGIMU) do município, Gilberto Rosa diz que o tempo de cada um pode ser programado e que alterações podem ser realizadas de acordo com as solicitações que chegam até a secretaria. “Quando a gente tem uma demanda, o engenheiro vai no local e faz uma vistoria do que está acontecendo. Podemos aumentar o tempo de verde, vermelho, amarelo de acordo com a necessidade da via e a mesma coisa é o tempo do pedestre”, esclarece.

Em relação as faixas de segurança, o secretário diz que o trabalho de pintura e repintura é continuo e conta que está sendo realizado um trabalho de recuo das faixas de pedestres nas esquinas da cidade. “É para que de maior visibilidade para o motorista que está e para que realmente enxergue o pedestre. É um trabalho a longo prazo”, antecipa.