Curada desde setembro, a profissional de marketing e influencer partilha sobre seu processo com a doença
Na vida, as vezes as coisas não acontecem como planejamos e para a arquiteta e profissional de marketing, Elizandra Zatt isto não foi diferente. Em dezembro de 2023, a jovem de 29 anos recebeu uma notícia impactante. Contrariando todas as estatísticas, Elizandra foi diagnosticada com câncer de mama, após fazer os exames com antecedência devido a um histórico familiar. O comunicado veio diretamente nas vésperas do Natal pelo seu marido, que é médico. “Nunca me esqueço daquele dia. Ele me deu uns toques, e pensava que era só alguma coisa simples. Nem imaginava a gravidade”, conta.
Nascida em Arvorezinha, Elizandra carregava em si desde jovem o desejo de explorar o mundo. Aos 17 anos, mudou-se para Lajeado, onde ingressou na faculdade de Arquitetura e Urbanismo, profissão que exerceu com afinco até perceber que sua verdadeira vocação se encontrava no marketing digital. “Nessa época que me formei, vivia muitas crises de pânico, ansiedade, estava com início de depressão. Sempre fui muito voltada ao autoconhecimento, mas naquele período foi um divisor de águas”, relembra.
Segundo ela, o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal foram fundamentais para sua saúde mental e emocional. “Passei a entender que as crises não eram minhas inimigas, mas parte de mim, e aprendi a lidar com elas através de diálogos internos”, afirma.
Jornada com câncer
O diagnóstico trouxe uma série de reflexões e decisões importantes, pois o histórico familiar de câncer na família, especialmente o caso de sua avó paterna, falecida após um câncer metastático, passou a ter um novo peso. “Apesar desse histórico, nunca pensei que fosse acontecer comigo aos 29 anos. Tinha apenas alguns cistos que acompanhava, mas ninguém espera receber uma notícia dessas tão cedo. Porque diferente do que muitos pensam, cisto não é câncer”, revela.
No meio da jornada, Elizandra encontrou forças no bom humor e na leveza ao lidar com o câncer. Ela acredita que, embora o diagnóstico seja extremamente delicado, o humor tem sido uma ferramenta essencial para enfrentar a doença. “Esse humor me ajuda, e sei que não é fácil para todo mundo entender, mas ele alivia a tensão,” explica.
Compartilhando as vivências
Hoje, Elizandra está curada, mas ainda compartilha sua experiência com outras mulheres nas redes sociais, inspirando-as a buscar um autoconhecimento profundo e a valorizarem a saúde mental. “Eu comecei a sentir que eu devia compartilhar minhas vivências e naquele momento eu pedi sinais. Sinto que esses sinais foram vindo e finalmente postei meu primeiro vídeo, que foi contando que estava com câncer”, conta.
Na época Elizandra tinha três mil seguidores, hoje tem cem mil. “Foi o autoconhecimento e o suporte que construí ao longo dos anos que me deram forças para enfrentar o câncer. Espero que minha história sirva para que mais mulheres compreendam a importância de cuidar de si mesmas em todos os sentidos, antes de qualquer tempestade”, afirma.
Para Elizandra Zatt, compartilhar sua jornada contra o câncer de mama nas redes sociais teve raízes profundas. Sua decisão de compartilhar esse momento de vulnerabilidade foi uma busca por apoio e conexão real. Ela percebeu que, ao procurar referências de mulheres na mesma situação, o conteúdo disponível era muitas vezes negativo ou não correspondia à sua visão otimista e resiliente. “Quando fui buscar alguém falando sobre o câncer, alguém que me trouxesse algum alento sobre como é o tratamento, eu não encontrava nada que fosse da minha energia. Eu precisava de algo que não fosse a visão pessimista. O que eu sentia é que eu ia viver isso de outra forma, com outra perspectiva”, frisa.
Ela percebeu, então, que a sua própria experiência poderia preencher essa lacuna, oferecendo não apenas relatos sobre o processo físico do tratamento, mas também sobre como encarar emocionalmente a doença com uma abordagem mais leve e bem-humorada.
Ao postar nas redes, ela percebeu que poderia tanto ajudar outras mulheres a lidar com os desafios como cultivar sua própria força. Compartilhar publicamente era também uma forma de externar seus sentimentos, processar as mudanças e refletir sobre o impacto do câncer em sua vida pessoal e profissional. “As redes se tornaram um diário de superação, onde podia encontrar apoio e, ao mesmo tempo, inspirar outras mulheres que estavam passando por situações semelhantes”, pondera.
Cura
Elizandra compartilha que terminou seu tratamento em setembro deste ano. “Saí do tratamento oncológico totalmente curada. Acredito que a minha mentalidade ajudou no processo, o mínimo movimento que você consegue fazer a seu favor já é muito”, confessa.
Ela fala sobre como a fé teve um papel importante. “Sempre tive corpo, mente e espírito muito ativos na minha vida. Vejo mais a fé e a ideia da espiritualidade como algo que você crê, mas você não vê, então durante todo o meu tratamento oncológico, sempre fui de escrever muitas cartas e fazer um mapa de como se eu já estivesse vivendo coisas que eu ainda não vivi. É o crer sem ver. Na minha cirurgia escrevi como queria que fosse”, conta.
Ela destaca como lidava nos momentos mais difíceis. “Durante a quimioterapia, por exemplo, conversava com os medicamentos que estavam entrando no meu corpo. Em vez de brigar com os medicamentos, com a cirurgia, com as rádios, comecei a conversar com elas mentalmente. Isso fez com que tirasse aquele sentimento de angústia por estar fazendo aquilo”, comenta.
Como enfrentar o diagnóstico
Elizandra fala da melhor maneira para enfrentar o diagnóstico. “É importante a gente se acolher e entender nossos sentimentos. Acolha você mesma, mas não viva dentro de um diagnóstico. Vão vir pensamentos negativos, mas busque sempre estar indo para o lado positivo, procure ferramentas que vão te ajudar a sair desse luto. A gente precisa tratar o câncer, mas podemos viver a cura todo dia”, ressalta.
Ela destaca que compreende que teve o benefício de ser bem acolhida em casa. “Meu marido sempre me deixou muito livre para fazer as minhas escolhas durante o tratamento, respeitou o que estava sentindo, e sei que muitas pessoas não têm esse privilégio de ter uma estrutura tão sólida ao redor delas. Por isso, sempre busco contribuir para a sociedade”, pontua.
Neste contexto, ela tem planos de se aperfeiçoar como palestrante e mentora. “Quero trabalhar cada vez mais com mulheres e estar levando adiante mais motivação e transformação pessoal para a vida delas, porque sei o quanto ter um mental bem trabalhado impacta no dia a dia”, evidencia.