Sou da época em que passarinhada era iguaria. Tico-tico com polenta, o prato preferido. Não era crime comer passarinho e a gurizada ostentava a funda pendurada no pescoço.
Dizem que se um bando de caturrita sobrevoasse Bento Gonçalves e o chumbo das “dopia” não derrubasse todos, ligava-se para Veranópolis para que “as BOITO completassem o serviço”.
Veio a Lei: MATAR PASSARINHO É CRIME.
Tem “fortaia”, “codeguim”, linguiça frita, queijo e outras boas iguarias para acompanhar a polenta, sem precisar dos passarinhos.
Até os quero-queros estão fazendo festa por aí e com muita algazarra quando um gavião aparece rondando seus ninhos.
Nos postes e janelas o joão-de-barro tem suas casas e o pombo do mato e rolinha estão com seus ninhos na laranjeira.
É só colocar uma banana na janela que aparece o sanhaço o gaturamo e a saíra. Podem fazer a experiência e vão gostar.
Interessante que ouvi alguém reclamar do sabiá:
– “Os galos cantam ao amanhecer do dia mas tem um desgraçado de um sabiá que começa as quatro da madrugada!”.
Pudera! O sabiá não consegue dormir com tanta luz de poste e quando acorda bota-se a assobiar. O bichinho é inocente.
Particularmente o canto do sabiá madrugador não me incomoda e acho lindo. Melhoraria se houvessem variações de canto pois o do meu bairro já sei de cor e salteado.
Ver um sabiá-laranjeira comendo insetos no pátio da casa é uma glória. E eles estão ficando bem mansinhos, quase passando por debaixo da cadeira de quem os observa.
Eles voltaram e iremos protege-los.
Confesso que ainda sinto o sabor das antigas passarinhadas mas o prazer de vê-los tão próximos e ouvi-los cantar, mesmo nas madrugadas, é um prazer melhor.
Continuo comendo POLENTA, agora ao som de nova sinfonia.