Todos os sábados faço uma visita para meus antepassados que repousam no Cemitério Municipal de Bento Gonçalves.
Chego lá e vou perguntando: – “Tudo bem aí!”
É só silêncio, mas no coração sinto uma resposta de afeto, de saudade, de reconhecimento e tudo o mais que as boas lembranças armazenaram. Com certeza está tudo bem.
Por instrução da Dona Blandina, as fotos dos falecidos devem ser de momentos alegres e na lápide todos estão sorrindo. Ótimo!
No próximo Dia de Finados farei outra visita: não levarei flores, pois já estarão colocadas, e haverá muita gente no cemitério. Naquele dia não perguntarei em voz alta se “está tudo bem aí” pois alguns viventes poderão responder, pensando ser para eles, e outros pensarão que estou maluco, com certeza.
No silêncio, meu coração fará a pergunta de todos os sábados e certamente terei a mesma resposta: “Tudo bem por aqui”.
Um caso real muito interessante aconteceu aqui em Bento.
Uma simpática senhora, com respeitáveis cabelos brancos, relatou ter ido ao cemitério depositar flores. Demorou além das 18h. Ao tentar sair do campo santo encontrou os portões fechados e pacientemente se postou esperando a passagem de alguém pela calçada. Tinha pouca visão da parte externa e espreitava.
Já escurecia quando finalmente apareceu um transeunte empurrando uma bicicleta. Aquela senhora, colocando as mãos por entre as grades do portão, falou alto: -“Moço! Moço!”
Conta ela que o tal de “moço” atirou a bicicleta no chão e saiu em disparada enquanto ela gritava: -“Eu estou viva, eu estou viva!”
O apavorado homem foi até o bar buscar reforços e retornou.
Talvez numa futura visita aos antepassados eu possa escutar:
– “Oi Paulo. Aqui tudo bem. Obrigado pela visita”. Não fugirei.
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Nota: O Itacyr Luiz Giacomello escreverá a coluna nº 2.000. Viva!…