Ensinar com empatia, ouvir com atenção e compreender as emoções fazem parte de uma proposta educacional cada vez mais debatida: a educação respeitosa, ou também conhecida como educação positiva. Mais do que um método, trata-se de uma filosofia que busca transformar as relações entre educadores, crianças e famílias, promovendo ambientes mais humanos, colaborativos e inclusivos.
A psicóloga e professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Maria Christine Quillfeldt Carara, mestre em Educação, é uma das vozes que defendem essa abordagem. Segundo ela, a educação respeitosa ou positiva é aquela que “acolhe a criança ao escutar o que ela tem a nos dizer, a valorizar seu potencial num clima de respeito mútuo, de gentileza, de comunicação aberta e franca, com vistas ao bem-estar e ao desenvolvimento integral. Para isso, a educação precisa trabalhar com projetos voltados à educação socioemocional”, pontua.

Maria Christine Quillfeldt Carara, psicóloga e mestre em Educação

Pilares da educação respeitosa

A educação positiva tem suas bases tanto na psicologia quanto na pedagogia. No campo psicológico, ela se apoia em conceitos como bem-estar e resiliência. “Visa a felicidade, bem-estar e esperança, busca valorizar o melhor de cada indivíduo para além de aliviar o sofrimento, visa saúde emocional. Alguns dos princípios são otimismo, gratidão e resiliência”, explica a professora.
Na pedagogia, o destaque vai para a escuta ativa e empática. “Um dos principais pilares é saber escutar seus alunos com empatia, não devolver atitudes desrespeitosas e projetar suas questões mal resolvidas, saber lidar com suas emoções é fundamental ao professor e deve ser incentivado na escola através da educação socioemocional.”, complementa Maria.


Um contraponto ao modelo punitivo

Ao contrário dos métodos autoritários ou punitivos, a educação positiva acolhe a criança em suas dificuldades com empatia em momentos difíceis. “Ela respeita a lógica da criança e não devolve atitudes desrespeitosas”, pontua. Em vez de punições, a proposta é estabelecer limites com diálogo e compreensão. “Os relacionamentos interpessoais tendem a ser mais equilibrados assim como a resolução de problemas”, afirma.
Essa abordagem também reconhece que os conflitos são parte natural da vida em sociedade. A diferença está na forma como são enfrentados: com escuta, respeito às diferenças e atitudes construtivas. “Nem sempre se pensa da mesma forma, no entanto essa abordagem pode ser eficaz ao tentar resolver conflitos de modo mais empático, respeitoso no seu discurso e nas atitudes. O que não significa mudar de opinião, mas respeitar as diferenças”, reforça a professora.

Impactos no desenvolvimento emocional e cognitivo

Os benefícios dessa forma de educar são amplos e profundos. Crianças educadas com base na empatia e no respeito tendem a desenvolver relações mais equilibradas e maior capacidade de resolução de problemas. Além disso, ganham autonomia, autoestima e empatia. “Ao conhecer seu próprio valor, suas emoções e sentimentos, o jovem poderá ter mais recursos psíquicos para ter autocontrole, empatia e respeito às diferenças e ser mais colaborativo”, afirma a psicóloga.

O papel da família e da escola

A família é parte essencial nesse processo. Maria defende que os pais comecem buscando compreender a lógica da criança, abrindo espaço para a empatia e o respeito mútuo. Já as escolas precisam preparar seus professores não só com formação técnica, mas também emocional. “É necessário que os professores conheçam a linguagem dos alunos, tenham calma diante de conflitos e desenvolvam estratégias para lidar com a própria raiva”, ressalta.

Resistências e desafios

Apesar dos avanços, ainda há resistência cultural. Para muitos, a ideia de uma educação respeitosa pode soar como permissiva. Maria discorda: “Saber lidar com críticas é respeitar a opinião diferente. Educar comportamentos difíceis requer paciência e resiliência. Penso que não existe educação ideal, mas acredito numa educação mais respeitosa, ambientes mais colaborativos e inclusivos”, indica.
Segundo ela, o maior desafio está em abandonar padrões rígidos de “normalidade” e abraçar a diversidade nas formas de ser e aprender. “Ambientes muito competitivos tendem a esquecer o respeito mútuo”, alerta.
Além disso, para equilibrar o respeito à privacidade dos filhos com a necessidade de impor limites nas redes sociais, é crucial um diálogo aberto e constante, estabelecendo regras claras e justas, e usando ferramentas de controle parental com moderação. É importante que os pais expliquem as razões por trás dos limites, promovendo a confiança e a compreensão mútua.
Um adolescente que se sente à vontade para tratar sobre qualquer assunto, e que cria um forte vínculo de respeito e confiança com os pais, não pensará duas vezes antes de relatar algo que fuja ao normal.
Para pais e professores interessados em adotar essa filosofia, a recomendação da professora é simples, mas poderosa: “Respeitar as diferenças e valorizar potencial do aluno ou dos filhos talvez seja o primeiro passo”, finaliza